Leonardo Gonçalves promove reflexão num estilo "cristão contemporâneo", como define o próprio cantor

Leonardo Gonçalves promove reflexão num estilo "cristão contemporâneo", como define o próprio cantor

Fonte: Atualizado: segunda-feira, 31 de março de 2014 às 11:52

Da Redação

Membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, o cantor e compositor Leonardo Gonçalves tem experimentado uma das valiosas promessas de Deus: "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano, o que Deus tem preparado para àqueles que o amam" (1 Co 2:9). Após o sucesso de "Poemas e Canções", sobretudo da faixa "Gestsemâni", Leonardo ganhou o Troféu Talento 2008 na categoria revelação masculina.  "Quando lancei o primeiro disco, nunca pensei que fosse vender muito. Nunca nem pensei que fosse ultrapassar as barreiras da minha denominação", afirma o cantor, em entrevista exclusiva ao Portal Guia-me .

Leonardo também comentou sobre o seu estilo diferenciado em meio a homogeneização do cenário da música gospel e adiantou o lançamento do próximo trabalho totalmente em hebraico, cujo objetivo será estreitar os laços com a comunidade judaica. Segundo ele, "o ramo natural continua aí esperando ser enxertado na videira que é Jesus Cristo".

Guia-me: Como foi a experiência de louvar a Deus no Credicard Hall?

Leonardo Gonçalves: Já havia cantado outras vezes, mas nunca com o "nome no cartaz". No ano 2000, tivemos um evento no Credicard Hall e em 2004, gravamos um DVD (Desejado das Nações). Já estava familiarizado com o local, mas a emoção de ter um espaço de 40 minutos para cantar o meu repertório para um público em sua maioria, como eu imagino, da Aline Barros, foi uma oportunidade até hoje única de mostrar o meu trabalho.

Guia-me: Houve ansiedade por se tratar de um evento numa das casas de shows mais conhecidas do Brasil ?

Leonardo Gonçalves: Nervoso eu não fico mais. Mas fico muito ansioso. Dá aquela tremida de ansiedade. Será que eu vou conseguir me esvaziar de mim mesmo? Será que o Espírito Santo vai me usar como um instrumento mesmo? Essa ansiedade sempre existe. Ela existe tanto no Credicard Hall quanto numa Igreja de bairro.

Guia-me: E ansiedade por saber que iria cantar num mesmo evento que a Aline Barros?

Leonardo Gonçalves: Houve um pouco no sentido de que a Aline domina qualquer palco no qual ela pisar - ela tem muita presença e experiência. Eu nunca tinha tido uma experiência num palco tão grande para um auditório tão grande e num período de tempo também tão grande. Já tinha cantado uma ou duas músicas, mas essa responsabilidade de fazer as pessoas prestarem atenção e refletirem por 45 minutos foi um grande desafio.

Tem um outro detalhe: eu não tenho outras apresentações com banda. Para mim, já é estranho cantar com banda. Eu gosto muito, mas não tenho tanto hábito. Foram vários fatores "humanos" de estranhamento.

No entanto, a Aline já está muito acostumada. Um dos meus receios era que houvesse muita diferença entre ela e eu. Claro que ia ter uma diferença, eu não estava preocupado com isso, mas que não fosse uma diferença muito gritante do ponto de vista profissional, de presença e de apresentação entre a parte dela e a minha.

Guia-me: Em seu blog, você disse ter se impressionado com repercussão gerada por se apresentar no mesmo evento que a Pra. Aline Barros. Na sua opinião, por que houve, ou há, esse "estranhamento" por parte daqueles que acompanham o seu ministério?

Leonardo Gonçalves: Toda pessoa que faz um trabalho diferenciado, no sentido pioneiro, vai enfrentar mais barreiras e resistência. Dentro da minha denominação, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, o meu trabalho é por muitos considerado revolucionário - não necessariamente no sentido positivo (risos). Isso eu compreendo como manifestação natural do ser humano. Eu nem posso dizer que as pessoas estão erradas. Eu não me sinto injustiçado, não tenho mágoa nem raiva. Eu amo a minha Igreja, sou adventista convicto. Existem 1,5 milhão de adventistas no Brasil. É a primeira vez, desde Alessandra Samadello, que tem algum cantor ou músico adventista que está sendo reconhecido fora das fronteiras da Igreja Adventista.  

