Numa das últimas cenas do filme “O Resgate do Soldado Ryan”, o capitão John Miller – Tom Hanks – dirige-se ao próprio Soldado Ryan – Matt Damon – e pede para que ele faça por merecer todo o esforço dos outros soldados que dedicaram sua vida ao seu retorno para casa. Para quem não assistiu a este filme, a produção de Steven Spielberg considerada a mais fiel e intensa reprodução do desembarque das tropas aliadas em pleno Dia D na Praia de Omaha, costa da Normandia, conta a história de um pelotão destacado para trazer de volta aos EUA o soldado Ryan após seus 3 irmãos terem sido mortos em batalha.
O capitão Jonh Miller e mais sete soldados de seu pelotão tiveram a incumbência de encontrar o soldado Ryan em meio ao tumulto do maior desembarque de tropas da história mundial. Resumindo a história, o resgate foi alcançado, mas o custo desta operação foi elevadíssimo com a morte de grande parte do pelotão.
Já comentei em alguns textos do Observatório que sou um estudioso da Segunda Grande Guerra e de história em geral. Tenho dezenas de livros sobre o assunto, outros tantos vídeos, estudos, documentários. Acho fascinante a história que envolveu nações de todos os cantos do planeta e de como pessoas foram afetadas pelos ideais, loucuras e paranoias de alguns poucos líderes.
Mas o que me leva a parar por alguns minutos a escrever esse texto não tem nada a ver com o tema da guerra, mas justamente na cena descrita no início deste texto. Logo após receber do Capitão Miller as palavras de que deveria fazer por merecer todo o esforço daqueles homens, o filme sai do cenário da guerra na Europa para os dias mais recentes. Na cena seguinte, o jovem soldado Ryan já é um senhor com seus 60 anos de idade, emocionado, ajoelhado em frente à cruz do Capitão Miller fincada no cemitério militar. Neste momento Ryan “conversa” com Miller dizendo que tentou ser uma pessoa especial, que o esforço daqueles homens que tombaram em batalha para salvar-lhe a vida foi recompensado.
Estas cenas me fizeram pensar como somos negligentes muitas das vezes em não reconhecer as pessoas que nos ajudaram ao longo da nossa trajetória de vida. Não importa quem você seja, o certo é que em sua história, certamente algumas pessoas colaboraram para seu sucesso, sobrevivência, aprendizado, conquistas, vitórias. Ninguém consegue alcançar seus objetivos sem a interferência, ajuda ou influência de terceiros.
E no meio artístico esta questão é ainda mais presente, afinal como consolidar uma carreira sem a participação de diferentes pessoas? Impossível! Não há como se alcançar uma carreira de destaque sem que pessoas em diferentes momentos e áreas participem de todo o processo. Mas aí é que está a questão central desse post e que quero refletir em mais algumas poucas linhas.
Por que muitos artistas de sucesso consideram que conseguiram sozinhos seus objetivos? Por que muitos artistas de sucesso não reconhecem o apoio, cuidado e colaboração de pessoas ao longo de sua trajetória? Por que muitos destes artistas agem como se somente o seu esforço pessoal foi capaz de trazer os resultados sobre sua carreira?
Outro dia conversando com um amigo da Bahia, ouvi a história de uma mega artista de sucesso da região que por muitos anos foi empresariada por um grande profissional do show business que investiu muito no sucesso da cantora. Depois que esta alcançou o reconhecimento nacional, ela simplesmente virou-se para ele e decretou o fim da parceria. Como ele trabalhava com ela na base da confiança e não possuía qualquer vínculo contratual, a parceria foi simplesmente desfeita ali, sem maiores ressarcimentos.
Canso de ver artistas que em início de carreira mostram-se dispostos, disponíveis, sempre a postos para atender a convites. Mas basta um pouquinho mais de sucesso, conforto, reconhecimento para que se tornem inacessíveis, ocupados, cheios de assessores para fazer a filtragem nos contatos. Isto é mais comum do que muitos de vocês possam imaginar!
Um dos cuidados que procuro manter em minha vida pessoal é valorizar minhas antigas amizades, às vezes até mais do que as amizades mais recentes. E sabem por que? Porque os antigos amigos são aqueles que sabem verdadeiramente quem você é, de onde você veio, quais são suas raízes, referências, histórico. Muitas destas amizades viram como me desenvolvi, torceram por mim, me ajudaram em momentos difíceis, enfim, são pessoas que realmente influenciaram minha vida. Longe de querer parecer alguém acima do bem e do mal (ah! como me conheço … como ainda trago comigo minhas imperfeições!), mas sempre procuro manter uma política de crédito com as pessoas. Faz parte de minha conduta e confesso que devo muito a isso ao Arolde Oliveira, que logo no início de minha carreira profissional gostava de me ensinar que devemos sempre procurar ajudar as pessoas para que tenhamos crédito junto a elas, não necessariamente para usar esses créditos, mas simplesmente para sentirmo-nos melhores.
Mas contrariando a política de “créditos”, dos verdadeiros relacionamentos, das amizades sinceras, infelizmente percebo que muita gente prefere seguir a “estratégia do hoje”, ou seja, quem pode ajudá-lo e fazê-lo beneficiar-se mais no presente momento. Para estes os relacionamentos são volúveis, pautados em benefícios pessoais. A idéia é não preocupar-se em destruir pontes até porque a rota para estes tem apenas um único sentido. Tenho observado que muitas pessoas hoje focam nos relacionamentos estratégicos. Um dos lugares onde mais percebo esse tipo de networking míope é justamente nas redes sociais. É um tal de artista elogiar o pastor tal que tem uma igreja de milhares de membros ou paparicar aquela cantora que está no auge … enfim, é uma “rasgação de seda” tão impressionante que me avalio se aquele determinado cantor realmente daria a mesma atenção ao sujeito se ele fosse um simples pastor de periferia ou locutor de rádio comunitária no interior do Brasil.
Particularmente fujo desse tipo de gente que atua nessa esfera dos relacionamentos estratégicos.
Volto ao início deste post relembrando a mensagem do Capitão Miller. Que possamos valorizar o esforço de todas as pessoas que cruzaram nossos caminhos para que hoje pudéssemos ser pessoas melhores, dignas. Reconhecer a importância de quem nos ajudou já é um passo importante para que sejamos realmente pessoas melhores. Que tal você fazer isso hoje?
Mauricio Soares - jornalista, publicitário e alguém que agradece imensamente à minha família, esposa, meus filhos, amigos, pastores, professores e em especial à minha equipe de trabalho que a cada dia contribui para que possamos cada vez mais sermos melhores seres humanos, profissionais e cristãos.
Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia
O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições