"Minha música é mistura" afirma Suzana

"Minha música é mistura" afirma Suzana

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:01

Dona de uma voz singular e bem característica que compõe bem o conjunto da obra de sua vida, Susana de Oliveira fala de sua carreira, seu primeiro disco solo e de projetos para 2011  

Longe de estabelecer qualquer estereótipo ou fazer comparações, até mesmo porque ela não é de fazer tipo e nunca se deu a esse trabalho, para quem ouve pela primeira vez Susana de Oliveira é como que remetido a um “seleto” grupo que hoje parece compor a nova geração da chamada MPB, a Música Popular Brasileira. Tudo por conta não tanto de seu repertório, já que sua proposta com as canções que escreve é bem outra, mas em razão mesmo de seu timbre de voz, bem semelhante a de músicos seculares como Maria Gadu, Vanessa da Matta, Paula Fernandes e Ana Carolina, só para citar uns poucos.

Imersa na música desde os oitos anos de idade, Susana tem hojeapenas 27 anos, mas com bagagem já de quem está na estrada uma longa data se considerarmos sua maturidade e firmeza, presente e visível inclusive nas melodias e nas letras das canções. Dona de uma voz singular e bem característica, que compõe bem todo o “conjunto da obra” de sua vida, Susana de Oliveira é cristã convicta, mas nunca se escondeu jamais em “performances” ou trejeitos que a rotulem com antisocial e “igrejeira”. Prova disso é o fato de hoje receber convites para cantar fora das quatro paredes de umadenominação. Já se apresentou em praças públicas, faculdades, escolas e até hospitais. Ela também já esteve na Rede Super, nos programas Sempre Feliz, da Márcia Rezende, e Balaio, com Alex Passos.

Para falar de seu primeiro disco homônimo, Susana, Susana de Oliveira nos concedeu a presente entrevista, em que ela fala de sua vida, sua carreira e muito mais. Vale a pena ler. Vale a pena ouvir. Em breve você confere nova entrevista com mais detalhes e curiosidades sobre Susana de Oliveira. Mais informações, acesse também www.susanadeoliveira.com.br

Confira a entrevista:

Lagoinha.com (LC): A iniciativa de estudar música a partir dos 8 anos de idade foi inteiramente sua, partiu de algum familiar primeiro, ou foi um somatório das duas coisas?

Susana de Oliveira (SO): Eu não tenho músicos em casa. Eu via as pessoas tocando piano na igreja e ficava fascinada. Não queria nenhum outro instrumento. Era o piano. Eu, ainda muito criança, comecei a buzinar na cabeça do meu pai que queria tocar piano. Só que piano não é como gaita, que você vai lá, compra com facilidade e dá de presente. O que ele fez? Ele me colocou numa aula durante um tempo, para saber se era isso mesmo que eu queria ou se era empolgação de criança. Depois até cheguei a fazer musicalização infantil, mas no fundo não queria ficar lá. Queria era tocar piano. Voltei para as aulas. Como não tinha o instrumento, ele me levava para a igreja todas as semanas e lá treinava. Ele iria acabar percebendo que era isso mesmo e acabaria investindo nesse meu sonho.

LC: De onde acha que herdou ou veio o gosto pela música?

SO: Acredito que tem muito a ver com esse ambiente da igreja, de ver os instrumentistas, os corais. Descobri a pouco tempo que meu avô, por parte de mãe, era exímio tenor. Achei o máximo. Não me lembro dele, era muito nova quando ele partiu. Minha mãe me contou que na casa dele, todos eram músicos. Não conheci. Alguma herança eu tenho, mas nesse quesito, acho que foi mais uma busca pessoal, algo muito meu mesmo. Também não cheguei a pegar muito essa época, mas meu pai confessou a pouco tempo seu gosto pela música brasileira. Disse que tinha uma admiração especial por cantores como Milton Nascimento, Chico Buarque, Nara Leão, Toquinho, Gal Costa, Maria Betânia... E a minha formação primeira é piano erudito. Com certeza, o gosto pela música foi sendo apurado a cada dia.

LC: Quando então o violão entrou em sua vida, já que sua formação piano?            

