Artista de verdade: Não Basta Somente Sonhar! Tem Que Realmente Ser!

Artista de verdade: Não Basta Somente Sonhar! Tem Que Realmente Ser!

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:46

Sempre tive muita aptidão para esportes. Desde muito pequeno tive uma agitada e intensa vida desportiva. Lembro-me de uma fase em que eu simultaneamente treinava nas equipes de futebol de salão, futebol de campo, natação, voleibol e handebol. Com meus 13 anos, lembro-me que um dos muitos técnicos me deu uma intimação: decidir qual esporte me dedicaria integralmente porque seria impossível competir em alta performance em tantos esportes ao mesmo tempo.

Com muita indignação e um pouco de dúvida resolvi dedicar-me exclusivamente ao handebol e manter a natação como complemento de preparação física. Ali, naquele momento, o futebol e o voleibol tornaram-se apenas práticas de entretenimento e não mais de dedicação e treinos. O handebol foi tomando lugar no meu dia-a-dia e numa determinada fase de minha vida, os treinos ocupavam 5 dias em períodos de 3 horas diárias e nos fins de semana geralmente tínhamos alguma competição ou jogo amistoso, portanto pensava, respirava, trabalhava e vivia intensamente aquele esporte.

Já nos primeiros anos os títulos foram chegando e minha carreira no handebol foi sendo coroada de conquistas. Chegamos a disputar torneios no Estado, depois interestaduais e competição após competição os títulos e vitórias foram sendo conquistadas. Com 16 anos integrei a seleção do Estado do Rio e mais outros títulos e experiências surgiram. Com a aproximação do vestibular, me recordo muito bem a dúvida que me assombrava. Qual profissão eu iria seguir pelo resto de minha vida? E essa é uma questão que aflige todo jovem nesta fase tão intensa da vida. Aquela decisão parece ter um peso enorme, determinante mesmo! Uma verdadeira tortura!

Com muita naturalidade, a carreira em Educação Física era algo que parecia se adequar ao meu perfil e aquilo iria prolongar meu convívio com o handebol. Mas aí uma reflexão mais apurada, diria até que muito racional para um adolescente, marcou profundamente a minha vida. Mesmo com todas as minhas conquistas. Mesmo com habilidades próprias para a prática do handebol. Mesmo amando intensamente o esporte. Mesmo integrando um grupo de elite, uma equipe de alta performance. Eu tive o senso crítico de perceber que minha estrutura física, no alto de meus 1,70m e poucos à época não me faria um atleta com possibilidade de competir numa categoria superior de profissionais.

Até hoje me impressiono com este amadurecimento que, sem dúvida, foi um carinho especial de Deus sobre minha vida. Por mais que eu amasse e tivesse habilidades especiais para o esporte, quando passasse para uma categoria superior de competição meu biótipo estaria abaixo do exigido e, portanto, fora dos padrões. Poderia me esforçar mais e me superar? Sim poderia, mas valeria à pena?

Toda essa introdução auto-biográfica-desportiva é para comentar algo que tem me impressionado muito nestes últimos anos: a falta de senso crítico de postulantes ao estrelato musical gospel. Vocês, 21 leitores do Observatório Cristão (agora que conseguimos a adesão do @donruy), sabem que constantemente estou viajando pelo país participando de eventos, palestras, shows e reuniões. E em praticamente todas estas viagens além de minha bagagem costumo trazer ‘pesos extras’ de CDs e DVDs de pessoas que com muita esperança me entregam seus projetos para que eu possa avaliar e ver a possibilidade de através daquele material ser contratado pela gravadora.

Aproveitar essa oportunidade, sem dúvida, é muito importante. O contato com um executivo de gravadora é algo que sempre deve ser buscado. A questão é: estes postulantes ao universo artístico verdadeiramente têm talento e condições de seguir numa carreira artística? A resposta que posso adiantar a vocês é que a grande maioria destas pessoas não tem a menor possibilidade de seguir numa carreira artística.

