Do crack para o púlpito

Do crack para o púlpito

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:32

Pr. Luciano Avelino da Silva

Na casa de meus pais, em Cabo Frio/RJ, somos três filhos: Valéria, minha irmã mais velha, eu e Sandro, o filho caçula. Tivemos uma infância muito conturbada, com uma mãe submissa que valorizava acima de tudo a família e, que desde a infância, foi muito tolhida.

Minha mão era espancada quase todos os dias por um pai alcoólatra que, embora humilde, sempre nos proporcionou estudarmos nas melhores escolas e nunca deixou que nos faltasse nada. Meu pai buscou nos ensinar com sua vida o que era ser um homem honesto, de quem não havia nada de mal para se falar, com exceção da bebida. Sempre vivemos muito acuados: minha mãe, eu e meus irmãos, confundindo o medo que tínhamos de meu pai, com respeito.

Tudo que eu não queria ser na minha vida era um homem como meu pai e, por isso, já no antigo ginásio, aos treze anos, conheci um "amigo" na escola que era admirado e respeitado pelos demais alunos por sua irreverência e ousadia com os professores. Esse "amigo" bebia bebidas alcoólicas, fumava maconha e era homossexual.

Com a amizade, vi alguém que era o estereótipo de um herói, que me dava atenção e me respeitava, daí achei alguém que eu queria imitar e logo estava eu também a beber e fumar maconha. Como não tinha dinheiro para comprar droga, pois não trabalhava, comecei a realizar pequenos furtos dentro de casa para satisfazer o vício e, com o passar dos tempos, fui conhecendo muitas pessoas que não somente usavam drogas, como também traficavam e pertenciam a um grupo da mais alta periculosidade.

Aos quinze anos, comecei a cheirar cocaína e, em pouco tempo, já era um alcoólatra, viciado em maconha e cocaína e, além de tudo, era ladrão. Roubava objetos e dinheiro dentro da minha própria casa para sustentar o vício.

Meus pais ficaram muito revoltados e não entenderam como é que eu, que fui criado com tanta austeridade e rigidez, poderia entrar nessa de drogas e prostituição, tornando-me então, a ovelha negra da família para quem todos diziam "não haver mais jeito".

Com dezesseis anos de idade, recém-formado em "Eletricidade Industrial", pelo SENAI, prestei o vestibular para Escola Técnica Federal de Campos/RJ e fui aprovado. Foram mais quatro anos de muita droga e inconseqüência longe dos olhos de meus pais, pois Campos distava umas quatro horas de minha cidade natal (Cabo Frio). Em outubro de 1990, já formado e com estágio concluído, fui convidado para trabalhar em São Paulo.

Chegando em São Paulo, mais distante ainda de meus pais, prosperei muito profissionalmente, quando prestei e fui aprovado no vestibular da FATEC/UNESP, onde ingressei, mas não concluí, por conta do vício. Eu me afundei mais ainda nas drogas até tornar-me também viciado em crack, além do álcool, da maconha e da cocaína.

Foram quinze anos nesta vida, correndo muitos riscos e passando por situações altamente perigosas, quando então, aos vinte e sete anos, no início do ano de 1997, com uma vida repleta de inconstância profissional, que passara a ir de mal a pior, fui despejado do apartamento que morava, por falta de pagamento. Passei a morar com amigos, mas fui despejado também, cheguei ao fundo do poço.

Fui morar com um casal de primos no bairro de Pirituba, e lá conheci abordado por uma "velhinha" com mais de oitenta anos, chamada Aurora. Ao contrário das demais pessoas, ela sempre tinha uma palavra temperada com amor para falar e atribuía este amor e carinho a uma pessoa chamada JESUS. Ela dizia que Jesus me amava muito e queria transformar a história de minha vida. Muitas foram as vezes que esta senhora chegou ao apartamento que eu morava e me via fumando cigarros e bebendo cerveja e, com muita ousadia, me dizia: "Você ainda vai ser um pregador da Palavra de Deus, um pastor". Eu dizia "amém", sem saber ao certo o que isso significava.

Conheci a Igreja Batista Menorah, à época congregação da Igreja Batista da Lapa, e Deus começou a falar comigo. Parecia que aquele pastor conhecia minha vida, pois tudo que ele falava era como uma resposta de Deus para a situação que eu estava passando. Não sei precisar quantos cultos foram necessários, mas ainda nos primeiros que participei, ao final do sermão, fui convidado a entregar minha vida nas mãos de Jesus, para que Ele a dirigisse conforme Sua vontade e, assim o fiz. Foi como se Ele tivesse tirado uma carga mui pesada de minhas costas e naquele momento, banhado em lágrimas, senti algo que nunca imaginara e esse algo era muito bom.