SO: Entrou naqueles quatro meses de aula de harmonia, lá pelos anos de 2000, 2001. Isso fala inclusive da época em que comecei a compor. Foi excelente, porque eu o pegava, ia para o meu quarto, fechava a porta e ali eu tinha liberdade. Lá em casa, o piano fica no meio da sala e sempre tinha a sensação de que estava incomodando as pessoas. Talvez seja esse o motivo da maioria das canções terem sido compostas no violão.

LC: Se recorda das primeiras vezes em que tocou na igreja piano ou violão que seja?

SO: Não sei precisar o ano, mas no início foi fazendo prelúdio e pósludio, tocando algum hino do Cantor Cristão ao piano.

LC: Quando acha que a música passou a ganhar contornos de ministério?

SO: Eu nunca imaginei que iria gravar um dia. Em 2000, 2001, recebi aulas de harmonia ao violão. Porque aquilo que eu sabia fazer era muito limitado, comparado a realidade que a gente estava vivendo na igreja. A gente estava começando a cantar cânticos, a ter as bandas. E nessa época, se eu não tivesse uma partitura na minha frente, eu não sabia fazer nada. Esses quatro meses de harmonia mudaram a minha vida. Comecei a entender o que estava por detrás da partitura. Passei a me envolver mais com as bandas. E nessa época, ali no meu quarto mesmo, comecei a compor. Só que era um negócio muito eu e Deus, sabe?! Foi algo muito despretensioso. Até que em 2008, Deus começou a me incomodar. Algo do tipo: “Eu estou te dando e você está enterrando”. Ou talvez: “Está na hora de colocar para fora”. Foi quando comecei a mostrar e cantar mais as canções. Um dia, tocando num grupo de estudo bíblico e oração, lá na Escola de Arquitetura onde estudava na época, um dos meus colegas ouviu e me convidou para tocar em sua igreja. Eu fui. Depois ele me convidou novamente para tocar, mas agora no acampamento da Aliança Bíblica Universitária, a ABU. E eu fui. Depois, no início de 2009, participei da Escola Adorando, do Nelson e Christie Tristão (do Asas da Adoração). Foi nesse evento que rolou uma coisa muito especial. Eu mostrava as músicas às pessoas e elas ficavam apaixonadas e me diziam: “Susana, você tem que gravar para gente poder ouvir isso, para levar para casa”. A tal ponto que o Celinho, um dos caras que tocavam com a Christie, me chamou em particular e me disse que era para eu procurar o Johnny, que é hoje meu produtor. Nesse evento, tive uma experiência extraordinária com Deus. Até 2008 foi aquele tratamento de que falei. E de 2008 para 2009, foi um virar de página de Deus na minha vida. Tive uma experiência inesquecível com o amor de Deus e recebi uma liberação muito clara do céu. Eu já saí da Escola sentindo que algo iria acontecer. Com relação ao CD especificamente, eu precisava ao menos começar a entender como seria o processo, como se faz um disco, quanto custa... Não sabia nada. Mandei então por e-mail duas canções para o Johnny. Com aquele e-mail agora era ele quem estava bastante interessado! (Risos) Daí para frente, tudo aconteceu com muita naturalidade e muito rápido. Nessa época, eu já tinha umas cerca de 20 canções para escolher qual delas entraria nesse primeiro disco.

LC: O que poderia dizer de suas referências?

SO: Acredito que são das mais diversas. Tenho ainda dificuldades em responder quais dessas referências interfere diretamente nas minhas composições. Por isso, acabo me vendo obrigada a falar do meu processo de novo, porque ele vem desde o erudito, com as músicas do Cantor Cristão, músicas de coral na igreja e no Conservatório Mineiro de Música, das peças que eu tocava e dos concertos em que eu comparecia. De ouvir a rádio Brasileiríssima. Houve época em que a gente nem sabia que existia música evangélica para comprar e ouvir. No início, na igreja era só piano, órgão e coral mesmo. Passa pelo Som do Céu, da época que eu participei da equipe e conheci o trabalho do Gerson Ortega. Se não me engano, foi o primeiro CD evangélico que eu adquiri. Também passa pelos primeiros estágios remunerados na faculdade. No escritório ouvíamos rádio a tarde toda. Chega até as canções do Diante do Trono, do André, Nívea Soares, do pastor Cirilo, da pastora Ludmila Ferber e tantos outros que inspiram o coração da gente. E também algumas bandas de fora que eu gosto, como Jars of Clay, Danen Kane, Sarah McMillan, Mercy Me etc.

LC: Em relação ao repertório de arranjos e ritmos, há um toque muitíssimo forte de MPB, que remetem inclusive a músicos seculares como Maria Gadu, Vanessa da Matta, Paula Fernandes, Ana Carolina, entre outros. Como definiria sua música afinal e de onde viria esse gosto tão refinado, traduzido em cada uma de suas canções?

SO: Ah, minha música é mistura, como eu já disse. O que eu sei é que a gente está envolvido num universo de influências, sejam elas seculares ou sacras. Mas confesso que e o meu ouvido sempre se despertou mais é com as canções de tom brasileiro, sabe!? No conservatório, por exemplo, me lembro de cantar Chico Buarque no coral, tocar Villa Lobos no piano e assistir a orquestra tocar Guerra Peixe no Palácio das Artes. Num primeiro momento da minha adolescência, eu tive um interesse especial pelas canções do Milton Nascimento. Eu não era de adquirir muitos CDs nessa época, mas cheguei a ter todos os discos dele. Depois Deus me pediu aquilo tudo e eu dei. Isso foi importante naquele momento e, também, a partir daí eu fui me envolvendo mais com Deus, fui me separando de tudo aquilo que nós da igreja chamamos de secular. Depois, já na época da faculdade, tive a oportunidade de trabalhar com duas bolsas, uma de extensão e outra de iniciação cientifica. Em ambas, eu trabalhava num escritório, havia outros estagiários lá também. E nós ouvíamos música brasileira a tarde inteira. Então é inevitável, graças a Deus! A música brasileira sempre esteve por perto. Nunca tentei criar como fulano ou ciclano. Mas se as pessoas estão identificando minha música como popular brasileira me sinto honrada com isso aí. Na verdade, não só honrada, mas também na obrigação de ouvir mais, desenvolver mais, ir além. Nosso Brasil é riquíssimo em termos de ritmos, sonoridade, criatividade, emoção e tantas outras coisas mais.

LC: Qual a sua percepção acerca da repercussão do seu álbum, já que é o primeiro? O que tem ouvido das pessoas e como se sente por isso?

SO: Extraordinário! As pessoas têm procurado, tem mandado e-mails, entrado no myspace para ouvir algumas canções, no blog para ler e comentar as minhas reflexões. Um dos retornos mais legais que eu tenho tido é o interesse das pessoas em adquirir o cd para presentear amigos e familiares, ou não cristãos, ou cristãos não envolvidos com a igreja e tal, e também pessoas hospitalizadas ou doentes. E é muito legal porque está acontecendo uma aceitação muito bacana de todas essas pessoas. Mas também tenho comigo vários testemunhos de pessoas que dizem: “Seu CD tem me abençoado demais no meu tempo com Deus, ouvindo no carro, sozinho, antes de dormir...”  Tem esses dois lados. É fantástico. E o legal ainda é a aceitação até fora do país. Sei que meu CD já está em algumas regiões dos EUA, em Portugal, na Espanha, Irlanda, Inglaterra, Noruega, Argentina, Chile, África do Sul, Japão... Isso me assusta até, pra falar a verdade. Vejo minhas canções se espalhando pelo mundo. Os começos falam muito para nós e Deus fazendo tudo isso, sei que Ele quer me falar alguma coisa. Não sei por que, mas acredito que Deus tem algo especial para aqueles lados lá da Europa. Tem algo novo para acontecer por lá. E se a Bíblia diz que o espírito está pronto, então vou crer.

LC: O que diria da repercussão de seu disco de quando lançou até hoje em termos de aceitação? Esperava por tudo isso?

SO: Não mesmo, não esperava. Boa surpresa de 2010. (Risos)

LC: Em relaçao à vendagem, tem noção de quantos CD´s saíram? Há planos para uma nova tiragem/prensagem?

SO: Então, vendi tudo. Foram 1200 CD´s distribuídos em um ano. No início de dezembro mandei fazer mais mil. Acredito que para um trabalho independente, sem distribuidora nem gravadora por trás, foi um começo e tanto.

LC: E em relação a agenda? Por quais cidades e estados já passou em 2010 e por onde deve passar em 2011? Há convites para o exterior?

