Não cedendo ao modismo e armadilhas da atualidade - Por Maurício Soares

Maurício Soares fala de idolatria a cantores e bandas gospel

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:13

“Por isso, meus queridos amigos, fujam da adoração de ídolos. Eu falo com vocês como pessoas que têm capacidade para entender o que estou afirmando. Julguem vocês mesmos o que estou dizendo”

Este texto acima está presente na primeira carta de Paulo aos Coríntios no capítulo 10, versão Nova Tradução da Linguagem de Hoje, publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil. O apóstolo Paulo nos ensina sobre muitas questões do cotidiano como casamento, respeito ao próximo, a Ceia do Senhor, o papel das mulheres, a postura de viúvas e solteiras e também sobre a questão da adoração de ídolos.

Confesso que esse tema já esteve presente na minha lista de assuntos do blog por algumas vezes. Na verdade, escrevi e reescrevi esse texto pelo menos umas 4 a 5 vezes. Como é um assunto muito sensível, preciso colocar muito claramente meu ponto de vista sem atingir qualquer pessoa em especial. Na verdade, venho sendo instigado, estimulado e até mesmo auto-pressionado a posicionar-me a respeito desse assunto nas últimas semanas. Neste último domingo, esse assunto foi tratado no culto em minha igreja e baseado na mensagem da noite, acredito que os últimos aspectos para esse texto foram finalizados. Esse texto começa num vôo para Porto Velho e termina agora no Rio de Janeiro algumas semanas depois de iniciado. Boa leitura!

Recentemente estive visitando a sede da Sociedade Bíblica do Brasil em Barueri, na Grande São Paulo. Já no finzinho de minha visita, após uma produtiva reunião de trabalho fui presenteado com um exemplar da Bíblia NTLH em couro vermelho com uma aplicação linda em formato da cruz. Um presente maravilhoso e um produto de muito bom gosto! E aqui vale registrar a qualidade dos projetos desenvolvidos pela SBB, que hoje é a líder mundial na produção e distribuição de Bíblias.

Folheando esse exemplar da Bíblia enquanto aguardava a segunda parte de meu vôo com destino a Porto Velho, ainda na pista do aeroporto de Cuiabá, deparei-me com esse texto destacado acima. Achei o texto tão claro, tão direto, tão transparente, que resolvi abrir mão de meu lado profissional para escrever sobre algo que vem me incomodando muito nos últimos anos e que agora passo a comentar.

Quando converti-me ao Evangelho, ainda em minha adolescência, muitas questões que hoje são completamente aceitas e às vezes até incentivadas, tempos atrás eram verdadeiros tabus. A própria música, em muitas igrejas evangélicas seguia uma dinâmica tradicional, sem a utilização de instrumentos elétricos e bateria. Palmas durante os louvores também eram motivo de tensões entre as diferentes alas da igreja. Os usos e costumes das igrejas evangélicas no Brasil mudaram bastante nos últimos anos. Em alguns casos essa mudança trouxe conquistas importantes e saudáveis. Já em outros casos apenas deixou ainda mais clara a deteriorização de conceitos que faziam a separação entre a sociedade secular e a igreja.

Entre estas mudanças no novo perfil da sociedade evangélica brasileira, uma em especial me incomoda profundamente atualmente: a existência e proliferação de fã-clubes de artistas gospel. Reconheço que temos pessoas em nossa trajetória que são importantes referências para nosso crescimento, seja ele espiritual, profissional, de valores e mesmo na formação do caráter. Eu mesmo tenho pessoas que forjaram meu caráter, que contribuíram no meu amadurecimento e que mereceram de minha parte um carinho e atenção especiais. Isso é natural! Sempre damos atenção a pessoas com que nos identificamos de alguma forma, isso é muito saudável. Mas o que estou enfocando neste texto são aquelas pessoas que ultrapassaram os limites do bom senso e porque não dizer, do amor próprio!

Hoje temos pessoas no meio evangélico que se autodenominam como seguidores fiéis de artistas ou até mesmo de líderes religiosos. A situação é tão esdrúxula que estas pessoas chegam a perder a identidade própria e assumem uma marca que geralmente une o  nome do Artista/Ídolo + o sufixo ETE … tipo “Chacrete”, os mais experientes irão lembrar que estas eram as assistentes do Velho Guerreiro, conhecido como Chacrinha – Alô Terezinha!!!!!! -  temos as Kakazetes, Neymaretes, Luanetes … e por aí vai! Neste meio temos comunidades, fóruns, associações, debates acalorados, discussões, campanhas e uma infinidade de atitudes em prol do artista preferido e muitas das vezes retaliações, comentários ácidos, críticas, citações maldosas entre grupos opostos no melhor estilo Marlene e Emilinha de tempos atrás.

Esses grupos defendem com unhas e dentes os seus artistas de preferência – neste caso talvez a palavra mais correta fosse mesmo “ídolos”, mas vamos manter “artistas de preferência – e não conseguem ver e aceitar as falhas destas pessoas! Consideram-os acima do bem e do mal. Colocam-os em pedestais e passam a idolatrar essas pessoas como se isso fosse aceitável no meio cristão!

