Mesmo em crise, Desafio da Música Gospel atinge objetivos

Mesmo em crise, Desafio da Música Gospel atinge objetivos

Fonte: Atualizado: segunda-feira, 31 de março de 2014 às 11:52

O Desafio da Música Gospel (DMG) chegou ao final no último sábado, 5 de junho, após uma sucessão de problemas ocasionados pelo corte de verba do projeto. Dos R$ 11 milhões previstos para a realização do primeiro reality gospel do Brasil, o orçamento caiu para menos da metade, R$ 5 milhões. Ainda assim, o diretor Felipe Bella acredita que o programa cumpriu os principais objetivos de levar o evangelho aos lares e revelar um novo talento na música cristã, a cantora Quésia Luz, que terá um CD lançado pela gravadora Sony Music.

Com a promessa de ser um programa com excelente qualidade técnica, o reality terminou muito distante do previsto.  "Nós fazíamos as gravações com Full HD e terminamos usando uma ‘super VHS melhorada’, se é que você me entende. Nem festinha de 15 anos faz o que estávamos fazendo", disse Bella que, com a experiência de 12 anos de TV Globo, reconhece as falhas da competição que chegou a ser comparada com o Ídolos antes de sua estreia.

Mesmo com a crise do programa, marcada por atraso no pagamento dos funcionários e duração reduzida em dois meses, o diretor disse em entrevista ao GUIA-ME.com.br que Deus está no negócio. Na sua opinião, um dos exemplos está na própria decisão da grande maioria dos funcionários de abandonar o projeto antes da sua conclusão. Dos 80 produtores, sobraram apenas 10; todos evangélicos. "Eu acho que Deus fez uma limpa nisso aí", afirmou.

De descanso com o término do programa, Bella disse estar em oração para decidir na próxima semana se continua ou não no comando da segunda edição do DMG, que já está garantida junto aos patrocinadores e continuará com os apresentadores Andreia Faria (ex-Sorvetão) e Conrado.

"Pode ser que eu nem continue fazendo o Desafio por eles não se adequarem as minhas ideias. Eu sou um pouco exigente e realmente não tenho medo de esconder isso. Eu não fiquei muito feliz com o resultado final do programa em termos de qualidade", confessou o diretor que, mesmo "estando mais voltado para as coisas de Deus", tem avaliado dois convites para grandes empresas seculares, cujos nomes preferiu não revelar.

Ex-frequentador da Comunidade Internacional da Zona Sul (RJ), a mesma da cantora Aline Barros,  Felipe Bella ainda falou sobre a experiência que teve como primeiro membro da igreja Dá-me Almas, liderada pelo pastor Chris Durán, um dos jurados do primeiro DMG.

Guia-me: Como você avalia a primeira edição do programa Desafio da Música Gospel?

Felipe Bella: A gente conseguiu alcançar os principais objetivos do programa. Um deles era descobrir um talento, e nós descobrimos a Quésia Luz, e o outro era alcançar vidas, evangelizar, levar a Palavra de Deus. Acho que também conseguimos isso. Tivemos o depoimento de uma candidata evangélica chamada Talita. Ela disse que a cidadezinha dela lá do interior de Manaus, eu acho, tem 20 mil habitantes e as pessoas estavam indo para casa na hora do programa para assistir ao invés de saírem para beber e outras coisas. As pessoas até voltaram para a igreja. Conseguimos atingir os dois principais objetivos.

Guia-me: Em entrevista ao Guia-me antes do reality estrear, você disse acreditar que o programa iria "incomodar" na audiência. Por que os números não foram tão expressivos?

Felipe Bella: Na verdade, teve um número expressivo. Em televisão, elevar traços para até dois pontos, é bastante expressivo para o horário inclusive e para a emissora principalmente. No dia da estreia do programa, tivemos 1,5. Esse número para a Rede TV naquele horário foi um marco, eles nunca tiveram essa audiência.

Não posso dizer com certeza, mas me disseram que tivemos 1,9 na final. É uma boa audiência. Estivemos sempre por aí, entre 1,5 e 1,9. Nunca passou disso, mas também nunca caiu.