SO: O segundo semestre de 2010 foi bem movimentado. A maior parte dos convites foi ainda de Beagá. Fora daqui, estive em Caldas Novas, Timóteo e Nova Iguaçu. Muitas pessoas entraram em contato comigo para saber da minha disponibilidade de participar de eventos e tal, mas como o trabalho é muito recente, acredito que estejam se organizando melhor para efetivar os convites. Convite para o exterior?! Só para visitar uns amigos em Dallas, por enquanto. (Risos) Mas eu acredito que não vai faltar oportunidade.

LC: Em relação  aos tipos de lugares por onde passou e vai passar, o que diria? É só igreja? Ou mais faculdades, universidades, conservatórios, praças etc?   

SO: É gostoso lembrar já. Estive na Escola de Arquitetura, na Semana do Cristianismo no campus da Federal, em praça pública em Caldas Novas num evangelismo, em casas junto com pessoas acamadas, em igrejas enormes e em bem pequeninhas, num casamento, num Lual, num acústico junto com a banda Palavra Antiga, na Rede Super, que me abençoou tanto com convites para seus programas. Estou cheia de expectativas para o ano que vem!

LC: Em relação a também esse seu primeiro disco, você afirmou que ele é um marco em sua vida. Por quê? Porque sempre sonhou com isso ou porque nunca imaginou chegar onde está hoje?

SO: Creio que ele é um marco para minha vida principalmente porque ele marca o inicio de um novo tempo. Até 2008, 2009 foi aquele tratamento, como eu disse, bastante doído. (Risos) Deus estava tratando meu caráter, me mostrando quem Ele é. Mostrando o meu lugar, quem eu sou. Esse cd é a liberação de Deus para um novo tempo. Um novo ciclo na minha vida. Sinto que tudo muda. Já está mudando. E, com certeza, tenho um sentimento muito bom de não ter a menor noção do que Ele tem preparado para mim. Com certeza é muito melhor e maior do que eu poderia ter imaginado ou idealizado.

LC: Tem planos ou projetos para um novo disco? Novas composições ou composições anteriores que já tinha e não entrou nesse primeiro disco? Ou as duas coisas?

SO: Sim, tenho algumas canções já. A maior parte delas são novas mesmo. Mas uma ou outra mais antiga que não chegou a entrar nesse primeiro cd ainda deve rolar. Acho que ainda é tempo de deixar esse primeiro chegar até as pessoas. Quem sabe no próximo semestre pensar em gravar. Mas quero tentar divulgar alguma coisa nova em vídeo, fazer algumas parcerias, isso seria bem legal.

LC: Em relação à carreira/ministério, planos para 2011?

SO: A agenda está bem em aberto, nas mãos de Deus. Mas existe um sonho meu, vou contar para você. Eu gostaria de promover um evento beneficente. Quem sabe na época da páscoa. Um evento aberto, em praça pública, com doações, shows, teatro, circo... sei lá. Vamos sonhando e ver qual é o tempo certo de Deus. Fora isso, estou com o coração aberto para os próximos convites, animada.

LC: Em relação a novas mídias? Tem se valido bem delas para divulgar seu trabalho?

SO: Pois é, a principal divulgação hoje é feita pela internet, né?! Eu poderia estar usando bem mais, sabe?! O problema é que sou tímida. E outra, como é tudo muito rápido, eu acho que as vezes penso demais e perco algumas oportunidades. Quero fazer mais vídeos, todos me cobram isso. Morria de preguiça de twitter, mas agora já estou me socializando melhor e curtindo. Todos os dias pessoas me adicionam no facebook e orkut. É gostoso. Estou aprendendo.

LC: Uma palavra de gratidão

SO: Sou grata a Deus pela honra e graça imerecidas desse tempo, pelo seu favor e por Ele querer me usar. Por toda a satisfação. Agradeço a Ele demais por essa alegria que tem me dado, por tantos milagres, por ter me ajudado a perseverar, ficar firme. É uma satisfação inexplicável.

Lagoinha.com: Uma palavra final que gostaria de deixar aos internautas do Lagoinha.com e ao seu público.     

Susana de Oliveira: Queria dizer que vale a pena. Vale a pena crer, confiar, permanecer. Queria também dizer que precisamos amar mais e ser mais cristãos. Esse é um tempo que Deus nos chama para agirmos em amor e reconhecermos o quanto nós somos amados. Vamos parar de olhar para nós mesmos e olhar para os outros como nosso mestre nos ensinou.    

Por Marcelo Ferreira

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