Alternativa C: "Os crentes estão se matando na fé"

Alternativa C: "Os crentes estão se matando na fé"

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:11

O estilo é marcado como uma forma de protesto, uma maneira de 'descarregar a raiva na caneta', como eles mesmo dizem e, aproveitando tal peculiaridade, a dupla de rap Alternativa C lança o seu álbum intitulado 'Crente que Mata Crente'. Segundo os rappers, o tema polêmico não tem nenhuma intenção pejorativa contra os cristãos e a Igreja, mas busca alertar as pessoas para o modo como estão se relacionando dentro das comunidades evangélicas.

Em entrevista exclusiva ao Guia-me, os rapper's MC Dom e JMC falaram sobre as inspirações que os levaram a compor o repertório, as participações especiais presentes no novo disco e a quebra de barreiras quanto ao estilo musical que seguem. Confira:

Guia-me: Vocês estão lançando este trabalho 'Crente que Mata Crente' agora. Como tem sido a repercursão deste trabalho entre os fãs e pessoas que estão conhecendo agora o grupo.

Alternativa C: O título do CD já tem causado uma certa polêmica, porque esse disco se chama 'Crente que Mata Crente'. As pessoas às vezes ficam meio assustadas: 'O que será isso?'. Mas de maneira nenhuma esse título é para trazer algum significado pejorativo para a Igreja. Pelo contrário, nós não viemos para separar, Jesus veio para unir as pessoas, Ele é o dono da Igreja e no coração dEle, eu creio que há a vontade de que as pessoas se aproximem do amor de Deus e permaneçam dentro da Igreja como corpo. E muitas vezes, o que eu temos presenciado são coisas do tipo: 'panelinha' no louvor ou o pastor não gosta de fulano e, ao invés de tratar bem o irmão, não trata; quando a pessoa não tem uma situação financeira boa ou um cargo alto na igreja, é desprezada. Isso é muito complicado e, ao invés de aproximar as pessoas, acaba separando.

Nós temos encontrado muitas pessoas decepcionadas com isso. O Pr. Paulo Romeiro escreveu até um livro - que nos veio à mente agora - que se chama 'Decepcionados com a Graça' e as pessoas não se decepcionam muitas vezes com a Graça de Deus, mas sim com a graciosidade do homem, porque no começo encontram aquela simpatia, aquele sorriso, mas em um momento de angústia e desespero ou no momento de querer se encaixar em algum ponto de liderança da igreja, são frustrados. Uma irmã me contou: 'O líder de louvor falou que eu não posso cantar no louvor lá da igreja, porque eu não canto bem'. Ela parou de ir à igreja e passou a frequentar um centro de macumba. Então isso é um crente matando o outro na fé. Ele mata com palavras e atitudes erradas. Eu não estou dizendo que o ser humano tem que ser perfeito, mas eu acho que o que tem que somar e fazer peso na balança é o amor de Deus, a união, atitudes que condizem com a Palavra. Eu também erro, sou pecador. Nós temos uma chance de diante de Deus e temos coloca-la sempre em prática.

Guia-me: Como surgiu a ideia de um título tão impactante para um álbum de vocês?

Alternativa C: Esse título surgiu da seguinte forma: eu presenciei fatos que, sinceramente, são lamentáveis e eu só consegui permanecer firme na fé, firme com Deus e na igreja de Cristo, porque o meu coração está nas mãos de Deus. A Bíblia fala assim: "onde estiver o seu coração, alí está o seu tesouro". O meu coração está nas mãos de Deus e ele me sustentou. Que fatos foram esses? Eu presenciei, por exemplo, um fato no qual um diácono de uma igreja conhecida de São Paulo deu uma surra umas duas surras em uma pessoa da família dele e quase quebrou as costelas dessa pessoa. Isso criou uma situação muito constrangedora para mim. Também passei por outras coisas, como fechar acordos com líderes de igrejas e essas pessoas me passarem cheques sem fundo. Mas de maneira eu guardei rancor dessas pessoas. Descarreguei a minha raiva na 'caneta' e resultou nessa música, que tem até a participação do Pr. Robson Nascimento.

Guia-me: O Rap / Hip Hop surgiu como uma forma de protesto nos EUA. Vocês mantém essa função para esse estilo musical no trabalho de vocês?