Genésio de Souza, Soraya Moraes e Chris Durán avaliaram os

cinco mil competidores do Desafio da Música Gospel.

Guia-me: Foi repercutido na mídia, na coluna do Flávio Ricco, da UOl, que os profissionais e fornecedores do programa não teriam recebido pagamento. Esse problema foi solucionado pela empresa CW Know-How?

Felipe Bella: Eu creio que ele está sendo solucionado. A produção passou por uma dificuldade muito grande devido a má administração da verba destinada ao projeto. Muitas pessoas, na verdade, não ficaram sem receber, mas fizeram acordos. Eu também estou nesse acordo. Eu fui contratado para dirigir o projeto e fui até o final com ele. Muitos não foram. São profissionais e eu acho que um profissional deve receber pelo trabalho que fez.

Alguns pagamentos ainda estão acontecendo, mas a grande maioria já foi feito, pelo que eu estou sabendo. Como vai ter um segundo DMG, alguns entraram em negociação para fazer a próxima edição. Eu não estou muito por dentro porque essa é a parte executiva, a minha parte é outra.

Guia-me: Mesmo com esses problemas, o que leva a empresa a confirmar essa segunda edição do programa?

Felipe Bella: Está confirmado porque tem patrocínio. Existiram vários problemas nesse projeto por ele ter sido o primeiro.

Guia-me: Quais problemas?

Felipe Bella: Eu identifico alguns. Tivemos uma péssima administração de verbas, por conta da produção executiva. Foram feitos investimentos errados com pessoas erradas dentro da parte financeira. Esse projeto foi desenvolvido por mim. Me pediram um projeto de R$ 11 milhões. Quando você pede um projeto de R$ 11 milhões para um diretor de televisão, eu sei o que tem de melhor no mercado. Então eu busquei o que tem de melhor. Começamos a gravar em Full HD, tinha a pretensão de lançar DVD. Começamos com uma estrutura mega gigante. O diretor executivo do projeto, o Pr. Djalma Corrêa, afirmou em uma reunião com a produção que gastou aproximadamente R$ 5 milhões, sem contar com as premiações no decorrer do programa e o prêmio final.

Eu acho que houve má administração de verbas junto com um péssimo marketing. O marketing do programa foi completamente equivocado.

Guia-me: Por isso essa pequena repercussão na mídia?

Felipe Bella: É. Eu acho que gastaram muito dinheiro em veículos errados. Eu trabalhei 12 anos na TV Globo. Eu venho de uma outra realidade, mas não tão menor. Na verdade são dois mundos paralelos. As empresas seculares estão investindo no meio gospel porque esse segmento é uma realidade em potencial. Até 2010, segundo dados de pesquisas, metade do país vai ser evangélico. É um público consumidor fiel. Não compra CD pirata, por exemplo.

Conrado e Andreia Faria (ex-Sorvetão) estão confirmados na segunda

edição do reality gospel.

Guia-me: Como será essa segunda edição? Os apresentadores e os jurados serão mantidos?

Felipe Bella: Eles me chamaram para uma reunião na semana que vem e a gente vai negociar a minha estada no programa. Eu não sei ainda porque eu tenho um convite para um outro trabalho de televisão de uma empresa muito importante. Mas não sei, porque é um trabalho secular (risos).

Os jurados eu não sei, mas os apresentadores vão continuar porque já foi negociado. Eu acho que eles estão contando que eu vá, mas eu não sei. Estou nessa semana de folga revendo algumas coisas e na semana que vem, no dia da reunião, eu decido. Deus decide e eu vou fazer. Estou orando em relação a isso.

Eu estou muito voltado para as coisas de Deus. Mas, mesmo assim, com dois convites na verdade, eu acho que no momento da minha vida eu não estou podendo negociar. Pode ser que eu nem continue fazendo o Desafio por eles não se adequarem as minhas idéias. Eu sou um pouco exigente e eu realmente não tenho medo de esconder isso. Eu não fiquei muito feliz com o resultado final do programa em termos de qualidade. Devido aos problemas financeiros, a qualidade do programa foi muito afetada.