Eu já havia cantado com a Aline Barros duas vezes antes. Eu interpreto os comentários negativos como, quer queiram ou não, parte da minha função de representar a Igreja Adventista para outras pessoas e denominações. O primeiro contato de muita gente com a Igreja Adventista é através das minhas músicas. Você acaba se tornando algo como um porta-voz. Entretanto, eu não sou exatamente o que muitos adventistas gostariam de ver como um porta-voz. Sou novo, solteiro, tenho uma série de diferenciações musicais. Nem todo adventista acredita que essa deveria ser a música adventista.  Eu, sinceramente, não estou preocupado em fazer música adventista. Quero fazer músicas que elevem os corações, independemente de ter a cara de uma ou outra denominação.

Muitos podem não estar gostando de eu estar me tornando porta-voz para uma razoável quantidade de pessoas, do que é ser adventista. Quem sabe eles, como adventistas diferentes de mim, pensam que deveria ser alguém semelhante a eles para representá-los. Isso é completamenre humano e compreensível. É uma das coisas pelas quais tenho que conviver, mas acredito que uma das missões que Deus tenha me chamado para fazer é justamente mudar a imagem que as pessoas têm da Igreja Adventista. Me sinto também usado nesse sentido.

Guia-me: Pode-se dizer que a música gospel brasileira hoje alcança uma popularidade incrível. Como você enxerga essa massificação?

Leonardo Gonçalves: Primeiro temos que entender que o mercado, a indústria, inclusive a quantidade de evangélicos que existem hoje, não é a mesma que houve há 15, 20 anos. Se existisse o mesmo número de evangélicos há 20 anos como existe hoje, quem sabe João Alexandre teria vendido a quantidade de CDs que Aline Barros, Diante do Trono e Trazendo a Arca vendem. Para ser músico evangélico antigamente, você teria que ser o "louco" chamado por Deus. Você sofria uma série de empecilhos para conseguir ser um ministro. Ministro até mesmo no sentido profissional - de se dedicar somente a isso.

Muitas vezes, a gente olha para os artistas e acha que está tudo errado. Mas veja, por exemplo, o álbum "Som de Adoradores", da Aline Barros: ninguém forçou o povo a comprar o CD. As pessoas que criticam os maiores ícones da música evangélica, não tem como culpar os artistas. Eles são uma conseqüência de algo que vem de muito antes.

Dentro deste cenário, eu me vejo como um iniciante. Eu estou observando muito, querendo aprender, ficar com aquilo que é bom e fazer uma análise profunda de onde estou entrando agora, da minha vida, de onde eu venho e orar a Deus para que Ele continue me guiando. Eu acho que é isso que faz a maior diferença.

Eu volto a dizer categoricamente: espero que as pessoas não consumam músicas evangélicas pelo fato de gostarem. No caso da música evangélica, não acredito muito em entretenimento cristão e sim naquilo que sacia a nossa sede, que nos abençoa.

Eu acredito que existem vários tipos de músicas para momentos diferentes. O que eu gostaria de apontar como um problema é que aparentemente cada vez mais as pessoas tem buscado o mesmo tipo de coisa. O grande lance e não nos tornarmos unilaterais.

Hoje está em voga o louvor e adoração - o que não tem nada de errado, nós devemos louvar e adorar. Mas no meu caso, o que eu faço não é louvor e adoração.

Guia-me: Como você classificaria o seu estilo?

Leonardo Gonçalves: Eu descreveria como uma música cristã contemporânea, embora isso englobasse tudo (risos). É um termo universal.

A minha música tem o objetivo, até mais do que o evangelístico, de manutenção. Aquele cristão que já é cristão há tempos, mas que precisa ainda de propósitos dentro da vida dele, vai encontrar nas minhas músicas alguns ensinamentos que eu creio serem interessantes para o fartalecerem nesse sentido.

A minha música não é para cantar junto. Ela é para ouvir, refletir e chegar a conclusão mais óbvia de todas: precisamos buscar mais a Deus. A minha música tem um objetivo, sem querer soar arrogante, pedagógico. Talvez até mesmo pela minha formação em letras.

Quando as pessoas cantam alguma música do meu repertório, é porque elas já ouviram muito. Não há um incentivo para que o povo cante junto até mesmo pela maneira da minha interpretação. Existe um momento de cantar junto e outro de ouvir. Eu acho que a minha música se insere mais nesse segundo momento. As minhas músicas são como sermões cantados. É algo por aí.

Guia-me: Você pode comentar o porquê do número 7 nas suas apresentações?

Leonardo Gonçalves: O número 7 tem três razões: eu nasci no dia 7 do ano 1979 - não foi 1977 (risos). Outra coisa, a mais importante, é que o 7 é o número da perfeição. E terceiro é por ser uma maneira lúdica e engraçada de me relacionar até mesmo com o nome da minha denominação - Igreja Adventista do Sétimo Dia.