Em aproximadamente dois meses que freqüentava a igreja, obedecendo a todas as convocações, numa campanha de sete dias pelo ano de Jubileu, foi ministrada uma Palavra sobre batismo no Espírito Santo como sendo algo como que um selo de Deus e, que o único impedimento para recebê-lo era o pecado. Naquele momento, num ato de profundo desejo por este selo de Deus unido a muita humildade e inocência, orei ao Pai e pedi a Ele que me perdoasse por tudo que pudesse ser impedimento para receber o Batismo no Espírito Santo. Meio sem saber o que iria acontecer, comecei a sentir uma alegria muito grande dentro de mim e uma vontade imensa de adorar e agradecer ao Pai pela pessoa de Jesus e pelo amor incondicional d´Ele por mim. Daí por diante, percebi que meus lábios ficaram com uma sensação de dormência e tomado por muitas lágrimas de tanta alegria, comecei a orar em línguas e quanto mais orava, sentia como se do meu interior jorrassem rios de água viva. Foi maravilhoso! Eu reconhecia que muitas coisas ainda precisavam de mudança, mas tinha certeza de que o Senhor já estava trabalhando em mim.

Aquela senhora vibrava muito a cada dia que me via aproximando-me mais de Deus e também me perguntava quando é que eu ia me batizar nas águas. Como era novo convertido, eu dizia a ela que já era batizado na Igreja Católica e, portanto, não precisava me batizar de novo, até que, num momento de ousadia, ela com seu jeitinho simples me disse que ainda naquele ano eu me batizaria. Para que se cumprisse a palavra do Senhor proferida por Sua serva, naquele mesmo ano, às 22 horas do dia 31 de dezembroeu descia ás águas do batismo.

Mesmo congregando em Pirituba na Igreja Batista Menorah, eu já morava na Zona Norte da cidade, próximo a uma Igreja Batista Nacional cujo Pastor chamava-se Ronaldo Alves de Melo. Algumas vezes, não tinha dinheiro para tomar as seis conduções necessárias para ir até Pirituba, então ia à Igreja do Pastor Ronaldo, que no final dos cultos convidava os irmãos para orarem durante as manhãs na igreja. Depois de pouco tempo, participando das orações pela manhã, após as mesmas eu era discipulado pelo pastor Ronaldo, com quem firmei laços de profunda gratidão e amizade.

Desde o início de minha caminhada com Cristo que algumas coisas passaram automaticamente a fazer parte de minha vida, como: dízimos e ofertas, falar de Jesus a tempo e fora de tempo etc. Junto com Cristo, recebi a bênção de voltar a trabalhar e ver os caminhos, outrora tortos, sendo todos endireitados.

Muitas foram as vezes que, participando em cultos, pessoas que eu nunca sequer havia conhecido me perguntavam se eu era o pastor da igreja e, quando eu lhes dizia que não, elas respondiam que "ainda não", mas que um dia seria.   

De uma pessoa que vivia na prostituição, o Senhor "criou" um servo de Deus que se tornou alvo de muitas pretendentes em Sua casa. Um dia Ele usou uma de suas profetas para me dizer que me daria algo mui precioso no início de 2000 e, conforme a palavra do Senhor, em janeiro de 2000, na igreja Batista Nacional, "do Pastor Ronaldo", conheci uma jovem jornalista, a mulher mais linda, mais abençoada, mais inteligente, uma verdadeira serva de Deus e, que além de conceituada jornalista, também era bacharel em teologia pelo Seminário Teológico Batista Nacional. Seu nome é Myrian Rosário. De maneira singular, ela mexeu profundamente com meu coração. Nós nos conhecemos melhor, namoramos durante um ano e 18 dias e nos casamos.

No ano de 2000 também ingressei no curso de bacharelado no STBN, onde me formei em dezembro de 2003. Em 2004, nasceu nossa filha, Sophia. E, no ano seguinte, fomos ordenados pastores. Temos desenvolvido nosso ministério ensinando, aconselhando, discipulando jovens e adolescentes e ministrando para casais, como líderes de "Casados Para Sempre".

Quem me conheceu no tempo das drogas se admira ao me ver hoje. Restaurado, pai de família e escolhido por Deus para pregar a Sua mensagem de salvação. Deus tem "jeito" para todos aqueles a quem o mundo considera "sem jeito". Eu sou uma prova viva disso!

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