Nas páginas do livro “A Disciplina do Sofrimento: Resgatando Nossas Histórias de Dor”, a autora Katherine Thompson conta sobre a experiência que viveu ao lado de seu irmão.
Ele lutou bravamente contra um câncer de pulmão e só contava com a possibilidade de ser curado por Deus, mas isso não aconteceu.
Tudo começou quando a notícia chocou a todos: “Meu irmão costumava correr maratonas e gostava de caminhadas e escaladas. Ele morou na Alemanha, trabalhando no emprego dos seus sonhos como engenheiro biomédico projetando equipamentos médicos”.
“Então, num mês de novembro, ele sentiu fortes dores no peito e foi para o hospital. Depois de fazer alguns exames, os médicos lhe deram a terrível notícia de que ele tinha câncer de pulmão em estágio 4. Foi um choque total para todos”, conta a autora ao explicar que o irmão nunca havia fumado na vida para que pudesse ser diagnosticado com tal doença.
“Foi especialmente difícil para a nossa família porque ele estava morando na Europa na época, e estávamos separados geograficamente e limitados em quanto poderíamos apoiá-lo”, continuou.
‘O sofrimento faz parte da vida’
Katherine conta que seu irmão viveu 18 meses após o diagnóstico de câncer e depois veio a falecer. A situação, segundo ela, ficou mais difícil porque durante toda a sua doença ele acreditou que Deus o curaria e que ele não morreria.
“Ele não conseguia conciliar sua fé com sua experiência de vida. Durante muito tempo não se permitiu aceitar que o sofrimento fazia parte da vida, ou que Deus não o resgataria da dor que o confrontava”, escreveu.
A maioria das pessoas não estão prontas para lidar com a própria mortalidade e com a dura realidade de que nem sempre Deus vai curá-las e que a experiência pode ser dolorosa.
“Três semanas antes de morrer, ele foi fazer um check-up e o oncologista lhe disse que não o deixaria voltar para casa. Ele poderia ter apenas quatro semanas de vida e precisava ser internado no hospital para cuidados paliativos”, a escritora contou.
‘Ele conseguiu se despedir’
Depois da notícia sobre seu estado terminal, o irmão de Katherine mudou de atitude: “Ele conseguiu se despedir das pessoas e planejar sua morte. Ele começou a sentir paz”.
“Levamos minha mãe de avião para ficar com ele e, às 16h todos os dias, eu costumava ligar para conversar. Foi um momento difícil para todos nós”, escreveu.
“Somos gratos pelas pessoas preciosas da igreja do meu irmão que se revezaram ao lado dele 24 horas por dia no hospital e pela linda família que cuidou da minha mãe naqueles momentos”, continuou.
Também sou grata por ter sido a última pessoa com quem ele falou e por ter tido a oportunidade de me despedir, mesmo que isso tenha acontecido por telefone”, afirmou.
Por que queremos que Deus nos resgate do sofrimento?
De acordo com a autora, a dolorosa experiência pessoal a fez pensar por que estamos sempre tão empenhados em acreditar que Deus precisa nos resgatar de um grande sofrimento.
Manter a crença de que Deus nos curará se tivermos fé suficiente não é algo incomum para os cristãos pensarem, e é um mistério por que Deus cura algumas pessoas e outras não.
“Acreditar na cura excluindo a possibilidade de um caminho de sofrimento pode ser bastante prejudicial. Ainda sinto falta do meu irmão e gostaria que ele fizesse parte da minha vida. Ele morreu aos 41 anos”, destacou.
‘Não devemos considerar a vida aqui como garantida’
“O funeral realizado após sua morte foi uma oportunidade poderosa para partilhar a mensagem de Cristo com as pessoas com quem ele trabalhava e com a comunidade em que vivia”, disse Katherine.
“Lembrei que não devemos considerar a nossa própria vida como garantida, por isso devemos vivê-la bem. Inspirei algumas pessoas a regressar à sua fé e a uma comunidade religiosa”, prosseguiu.
Apesar da imensa dor da perda e do luto, a autora lembra que são momentos assim que trazem à tona o que há de melhor e de pior nas pessoas: “Elas podem nos dizer coisas que machucam nessas horas e não pensam antes de falar”.
Teologia do sofrimento
“Se a nossa teologia de Deus e do sofrimento for pobre e inadequada, não avançaremos”, enfatizou.
“Por exemplo, há verdade na afirmação de que Deus poderia curar meu irmão, mas isso não aconteceu. Também é verdade dizer que ele foi para Deus quando morreu, mas a maneira como ele morreu foi terrível e fiquei triste”, reconheceu.
A autora finaliza lembrando que os cristãos acreditam em muitos mitos e que eles podem ser muito destrutivos porque nos afastam da fé e da nossa confiança em Deus. “Acredito que precisamos confrontar esses mitos e enfrentá-los para recuperar a fé e a vida que Deus deseja para nós”, concluiu.
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