Muito mais do que um simples: Olha o passarinho! Click!

Maurício Soares fala sobre o projeto gráfico de um CD

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:13

Neste post estarei invadindo a seara de meu nobre amigo e co-editor do Observatório Cristão, Carlos André. O assunto desse post é sobre a importância de se observar com muito cuidado o processo de captação de imagens para o projeto gráfico de um CD. Em outras palavras, prestar atenção na escolha do profissional, figurino, locação e tudo concernente às fotografias que irão compor o projeto gráfico do encarte do CD.

Tempos atrás, os LPs permitiam aos designers “viajarem” em seus projetos gráficos. Lembro-me quando ainda criança a curiosidade que me afligia em abrir a aba dos LongPlays para conferir os encartes, aquelas folhas enormes contendo as letras das músicas. Aquilo era um momento mágico. Uma descoberta maravilhosa para uma criança cheia de expectativas. Lembro-me de umas capas que me marcaram como um LP do Erasmo Carlos cheio de desenhos de caveiras, esqueletos, um negócio bem apavorante. Tinha também a capa do LP dos Secos e Molhados com Ney Matogrosso e sua turma com as cabeças colocadas em bandejas numa mesa. Aqueles rostos todos maquiados, barbudos, uma coisa super performática, meio louca e absurdamente vanguardista em tempos de ditadura no Brasil.

Saindo da fase nostálgica e voltando ao nossos dias, com o advento do Photoshop e dos múltiplos recursos tecnológicos, tornou-se mais fácil fazer um “Extreme Makeover” e transformar a fisionomia dos modelos. É óbvio que todo mundo tem direito de querer ficar mais belo, mais jovial, com menos defeitos, com uma fisionomia mais bonita, mas todo exagero tem seu preço.

Me lembro de uma determinada artista que ao atender a um fã pedindo autógrafo num CD teve que ouvir a seguinte observação: “Mas onde está no CD essa pinta enorme que você tem aí no seu nariz? Isso aí cresceu depois das fotos do CD?” … hummm … E também tem uma outra história de uma senhora que, encarte do CD na mão, olhava insistentemente para o artista e logo em seguida conferia as fotos. Depois de comparar as duas imagens tão diferentes entre si, a senhora não resistiu e comentou: “Ele deve estar trabalhando muito! Tá tão enrugadinho, cabelinho ralo, esse aí parece o pai desse aqui do CD!”

Conversando nestes dias com o designer Carlos André a respeito de uns projetos que estamos desenvolvendo. Fiquei muito bem impressionado com o detalhismo de seus projetos. A concepção de um CD começa muito antes do primeiro clique do fotógrafo. Geralmente convido o artista a ser trabalhado a conversar pessoalmente com o designer. Procuramos criar um ambiente de intimidade. Ouvir a respeito do que o artista imagina ser o ideal para seu trabalho é o início de uma boa parceria, de encontro de idéias e principalmente de economia de tempo.

Nessa fase, saber ouvir é fundamental! É importante buscar referências do que o artista entende como o ideal para representar seu trabalho. Também procurar entender o perfil do repertório do CD é imprescindível! Não dá para fazer uma capa psicodélica num CD onde o cantor interpreta a Harpa Cristã! E olha que isso acontece muito por aí!

Captando essas informações, passa-se à fase de escolha do fotógrafo. Cada profissional tem um estilo, uma forma de lidar com os projetos e isso merece muita atenção. Após esta decisão, parte-se para mais uma sessão de muita troca de informações. Neste momento define-se grande parte do que será feito. O designer apresenta referências e na sequência a equipe irá buscar as locações para se atender às exigências criativas.

Com todo este trabalho de pré-produção, o ‘clicar’ passa a ser algo bem mais tranquilo e produtivo. Ouvi nestes dias uma história de arrepiar! Determinada artista, daquelas que gostam de opinar em tudo! (conhecemos muita gente assim, né?), levava em média 12 horas em sessões de fotografia! É isso mesmo! Metade de um dia trocando de roupa, retocando maquiagem, fazendo caras e bocas, muitas caras e bocas! Não sei se esta aí imagina que pelo muito clicar, pode se tornar uma autêntica Gisele Bundchen… difícil demais!

Definido o estilo, a locação, o profissional, a maquiagem, as idéias do projeto gráfico e todos os outros detalhes, seguimos para a fase mais assustadora de todo o processo: o figurino. É impressionante como nessa hora tem artista que consegue se vestir pior do que padrinho em casamento! Saias bufantes, cores berrantes, figurino anos 80, ombreiras, chapéu de cowboy… nessa hora a criatividade sobeja e temos resultados dignos daquele personagem da propaganda de cerveja onde surge um homem de pochete e sunguinha de crochê dançando “Adocica meu amor, adocica”… me desculpem o exagero da imagem, mas não consegui criar algo mais impactante!

A participação de um profissional figurinista é indispensável. Mas observe o que eu disse: um profissional figurinista e não aquela irmãzinha desempregada da igreja querendo faturar uns trocadinhos porque um dia trabalhou nas Lojas Marisa e acha que entende tudo de moda. Não mesmo! Também não caia na tentação de dar aquela forcinha para sua tia que tem uma boutique no centro de Nova Iguaçu, a Mariazinha Modas especializada em moda unisex. Não mesmo! Muito menos caia na enorme tentação de ser ‘garota propaganda’ da loja “Galinha Morta”, especializada em roupas da última moda onde você encontra tudo por apenas 19,90 e ainda pode dividir em até 5 prestações sem juros. É ou não é uma “Galinha Morta”? Não mesmo 3x!!!!!

Assim como a escolha do produtor, dos músicos e do repertório é algo a ser levado muito a sério. A elaboração do encarte do CD e de todo o projeto gráfico demandam responsabilidade e atenção redobradas. Lembre-se que essas fotos e o projeto gráfico deverão servir como base para o site oficial, redes sociais, assessoria de imprensa e todo material de divulgação e promoção nas lojas e mídias. Portanto, não tem como errar neste momento!

Geralmente a etapa de fotos e projeto gráfico é a última fase antes de partir com o material para a fábrica e é natural que o artista/cliente tenha pressa em ver o trabalho concluído. No entanto, o planejamento das etapas deve ser elaborado antes mesmo de se começar o processo de gravação em estúdio e o ideal é que esta fase demande entre 15 a 20 dias para que tudo saia perfeito.
Então, respire fundo, encolha a barriga, prepare aquele sorriso simpático e … divirta-se na sessão de fotos e depois na elaboração do encarte!
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Por Mauricio Soares, jornalista, publicitário, fotógrafo amador e alguém com larga experiência em conferir (e assustar-se muitas vezes!) projetos gráficos formando um currículo superior a 5 mil capas de CDs, DVDs e LPs. Haja fôlego!

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