O mal que vem assolando o mercado gospel

O mal que vem assolando o mercado gospel

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:10

mauricio soares_Sony

Este será um texto que poderá ser mal interpretado por muita gente. Já vou me antecipando às reações porque conheço muito bem o que sofro quando costumo desnudar um pouco desse nosso mundo gospel tupiniquim. Infelizmente não somos um meio onde tudo são flores. Também não vivemos em perfeita harmonia, respeitando as diferenças e unindo-nos nos pontos em comum. Ou seja, como um ser em profunda evolução, o mercado gospel, em especial ainda está em alguns aspectos em pleno século XVIII em meio às condições insalubres e desumanas do que conhecemos como Revolução Industrial. Mas como, desde o início desse blog, quando não tínhamos mais do que 2 ou 3 leitores, a nossa missão sempre foi de observar esse mercado com análise e massa crítica, então vamos enfrentar esse pânico pelo desconhecido, defendendo-nos das flechas envenenadas, zarabatanas e armadilhas pelo caminho.

Alguém pode me dizer de bate pronto quantas livrarias ou pontos de venda temos no mercado gospel brasileiro? Alguém pode me assegurar o número de emissoras de rádio transmitindo música gospel no país? Qual o verdadeiro perfil de consumo do mercado cristão? Tem alguém que pode me apontar as maiores tendências musicais no nosso segmento para os próximos anos? Hummm … alguém pode me dizer quem são os artistas que estão despontando no sul do país? Então, será possível que alguém pode me indicar alguma banda que vem fazendo um som diferenciado?
 
Para a maior parte destas perguntas a resposta simplesmente é: Não sei! E posso assegurar-lhes que a inexistência destas e de outras informações importantes em nosso meio tem apenas um único motivo: PREGUIÇA! É isso mesmo! Ouso afirmar com todas as letras que boa parte do desconhecimento de nosso mercado tem um único e suficiente motivo, a saber: a mais absoluta falta de vontade de aprimoramento.
 
Mas antes de focar-me no personagem, quero ater-me por algumas linhas em possíveis causas para esse mal, a preguiça. O primeiro aspecto tem a ver com o tipo de empreendedores que temos em nosso meio. Boa parte dos donos de gravadoras, editoras, mídias e empresas de nosso mercado são pastores, bispos, apóstolos, patriarcas, enfim, pessoas com personalidade forte, boa parte formada por auto-didatas, o melhor modelo de self-made-man. Estes líderes não são nada afeitos às discussões de idéias. Simplesmente optam pela estratégia: Faz-assim-que-eu-tô-mandando! Posso afirmar isso com profundo conhecimento de causa, podem crer! Então, maioria avassaladora dos profissionais das empresas do nosso segmento é de pessoas que simplesmente cumprem ordens e diretrizes. Não são pagas para pensar, apenas para executar um modelo previamente definido pelo líder máximo da corporação.
 
Sem espaço para a ousadia, a criatividade, a inovação, o profissional torna-se um mero repetidor de tarefas, um tipo de funcionário que pode ser substituído com extrema facilidade por seu empregador. 
 
Outro aspecto que inibe a criatividade e incentiva a preguiça em nosso meio é justamente a baixa remuneração. Não há como você reter talentos sem que haja uma política de remuneração adequada e mais do que isso, que tenha um gerenciamento saudável das questões de RH. Por falar em RH, na esmagadora maioria das empresas do segmento gospel, RH significa tão somente um profissional responsável pelas questões de DP, departamento pessoal. Não há qualquer política que vislumbre o funcionário como importante patrimônio da empresa. Falo isso, mais uma vez, ressalte-se, com conhecimento profundo de causa!
 
Então, se uma empresa não retém seus melhores funcionários. É bem possível que entre os profissionais esta empresa seja vista apenas como uma ponte para algo melhor ou então como um paliativo até que se consiga um novo projeto. Com isso, fica muito fácil termos mais uma vez o fenômeno da preguiça entre os profissionais. É triste, mas posso fazer uma enorme lista de ex-profissionais do mercado gospel que atualmente estão atuando em diferentes ramos de negócios simplesmente porque não viram futuro neste segmento. Apenas para ilustrar ainda mais esse comentário, podemos fazer uma pesquisa e conferir quantas empresas em nosso meio investem em cursos de capacitação e desenvolvimento para sua equipes. O resultado será ínfimo, entre outras coisas, pelo simples fato destas empresas não enxergarem seus funcionários como ativos e sim como despesas tão somente!
 
