
Recentemente entrevistei uma cantora jovem, bem mais nova que eu, mas que já possui a incrível marca de 8 CD’s gravados e uma infinidade de outros projetos. Fiquei tão surpreso com a quantidade de produtos que ela produziu em tão pouco tempo, que me vi obrigado a fazer algumas contas, chegando a conclusão que ela lançou no mínimo um álbum por ano, em média.
Não é o caso desta cantora, já que todos os seus projetos são de alto nível, mas em muitos casos a obrigação de lançar um produto dentro de um prazo pré-determinado, trazem para o artista um perigoso peso de responsabilidade que pode ser mortal à sua criatividade.
Criatividade não tem prazo de validade e está diretamente ligada à vida e sentimentos de seu criador. Há uma diferença entre criar em dias ruins e ser obrigado a criar.
Quando somos obrigados a criar, gastamos menos tempo no ajuste fino, ou seja, no refinamento da obra, enquanto que a criação em tempos difíceis, muitas vezes representa a obra prima do artista, pois revela um dos momentos em que, fragilizados, nos tornamos mais sinceros, realistas, mais verdadeiros.
Quantas vezes ouvi canções maravilhosas e pesquisando, vi o relato de seus compositores que testemunhavam sua fragilidade no momento daquela composição.
Há poucos dias, a filhinha de um grande amigo voltou para os braços do Pai. Ela nasceu prematura e infelizmente seu pequeno corpo não resistiu.
O que me impressionou, no entanto, foi a força de seus pais. Li um texto emocionante fruto de seu sentimento que expressava a verdade, dor traduzida em palavras, alimentando a fé de seus amigos e leitores. Fui edificado!
Estaria mentindo se afirmasse que produção com prazo anula a criatividade, mas não tenho dúvidas que há uma limitação. O ditado diz que a pressa é inimiga da perfeição e no caso das manifestações artísticas esta é a mais pura verdade.
O que não significa que de repente, em poucos segundos, você não seja capaz de criar algo totalmente inovador, nunca pensado antes, que irá revolucionar o mundo. Esta, sem dúvida é a beleza da criatividade. Ela não tem prazo, não tem hora, pode vir depois de dias, meses ou anos, mas pode ser agora e novamente no próximo segundo, em um piscar de olhos ou no abrir da mente. O mais importante é que você esteja preparado para quando ela vier. Não seja refém do tempo, viva criatividade. “Que o Deus da vida, da alegria, do tempo e da criatividade o inspire.”
Por Felipe Barros (Produtor, diretor de arte, compositor e líder do grupo Fluir) - Lagoinha.com