Também é de conhecimento de vocês a enorme quantidade de CDs e DVDs que recebo pelo Correio no escritório. Em minha sala tenho uma ‘Muralha da China” com uns 600 CDs cuidadosamente arrumados aguardando que um dia eu consiga um tempo para analisar melhor o projeto. Sempre reservo um tempo para fazer isso, mas a percepção que tenho é de que estou perdendo de goleada nessa disputa para a ‘Muralha’. Com isso quero dizer que a quantidade de pessoas sonhando em se tornar a nova Cassiane, a nova Aline Barros, Damares, Kleber Lucas ou o OficinaG3 é cada vez maior, mas a possibilidade de isso acontecer é particularmente bem pequena. E isso se deve ao simples fato de que tem muita gente que sonha, mas pouco se prepara, pouco estuda para criar um estofo de conhecimento musical. Muita gente almeja estar nos palcos do país, mas o conjunto da obra: talento + qualidade + conhecimento + carisma estão muito abaixo do mínimo exigido.

Eu também queria ser um grande atleta, disputar uma Olimpíada, viver exclusivamente do handebol, mas num dado e rápido (misericórdia purinha de Deus! Eita glória!) momento percebi que esse sonho não seria concretizado e poderia se tornar um pesadelo! Infelizmente muita gente tem transferido a responsabilidade para o A&R da gravadora. Muitos “artistas” querem que as gravadoras invistam nos seus sonhos sem que tenham exercitado o senso crítico se vale mesmo a pena a insistência na carreira.

Agora com a facilidade do contato pelas redes sociais, tenho recebido diariamente pessoas pedindo para que eu analise músicas, assista vídeos, receba CDs, atenda-os pessoalmente em reuniões e toda sorte de aproximação. Particularmente tento ouvir, tento conferir clipes e tudo mais, no entanto pouquíssimas são as surpresas positivas! E o pior, muitos me pedem opiniões e quando com sinceridade minha opinião é transmitida, nem sempre a receptividade é tão simpática. Já tive casos de tuiteiros que me praguejaram, outros que discordaram veementemente e em público de minhas observações. Teve um caso de um pseudo cantor que começou a detonar todos os artistas de meu cast comparando-os ao seu talento pessoal e, ainda dizendo que um dia … “eis que vos digo: tu irás me procurar com um contrato e uma caneta na mão! E eu te direi … Não! Não quero nà £o! Porque no deserto me desamparaste e agora você vai ficar na platéia me vendo cantar no palco de meu sucesso!... Sim! Isso até parece música pentecostal, mas é verídica esta experiência. Talvez não tão poética como acabei de descrever mas a síntese é essa mesma!

Como já passei da fase de querer agradar a todos, se é que já tive essa fase, procuro deixar muito transparente minhas opiniões e análises. No entanto, tem muito artista que preferiria ouvir de mim algo do tipo: “Jamais ouvi um CD como este! Que fotos lindas! Que encarte fantástico. Uau, essa música sobre chuva é algo que jamais ouvi! Quanta inovação! Essa imagem desfocada foi uma licença artística? Fenomenal! E essas roupas? São uma proposta vintage? Que genial!!!” E tem também aqueles que me entregam os seus CDs pessoalmente e querem ali mesmo, às vezes em meio a eventos, que eu saque um contrato para ser assinado à queima roupa! Não! Não é exagero! Ou seja, não é mole minha posição e tem muita gente que não facilita nada minha situação!

Mais uma vez escrevo um texto a milhares de metros de altitude. Agora esse momento criativo é redigido entre as cidades de Manaus e Belém. E como o piloto já avisou de nosso procedimento de descida, vou finalizando esse post e torcendo para que o recado seja bem compreendido!

Por Mauricio Soares, publicitário, jornalista, consultor de marketing e diretor executivo da Sony Music Gospel no Brasil

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