Paquistão: Governo se prepara para 'islamizar' o currículo escolar

Primeira fase da implementação do novo currículo envolve alunos do primeiro ao quinto ano.

Fonte: Guiame, com informações do DW e ICCAtualizado: quarta-feira, 26 de maio de 2021 às 15:13
Os alunos devem receber novo currículo escolar que introduz conteúdo islâmico. (Foto: Reprodução / AFP)
Os alunos devem receber novo currículo escolar que introduz conteúdo islâmico. (Foto: Reprodução / AFP)

A administração do primeiro-ministro Imran Khan está se preparando para implementar um sistema educacional uniforme no Paquistão, com um forte enfoque em um currículo islamizado e no ensino do Alcorão.

Liderado pelo primeiro-ministro do país, Imran Khan, o Deutsche Welle (DW) informou na segunda-feira (26) que a primeira fase da implementação do novo currículo envolve alunos do primeiro ao quinto ano.

“O plano exige que os alunos leiam todo o Alcorão com tradução, aprendam as orações islâmicas e memorizem uma série de hadith (palavras, ações e aprovação do profeta Maomé)”, relatou a emissora internacional pública alemã.

O novo currículo também estipula que todas as escolas e faculdades devem empregar um par de Hafiz (uma pessoa que memorizou o Alcorão) e Qari (um recitador do Alcorão) certificados para ensinar essas matérias.

Na segunda fase, o governo irá apresentar o novo programa de estudos com forte teor islâmico para alunos do ensino médio e, possivelmente, para alunos do 11º e 12º anos.

Ódio e preconceito

De acordo com DW, os críticos geralmente acreditam que a mudança “aumentará a influência dos clérigos islâmicos, aguçará as linhas de fratura sectárias e danificará enormemente o tecido social”.

“O currículo atual do Paquistão já contém material preconceituoso e odioso e faz referências depreciativas a várias comunidades religiosas minoritárias no Paquistão”, advertiu o ICC.

Urdu, inglês e estudos sociais foram fortemente islamizados, disse Abdul Hameed Nayyar, acadêmico de Islamabad, à DW. Ele acrescentou que os alunos também estudarão os 30 capítulos do Alcorão e uma tradução de todo o livro em um estágio posterior, além do livro sobre estudos islâmicos.

Nayyar explicou a DW que o pensamento crítico era um princípio básico do conhecimento moderno, mas o governo parecia estar promovendo ideias que são contrárias a isso por meio do programa.

Educadora baseada em Lahore, Rubina Saigol explicou durante sua entrevista com DW que "o currículo provavelmente produzirá alunos com uma visão global conservadora islâmica, que veriam as mulheres como almas subservientes que não merecem liberdade e independência."

A islamização dos currículos não se limitou às escolas, segundo fontes. Recentemente, o governo da província de Punjab também tornou o ensino do Alcorão com tradução obrigatória para todos os estudantes universitários.

De acordo com o governo provincial, escreve DW, os alunos não receberão diplomas se não estudarem o Alcorão.

Em declarações à mídia, um parlamentar do partido no poder, Muhammad Bashir Khan, disse que a islamização do plano de estudos “é o passo certo”.

“O Paquistão é um estado ideológico islâmico e precisamos de educação religiosa”, disse ele. “Sinto que mesmo agora nosso currículo não está completamente islamizado e precisamos fazer mais islamização do currículo, ensinando mais conteúdos religiosos para a formação moral e ideológica de nossos cidadãos.”

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