É bom deixar claro também que não há nada de cabalístico. Apenas faz parte da mensagem que eu quero passar.

Guia-me: Sempre que você se refere a Deus, você o menciona com um hífen no lugar do "eu" (D-s). Você pode comentar essa escolha?

Leonardo Gonçalves: Dentro da tradição judaica, a palavra Deus é o equivalente em português do tetagrama sagrado. O tetagrama sagrado, que a gente fala tanto (Jiavé), só era pronunciado em Israel uma vez por ano - no dia da expiação. Existe uma série de atitudes de respeito. Os copistas antes de escreverem esse nome faziam uma oração, lavavam as mãos e dependendo do grupo pelo qual pertenciam, tomavam banho e só assim escreviam esse nome. É uma maneira de respeito.

O judeu até hoje não escreve Deus por extenso. Por se tratar também do hebraico em que não existem as vogais, a gente as omite.

Eu estou muito ligado em construir pontes com o mundo judaico. Eu sou adventista, mas congrego num templo judaico adventista. É uma congregação pequena de 50 membros.

Estou lançando um CD, daqui um ou dois meses, inteiro em hebraico. Tando o objetivo da grafia D-s quanto desse CD é construir pontes. Por dois mil anos, o cristianismo voltou às costas para o judaísmo, dizendo que eles são amaldiçoados por terem matado a Jesus. Isso biblicamente é um absurdo, pois nehuma maldição ultrapassa a terceira ou quarta geração.

Já é tempo de dialogar. Queremos evangelizar o mundo, mas precisamos criar pontes para que haja possibilidade de diálogo com os judeus. Como Paulo disse, somos o ramo enxertado, não somos o ramo natural. O ramo natural continua ai esperando ser enxertado na videira que é Jesus Cristo.

Guia-me: Embora o seu próximo trabalho seja um CD em hebraico, você já gravou uma música em hebraico, "Nachamu Nachamu",  em que são abordados versículos do livro de Isaías 40.  Por que esse capítulo especificamente?

Leonardo Gonçalves: "Consolai o meu povo, diz o Senhor". Isso é algo comum a várias igrejas. Nós acreditamos estar vivendo o tempo do fim, em que Jesus Cristo em breve voltará. Todo olho o verá, e Ele nos levará para um lugar em que não haverá mais morte, nem sofrimento, nem dor. Parte integral para prepararmos o caminho para que o Senhor possa voltar, eu creio que seja consolar o povo de Deus que está desconsolado. Só no muro das lamentações em Jerusalém, você vê o desespero de um povo que há dois mil anos não tem perdão, porque não tem sacrifício, não tem santuário.    

Guia-me: Você lançou dois álbuns até agora: "Poemas e Canções" e "Viver e Cantar". Qual a principal diferença dos dois?

Leonardo Gonçalves: A escolha do repertório é a fase mais importante na gravação de um CD. Tudo o que vai acontecer de arranjo é em razão do repertório. Eu fechei o repertório de "Poemas e Canções" em agosto de 2000 - na época tinha 20 anos de idade. Já o repertório de "Viver e Cantar", eu fechei em agosto de 2006. Foram seis anos de um trabalho para o outro. Qualquer ser humano, principalmente dos 20 aos 26, tem a obrigação de amadurecer.

Eu acredito que esse segundo CD retrata de maneira mais completa e profunda a minha relação com Deus. Tudo que aconteceu musicalmente no CD é uma conseqüência disso. Ele é mais intenso, embora siga os mesmos princípios do trabalho anterior.

Não há nesse CD uma música que vá alcançar o que a música Getsemâni alcançou. Getsemâni é uma exceção. O momento que ela surgiu, fazia tempo que não tinha uma música boa falando sobre cruz, coincidiu com época do lançamento do filme "Paixão de Cristo". Foi a convenção de várias coisas. Se Deus quiser fazer isso de novo, Ele pode. Mas nem o assunto ressureição é tão universal quanto o assunto da cruz. Eu não espero que isso aconteça uma segunda vez, mas se acontecer, louvado seja o Senhor.     

Guia-me: Você esperava ganhar o Troféu Talento na categoria Revelação Masculina? O que de fato representa esse prêmio?

Leonardo Gonçalves: Não imaginava. Jamais imaginei que pudesse ganhar algo por voto popular e que pessoas de fora da Igreja Adventista conheciam e apreciavam o meu trabalho e eram abençoadas por meio das minhas músicas. Fiquei muito surpreso e feliz. Na verdade, o troféu significa nada. O que significa é cada voto. Cada pessoa que votou, imagino que seja um voto de confiança no meu ministério. Nunca nem pensei que fosse ultrapassar as barreiras da minha denominação.

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