Aternativa C: Esse nosso título já é uma forma de desabafo. Em alguns eventos que a gente foi, já rolou muito preconceito, muitas vezes antes mesmo de verem a gente se apresentar. Mas depois rola uma palavra e as pessoas têm outra visão. Já aconteceu da gente ir para uma igreja e as pessoas olharem torto pra nós, por causa do nosso boné, das nossas roupas, mas depois da nossa apresentação e da nossa palavra, uma pessoa chegou pra gente falou: 'Que legal! Eu nem gostava de rap, mas agora eu estou vendo que isso é de Deus. Eu gosto de rap quando é assim, espiritual'. Por isso a gente tenta mostrar que o nosso protesto não está somente na roupa diferente e o estilo da música, mas também no que a gente apresenta ali [letras e Palavra].

Guia-me: Percebe-se que ainda há certo preconceito com estilos que "saiam do convencional" no meio musical cristão. O rap ainda sofre com isso? Como vocês lidam com este fator?

Alternativa C: Essa questão de espaço no meio gospel depende muito da postura do grupo e do indivíduo em si. No caso do Alternativa C, eu não só faço só rimas. Hoje em dia, pela graça e misericórdia de Deus as pessoas também me chamam para ministrar a Palavra em algumas denominações. Eu assumi esse compromisso com Deus e Ele me deu esse voto de confiança, até mesmo porque eu tenho certeza que o meu trabalho não é só artístico, mas também é ministerial. Por mais que queiram 'podar', criticar, se isso é ou não é de Deus... tem que ver muito quem está falando isso e com que base está falando e com qual posicionamento está falando, porque tem muita gente também que fala muito e não faz nada ou fala muito e acha que o trabalho é de Deus se passar pelo 'filtro' dela. Mas será que o filtro não tem que ser do próprio Deus. O que será que a Palavra fala referente a isso? Quando a Bíblia fala no salmo 150 que 'Tudo que tem fôlego louve ao Senhor', Deus é tão sábio e soberano que ele já colocou o 'tudo' na frase e isso envolve todo o tempo no verbo. Antigamente existia o saltério, a harpa, os símbalos e tudo mais. Hoje existem teclados, giuitarras, pianos, violinos, violoncelos, trombone e por aí vai. Será que isso tudo existia na época de Cristo? Será que Jesus se vestia de terno? O que é que tem que se renovar? A Palavra de Deus ou a mente do homem? Então essas são coisas que a gente tem que analisar.

Nenhum tipo de música deve ser barrada, a partir do momento que ela tenha base, sustentação, tenha um real compromisso com o Senhor e tenha base bíblica. A pessoa que faz essa música precisa saber do que está falando e viver aquilo que prega. Eu acredito que isso dê muito mais sustentação para a música. Fomos convidados para ministrar a Palavra e cantar em São Bernardo, e teve uma pessoa lá que foi curada naquele culto. Esses são frutos que não sou eu que dou e não é a minha música que dá. Nada é meu e tudo é de Deus. Eu quero falar para você, que pensa assim: 'Nossa! Esse irmão é crente! É religioso! Aleluia!', que se você ficar só julgando, que tudo tem passar pelo seu próprio crivo, precisa rever esse conceito. Não estou dizendo de forma alguma que eu sou o dono da verdade, mas que eu quero andar com aquele que é o dono da verdade. Deus me tem me dado sustentação e capacidade para isso.

Guia-me: O que vocês têm sentido mais forte no coração quando vão as igrejas para se apresentar e pregar?

Alternativa C: Não digo que temos sempre uma mesma Palavra, porque a Palavra de Deus se renova sempre, mas estamos baseados no Ide e isso é o que mais nos motiva. O Ide existe, porque Jesus mandou. Então não importa se vai ser na mansão ou na favela... Não importa se vai ter pastor ou qualquer outra pessoa que vai entortar o rosto e fazer cara feia para nós. O que interessa é que aonde o Senhor nos levar, vamos buscar a manifestação do poder de Deus. Ontem mesmo nós encontramos duas moças que perguntaram: 'Eram vocês que estavam na Igreja a Restauração?' e a gente respondeu que sim. Elas falaram: 'Foi uma bênção naquele dia! Deus falou com a gente! Sentimos um mover e o Senhor operou!'. Eu peço a Deus que, quando eu ouvir essas declarações, que Ele não me deixe pensar: 'Nossa! Como eu sou bom! Como foi legal o que eu fiz naquele lugar!'. Se eu pensar assim, vou ser incoerente e tolo diante da Palavra de Deus. Mas eu penso: 'Glória a Deus! O Senhor tem gerado frutos através do nosso ministério!'.

Por João Neto - www.guiame.com.br

Colaboração: Nany de Castro

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