Se eu percebo que Deus não está no negócio, eu caio fora. Já fui convidado para fazer outros projetos no meio evangélico onde eu vi que não tinha Deus na história, que era só interesse. Eu fui embora. Já fiz até algumas inimizades por conta disso. Eu acho que algumas pessoas pensaram que eu estou desdenhando mas não é isso. Eu realmente aprendi orar para definir aquilo que eu vou fazer na minha vida.

Guia-me: Sobre o DMG, você acha que Deus está no negócio?

Felipe Bella: Eu acho que sim. Tem muita coisa que as pessoas inventam também. Eu mesmo ontem ouvi umas coisas na igreja que eu nem acreditei. As pessoas falam demais. Infelizmente, a fofoca existe muito séria no nosso meio. Outro dia mesmo eu vi o pastor Silas falando que essas mentiras vem do nosso meio mesmo, de sites evangélicos. É uma verdade. Eu mesmo um dia abri a internet e fiquei chocado com o que estavam dizendo. Mas eu creio num Deus que cuida de tudo isso. Quem me justifica e quem justifica as pessoas desse projeto é Jesus Cristo.

Para você ter noção, no momento de dificuldade que a gente passou, todos os produtores que permaneceram no projeto, desde o cinegrafista, até o produtor menor, todos são crentes. Não ficou uma pessoa do meio secular. Fizemos algumas bobagens com relação a mídia, planejamento de verba, mas com Deus está tudo bem. Eu acho que Deus fez uma limpa nisso aí. Ele tirou as pessoas que estavam fazendo superfaturamento. Todas elas eram ímpias. Quem ficou no projeto foram crentes. Por isso eu creio que Deus está nesse projeto. De 80 pessoas sobraram 10.

Eu não posso dizer para você que eu estou feliz. Nós fazíamos as gravações com full HD e terminamos usando uma "super VHS melhorada" [preferiu não dizer o fabricante para não desmerecê-lo] . Se é que você me entende.  Terminamos com uma qualidade infinitamente inferior. Nem festinha de 15 anos faz o que estávamos fazendo. Mas nós ganhamos no time, na edição. A produtora que estava com a gente em São Paulo se desvinculou num momento de dificuldade. Perdemos todo o nosso material além dos nossos profissionais. Tivemos que buscar outros profissionais aqui no Rio.

O último programa não é referência para nada. O roteiro não foi cumprido, não ficou bacana. Mas até o penúltimo programa, ele estava ganhando muito em time. Caiu para meia hora. Ele fiou mais compacto, as pessoas estavam gostando de assistir, estava entrando na linha. Infelizmente teve que acabar, mas para recomeçar de uma maneira mais grandiosa.

De 80 pessoas (foto em cima), a equipe de produção reduziu para

10 (foto em baixo). Todos que restaram são evangélicos. 

Guia-me: A redução do tempo foi por conta do orçamento?

Felipe Bella: Sim. Todas as quedas foi por conta de orçamento. Não tivemos nenhum outro problema que não fosse dinheiro.

Me pediram um projeto de 11 milhões e eles só tinham a metade para fazer. Eles esperavam que o restante entrasse através de ligações de telefonia e as promoções. Essas promoções foram inibidas pela Rede TV. Quando se assinou o contrato, foi assinado com uma concessionária. Essa concessionária não passou para os organizadores do projeto, a CW, que a Rede TV não permitia que outras pessoas que não eles fizessem campanha com título de capitalização, SMS e portal de voz. Foi contratado um serviço que é da própria Rede TV, da Tecnet.

O projeto foi impedido de fazer esse tipo de ação porque a Rede TV proibiu. Eles deixaram de arrecadar o recurso. A CW entende bem de administração, mas eu acho que eles não checaram quando foram assinar o contrato e houve esse problema.

Guia-me: Por conta desse problema, você acredita que o programa pode passar a ser exibido numa outra emissora?