Sei que este meu texto poderá desagradar a algumas pessoas, mas peço que considerem esse alerta como um carinho e uma preocupação de alguém que quer preservar os mais saudáveis conceitos e ensinamentos cristãos. Assim como Paulo na carta de Filipenses no capítulo 3 em que afirma: “Todos nós que somos espiritualmente maduros devemos ter essa maneira de pensar. Porém, se alguns de vocês pensam de maneira diferente, Deus vai tornar as coisas claras para vocês”  - quero que vocês entendam que essa exortação é feita com o maior respeito e amor possível!

Quando vejo ou ouço pessoas se jactando de serem ”alguma-coisa-etes”, confesso que me vem uma profunda tristeza. Ainda o Apóstolo Paulo no versículo 17 do capítulo 3 de Filipenses nos exorta a sermos “imitadores dele como ele é de Cristo” É tão clara a mensagem neste aspecto! Devemos ser reconhecidos como imitadores de Cristo, e por isso até pegamos emprestado o seu próprio nome, afinal devemos ser reconhecidos como CRISTÃOS e não como seguidores desse ou daquele artista!

Quero que vocês entendam claramente o que estou dizendo aqui! Não estou pedindo para você que faz parte de um fã-clube gospel deixar de ouvir, admirar ou mesmo consumir os produtos deste ou daquele artista. O que estou dizendo é que em tudo devemos ter EQUILÍBRIO e BOM SENSO! Erramos porque não conhecemos as Escrituras! Cristo deve ser nosso exemplo, nosso modelo de conduta! Nada além dEle! Nada pode nos tirar do alvo! Nada deve substituir nossa meta, nosso objetivo, que seja o de tornarmo-nos semelhantes a Cristo!  Em Êxodo 20, entre os dez mandamentos, no versículo 3, mais uma vez essa questão é comentada sem margem para dúvida! “Não terás outros deuses diante de mim”.

E essa distorção entre respeito, carinho, admiração transformada em algo exagerado não está restrita ao mundo artístico. Essa admiração exacerbada também está presente (misericórdia!) no meio dos líderes eclesiásticos. Hoje temos os fãs do apóstolo tal, os seguidores do bispo X, os admiradores do líder Y … gente que é capaz de seguir cegamente este ou aquele pregador independente da teologia ensinada, das atitudes ou mesmo das falhas mais grotescas que existam. Está cada vez mais comum pessoas seguindo líderes e transformando-os em algo além do que um profeta de Deus, mas em muitas vezes como o próprio Deus! Como numa autêntica rinha, observamos pessoais digladiando-se na defesa deste ou daquele líder. É impressionante como muitos desses fãs “eclesiásticos”, muitos dos quais pastores também, acabam assimilando, incorporando os trejeitos, as falas, as opiniões do “líder supremo”.  Isso sem falar na “toalhinha com o suor do servo de Deus” (que coisa mais anti-higiênica!!!), no sabonete da prosperidade, no óleo de Israel, na rosa ungida, na vela do amor … e numa série de sincretismos que simplesmente tentam diminuir o sacrifício maior e suficiente já pago por Cristo na cruz!

E se você é um desses fãs, esteja atento para esta informação: conhecendo grande parte dos artistas do meio gospel e mesmo alguns no meio secular, a esmagadora maioria destes, não se sente confortável com a relação intensa com os fãs e, principalmente, na relação muitas das vezes invasiva que estes tentam manter. Imagine-se você tendo que responder diariamente a 356 mensagens no twitter, a 878 cutucadas no Facebook, a 394 fotos nos eventos, a 853 autógrafos, a 356.038 perguntas sem a menor noção e ter a sensação de que todos os seus passos (e muitas das vezes de seus familiares) são controlados por uma turba de fãs. Dá para manter o sorriso e a pele hidratada com tanta pressão? Difícil né?

Não estou dizendo, quero ressaltar, que as pessoas não possam gostar deste ou daquele artista e que demonstrem isso das formas as mais variadas possíveis. Tampouco quero dizer que os artistas devam fugir das pessoas “como o diabo foge da cruz”, nada disso! Como profissional de marketing é natural que eu trabalhe focado em grupos de pessoas que admiram e consomem os produtos daquele determinado artista. Isso faz parte do negócio! Mas como cristão e como alguém que tem um pouco mais de experiência de vida, tenho a responsabilidade de alertar a estes jovens e adolescentes que seguem e curtem determinados artistas de forma um tanto efusiva, além do som senso, que estes devem mudar o foco de suas vidas passando apenas para aquele que merece todo nosso louvor, admiração e paixão absoluta: Jesus Cristo!

Essa nova cultura de fã-clubes no meio gospel chegou à falta de noção de um dia, no twitter, uma pessoa que nem me lembro hoje mais quem seria, me perguntou se poderia criar uma conta @faclubemauriciosoares ou algo do tipo, ou seja, uma bizarrice descomunal! Imediatamente não só proibi a iniciativa como fiz questão de rechaçar qualquer ação próxima daquilo. Depois de comentar esse fato grotesco, vou me despedindo entendendo que já falei o suficiente sobre o assunto.

 

Por Mauricio Soares - profissional de marketing, jornalista, blogueiro, mas antes de qualquer outra definição, simplesmente alguém que segue a Cristo como referência máxima no dia-a-dia.

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