A Música na Bíblia

A Música na Bíblia

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:45

A música foi criada por Deus e já existia mesmo antes de haver o homem. No livro de Jó, o mais antigo das Escrituras, lemos que quando Deus lançava os fundamentos da terra, as estrelas da alva cantavam e todos os filhos de Deus rejubilavam (Jó 38.1,7). Se compararmos esta passagem com Isaías 14.12 onde Lúcifer é chamado de estrela da manhã e filho da alva, podemos entender que, mesmo antes da criação do universo, havia no céu uma hoste angelical separada para cantar louvores ao Eterno Deus, da qual Lúcifer parece ter sido o regente (Ez 28.12-15).

O homem como criatura de Deus, recebeu a música como um dom divino. Mesmo os povos mais primitivos são dotados de musicalidade. Não existe nem um povo que não tenha sua própria música, assim como não existe ninguém que não aprecie algum tipo de música. Vivemos em um universo musical onde, desde que nascemos, somos envolvidos pela música e aprendemos a apreciá-la.

A primeira passagem bíblica referente a música e instrumentos musicais se encontra em Gênesis 4.21. O texto se refere às bases da cidade edificada por Caim e seus descendentes. Entre os pilares daquela sociedade primitiva encontramos a agricultura (v.20), a indústria (v.22) e a música (v.21). Vemos nesta passagem a importância da música na vida do homem. Os profetas bíblicos eram também músicos. Durante o êxodo, a profetisa Miriã conduziu as mulheres em danças e cântico usando seu tamborim e celebrando a vitória do Senhor sobre os egípcios (Ex 15.20-21). Em 1 Samuel 10.5, Saul encontra um grupo de profetas que profetizavam acompanhados de seus instrumentos musicais. Isaías compôs canções como a encontrada no capítulo 26:1-6 de seu livro.

A música na Bíblia era dividida em instrumental (Sl 33.2,3 e 150) e vocal (Sl 98.5; 2Sm 19.35 e At 16.25). Os títulos de 55 salmos contem instruções para os regentes sobre a execução de vários instrumentos musicas e das melodias que deveriam ser utilizadas no acompanhamento.

O fator mais interessante quando observamos a música na Bíblia é a sua rica variedade e as poucas restrições quanto ao seu uso. Há variedade de instrumentos, variedade de sons e volumes, variedade de adoradores, variedade de posturas e modos, variedade de lugares, variedade de ocasiões e variedade de motivos.

Sendo a música um dom de Deus ao homem, a melhor forma de agradecer a Deus por esta dádiva é fazer música para seu louvor e Sua glória. Em Hebreus 13.15, somos exortados a louvar a Deus de duas maneiras: por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome.

A música como dever religioso – que deve ser oferecida como sacrifício de louvor – é o que nós chamamos de música sacra, ou sagrada, música de louvor e adoração. Existe, no entanto, uma música espontânea, que brota de um coração cheio da vida de Deus, através do Espírito Santo – é o fruto dos lábios que confessam o seu nome (Ef 5.18,19). Esta música, que não deixa de ser louvor a Deus, não precisa ser feita de palavras ou expressões religiosas. Ela reflete as experiências da vida de alguém que conhece a Deus e não precisa estar afirmando isto com os lábios para que as pessoas tomem conhecimento. Sua vida é uma expressão de sua intimidade com o Criador. É por este motivo que a música encontrada nas Escrituras é ampla e está relacionada a todas as áreas da vida humana.

A adoração dos judeu nos tempos bíblicos era um estilo de vida, não uma atividade confinada aos cultos realizados no templo no dia de sábado. Sendo assim, a música utilizada por eles estava relacionada a uma grande variedade de atividades diárias e era usada com diversos fins e propósitos, tais como: para promover alegria (Gn 31.27; Ec 2.1, 8-11); na guerra (Js 6 e 2Cr 20.21-22); como expressão de arte e poesia (Cantares de Salomão); como forma de protesto (Sl 73); para confissão (Sl 32 e 51); para oração (Sl 7, 38, 64, etc.); para testemunho (Sl 23, 46, etc.); para terapia (1Sm 16.14-17, 23); como dever religioso (Sl 81.1; 95.1; Is 30.29); como expressão de lamento e tristeza (Lamentações).

A Bíblia não nos fornece instruções específicas sobre estilos musicais. Sabemos apenas que instrumentos de diversos tipos eram usados pelos judeus. Estes instrumentos eram divididos em três categorias: de cordas, de sopro e de percussão. Foi o Rei Davi quem promoveu o uso de tais instrumentos, além de instituir os cantores vocais e regentes de música (1 Cr 15 e 16). Parece, no entanto, não ter havido nenhuma ordem divina para isso, senão a iniciativa pessoal e a criatividade de Davi.

No Novo Testamento, os cristãos primitivos aparentemente nem sequer usavam instrumentos na sua adoração a Deus. Isso porque o uso de instrumentos no Velho Testamento estava associado com as ofertas e cerimônias do templo, que não aconteciam nas sinagogas após a Diáspora. Desta forma, nos dias de Jesus e dos apóstolos o canto vocal à capela era o modo usado para se louvar a Deus. Alguns dos chamados pais da igreja chegaram até mesmo a considerar os instrumentos usados no Velho Testamento como símbolos da graça cristã (Eusébio, c. 260 – c. 340). Somente após a Reforma no Século 16 é que a adoração com instrumentos musicais voltou a ser aceita na Igreja Cristã.

Encontramos também nas referências bíblicas um incentivo a inovação na hinologia e nos cânticos. Vários textos bíblicos falam de ocasiões em que o povo cantou algo novo a Deus. Exemplos disso podem ser vistos no cântico de Moisés (Êx 15) e no Magnificat de Maria (Lc 1.46-56). Alguém de outra época só entende completamente as letras desses cânticos se conhecer o contexto histórico no qual eles foram escritos. Assim é também com muitos dos salmos. Por isso somos exortados diversas vezes a apresentar a Deus canções novas que mostrem ao povo de nossa época o que Ele tem feito por nós (Sl 33.3; 40.3; 96.1; 98.1; 149.1; Ap 5.9). O cântico novo surge dentro de um contexto histórico e fala ao povo da época sobre algo que Deus tem feito. Este tipo de hinologia tem o poder de revelar que Deus está vivo, está presente, atuando na história humana.

Assim, apesar de a Bíblia estar repleta de recomendações e incentivos para que o homem adore ao Criador, a única instrução bíblica específica que temos de como deve ser essa adoração é a de Jesus à mulher samaritana: “Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24).

A adoração a Deus, seja ela vocal ou instrumental, qualquer que seja o ritmo ou melodia, deve brotar no mais íntimo do ser humano como uma expressão de reconhecimento e reverência ao Criador.

*Texto originalmente publicado na Bíblia de Estudo Louvor e Adoração da Editora Fôlego, 2007

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