Felipe Bella: Eu acho que continua na Rede TV mas com as coisas mais claras. Você imagina, a Rede TV mesmo não sabia nada do projeto. É um projeto independente. Quando eles ficaram sabendo do projeto, já estava com comercial no ar. Aí é que eles foram se meter e dizer que só quem faz esse tipo de produto é eles, por ser algo muito rentável. Eles proibiram com ameaça até de tirar o programa do ar e todas as perseguições que você já conhece por ser cristão. Foi bastante complicada essa arrecadação de recursos. Não podemos culpar a CW por isso.

Segundo Felipe Bella, a gravadora Sony Music precisará ter uma

estratégia poderosa para colocar Quésia Luz, a campeã do programa,

no mercado.

Guia-me: A meta do programa era distribuir R$ 5 milhões em prêmios. Você acredita que essa dificuldade dificultou a entrega desse valor em premiação?

Felipe Bella: Acabou prejudicando. Os prêmios não são um problema, porque esse cálculo é feito em cima de tudo que é derivado do resultado final. A Quésia assinou um contrato com a Sony de cinco anos. Ela vai lançar cinco produtos. Fora isso ainda tem o DVD e os souvenirs dela.

Guia-me: O que te faz acreditar que ela irá conquistar o público?

Felipe Bella: Assim como a gente, com ela acontece um fator negativo. O programa era para ser exibido em cinco meses de exibição e ela teria três meses de exposição no ar. Como o programa foi reduzido para três meses, ela perdeu dois meses de mídia. Esse tempo é muito importante. Eu acho que a Sony vai ter que ter uma estratégia de divulgação poderosa para colocar ela no mercado. Mas isso é normal, temos de prova os programas seculares. Eu nem me lembro quem ganhou o Fama ou o Ídolos, por exemplo. Mas a nossa intenção é perpetuar esse artista para ele glorificar o nome de Jesus. Eu acho que isso vai acontecer porque a menina é muito talentosa.

Os 10 finalistas do DMG vão dar certo aí fora porque são todos muito bons. O que me surpreendeu mais nesse trabalho foi a qualidade vocal dos participantes. Tivemos um número muito reduzido. Se esperavam 20 mil inscritos e tivemos 5 mil. Mas desses 5 mil, todos cantavam. Não dá para dizer que fulano foi fazer gracinha, para pagar mico. Não existe isso.

Guia-me: De qual igreja você é?

Felipe Bella: Eu era da Comunidade Internacional da Zona Sul e desde ontem [terça-feira, 8 de junho] estou no ministério Dá-me Almas, do pastor Chris Durán. Eu sou o primeiro membro.

Senti no meu coração de ir para esse ministério porque o Chris Durán é uma pessoa muito séria. Estamos precisando hoje no país de pastores sérios que tenham ministério sólidos, pois estamos vivendo hoje uma crise muito grande.

Estava buscando a um tempo uma igreja que tivesse um pastor que cuidasse de ovelhas, o que é muito difícil. A maioria não cuida. A Igreja cresce, fica com três mil membros, e o pastor fica num "Jet set" danado, de cima para baixo e não cuida das ovelhas. Eu acho que isso não dá resultado de jeito nenhum. Para mim pastor tem que cuidar de ovelha, se não cuida, vai ser só evangelista ou só pregador.

O Chris tem um programa diferente das outras igrejas. A gente preenche uma ficha, ele conversa com a gente durante horas. Eu não sou diferente de ninguém só por ter trabalhado com ele. Com as outras ovelhas é igual.

A abertura da igreja foi um sucesso. Tinham umas 300 pessoas e já quase não cabiam no lugar. Foi muito abençoador. A produção do projeto foi para prestigiar o Chris e ouvir a palavra. Foi uma palavra muito importante para toda a equipe de produção e todas as pessoas que estavam lá. Eu acho que umas 10 pessoas aceitaram Jesus. Foi muito legal.

Soraya Moraes, Chris Durán e Genésio de Souza na estreia do DMG:

Por Felipe Pinheiro

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