Sem uma política séria, planejada e administrada por profissionais de RH, as empresas do segmento gospel jamais conseguirão reter os melhores profissionais e assim, contarão com uma mão de obra de baixíssima qualidade, despreparada e desmotivada.
 
É fato que boa parte do amadorismo em nosso meio é resultado dos próprios gestores, empresários que militam nesse mercado. Assim como seus funcionários, boa parte destes empresários jamais buscou algum tipo de aprimoramento técnico. A intuição é a marca máxima desse mercado onde muitas das vezes esse sentimento é divinizado tornando as decisões não mais humanas, mas do Alto. É muito comum que estes empresários iniciem seus discursos com o texto: “Deus me deu uma estratégia …” – quando é de Deus mesmo está ótimo! O pior é quando Deus é colocado como mentor e sequer foi consultado sobre essa sociedade, projeto ou tudo mais.
 
Mas, entendendo todas estas questões que acabei de mencionar, gostaria de seguir por mais algumas linhas enfocando não mais a figura do mega-líder, mas agora observando a figura do funcionário. Particularmente creio que mesmo com todas as indicações adversas, aquele profissional que tem como meta fazer a diferença no seu trabalho, independente das condições externas, ele deve superar tudo e empenhar-se para alcançar os melhores objetivos. Ao longo destes meus 24 anos de estrada, já trabalhei lado a lado com pessoas dos mais diversos tipos. Recordo-me que quando ainda estava começando na carreira, alguns amigos diziam que eu estava na fase do “primeiro amor”, da paixão em fazer as coisas acontecer. E que, boa parte das coisas que eu aprendia nas aulas da universidade jamais seriam utilizadas no meu dia-a-dia profissional. A minha atitude naquela época era de simplesmente não dar ouvidos a estas pessoas e simplesmente empenhar-me para fazer o melhor.
 
Longe de querer ser um exemplo para ninguém, mas desde cedo quis fazer o melhor e já com 23 anos de idade assumi uma gerência de marketing em um dos mais importantes ministérios evangelísticos do país. Naquela época eu cuidava de uma das mais atuantes editoras do Brasil, responsável pelas publicações do pastor Caio Fábio, ícone do movimento evangélico. Ou seja, eu simplesmente focava em fazer o melhor, ia lá e fazia. É como uma frase atribuída a Jean Cocteau – “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez”
 
Então, resumindo meu post de hoje, gostaria de incentivar a todos que de alguma forma fazem esse nosso mercado gospel tupiniquim para que arregacem as mangas e trabalhem arduamente pelo crescimento – EM QUALIDADE – deste meio. E para isso, precisamos deixar de lado a PREGUIÇA de não ousar. Deixar de lado a PREGUIÇA para repetir fórmulas. Deixar de lado a PREGUIÇA de não aprofundarmos no conhecimento de tudo que nos cerca. Deixar de lado a PREGUIÇA e sairmos do conforto de nossos escritórios, pois o mercado é na rua, no contato com as pessoas! Deixar de lado a PREGUIÇA e tentar fazer sempre o melhor. Deixar de lado a PREGUIÇA e enxergar o seu concorrente não como inimigo mas como alguém que poderá ajudá-lo a desenvolver mais. Especialmente na área fonográfica, deixar de lado a PREGUIÇA para ouvir novos artistas, para ir a shows pelo Brasil, para conversar com pessoas, dar espaço para novos compositores, novos designers. No caso dos artistas, deixar de lado a PREGUIÇA para buscar sempre estar um passo à frente dos demais!
 
Acho que já não podemos mais aceitar o ditado do “em terra de cego, quem tem um olho é rei”. Precisamos melhorar nosso mercado! Precisamos ter mais profissionais com visão aguçada e muito menos caolhos, míopes e mesmo cegos! Mas para isso, precisamos antes de mais nada vencer este terrível mal que insiste em nos paralisar, a preguiça! Mãos à obra e vamos juntos fazer a diferença!
 
por Maurício Soares
 
 
 
 

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