Recentemente casei meu primeiro filho. Que grande momento foi aquele! André e Mari iniciaram um caminho pelo qual Lidia e eu já estamos percorrendo há quase trinta anos. Ver a felicidade dos dois no momento da cerimônia foi uma sensação inesquecível! Se não houvesse outras razões, eu diria que só por isso valeu a pena permanecermos fiéis ao compromisso que nós, pais do noivo, um dia também assumimos um com o outro.
Mas a festa e as comemorações propriamente ditas, acabam. E, muito embora alimentemos expectativas de curtirmos bons momentos, esse relacionamento precisa ser provado por adversidades. Posso até mesmo afirmar com certeza, que um casamento que não tenha passado por momentos difíceis ainda não se fortaleceu o suficiente.
O problema é que muitos casamentos são construídos com níveis de compromisso tão baixos, que diante da primeira chuva desmoronam. Não dá nem tempo para a união se fortificar.
O que nos faz prosseguir é o nível de compromisso que assumimos um com o outro. Costumo dizer para minha esposa que ficaremos juntos não apenas até que a morte nos separe, mas até que o arrebatamento nos aproxime ainda mais definitivamente. '...aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus' (Rute 1.16).
Tem gente que casa pensando seriamente na possibilidade da coisa não dar certo. Este tipo de relacionamento não agüenta nem escorregão em casca de banana. O compromisso gera uma predisposição para o acerto, enquanto que a falta deste gera uma predisposição para a separação.
Devemos estar dispostos a sacrifícios para que os ajustes necessários aconteçam. É sempre mais cômodo desistir. O problema é que mais cedo ou mais tarde tudo começa de novo com outra pessoa, em outra casa, em outro lugar, mas com as mesmas dificuldades...
A gente não resolve problemas de foro íntimo mudando de mulher, de marido. Fuga não é solução. Não se resolve uma dificuldade de relacionamento fazendo de conta que ela não existe, mas enfrentando-a.
No casamento não dá para brincar de faz de conta. Maquiagem não consegue esconder por muito tempo o que acontece no coração.
Nada como conversar em busca de soluções. 'Aquele que encobre suas transgressões jamais prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia' (Pv 28.13).
A verdade às vezes dói, mas também liberta. A exposição à qual nos submetemos um ao outro acaba revelando coisas a nosso próprio respeito que nem sabíamos que existiam. Algumas qualidades, e até mesmo defeitos, dormem em algum canto escuro de nosso interior. Porém, diante da luz intensa da convivência constante, tudo se revela.
Algumas destas tendências comportamentais não vêm à tona durante o namoro e o noivado. Isto não significa, necessariamente, que os cônjuges tenham escondido estes detalhes. Pode tratar-se de algo a meu próprio respeito que nem eu mesmo sabia que estava lá.
Por exemplo: nem sempre as pessoas sabem até que ponto podem resistir à provocação. A aproximação sempre suscitará atritos e, mais cedo ou mais tarde, nos vemos reagindo a uma atitude da pessoa amada de forma que nem sabíamos que éramos capazes de reagir. Falo de reações como agressividade, impaciência, indiferença e mentira.
'O mal que não quero, este faço' (Rm 7.19). Até o apóstolo Paulo admitia ter reações não planejadas e muito menos desejadas. O que vamos fazer a respeito determinará como nosso casamento caminhará.
De todas as possíveis reações a esta descoberta um do outro, a pior delas é a fuga. Na realidade, dispensar o cônjuge é como quebrar um espelho. Se todas as vezes que, ao olhar ao espelho e ficarmos decepcionados, o atirarmos pela janela Haja espelho.
Trocar de mulher / marido é como trocar de espelho. Se tiver que trocar de mulher todas as vezes em que algo de ruim sobre mim ou sobre ela for revelado, haja cônjuge! Precisamos perceber que, ao mesmo tempo que um espelho mostra o defeito, também ajuda a consertar.
E os momentos de pós-conserto podem ser muito saborosos! Deles, muitas vezes provém descontração, sexo, dinheiro, viagens, passeios, filhos, móveis novos, etc. Creio, sinceramente, que tudo isso e muitas outras coisas, ajudam e dão brilho ao relacionamento, pois o amor precisa ser cultivado. E esse cultivo é algo consciente, fruto da vontade.
Por outro lado, o lar também é uma comunidade terapêutica. Um atrito nada mais é do que um alerta, revelando a necessidade de tratamento e cura para a alma. Visto desta forma, o atrito também pode ser bênção, funcionando como um espelho cujo objetivo é não somente mostrar as imperfeições do relacionamento, mas também acompanhar os passos para um melhor e mais saudável funcionamento do mesmo.
Por Ubirajara Crespo: Pastor da Igreja Batista Tempo de Restauração em L. Paulista, SP. Autor do livro 'Mutualidade, a Dinâmica da Vida'
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