"Sou gente do caminho", afirma Susana de Oliveira

"Sou gente do caminho", afirma Susana de Oliveira

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:01

Na entrevista anterior , que a cantora e compositora cristã Susana de Oliveira concedeu ao portal Lagoinha.com, ela falou de sua carreira, de como e quando a música passou a fazer parte de sua vida até se tornar ministério e de como se sente por sem quem é e fazer o que faz. Nessa nova entrevista, Susana fala de sua fé e caminhada no evangelho e, claro, detalha sua carreira e caminhada também com a música. Ela que já presença confirmada no 1º Festival de Verão da Mocidade da Lagoinha, que acontece no dia 29 desse mês, no Templo, a partir das 19h, com entrada franca. A julgar pelo caminho já percorrido, por onde tem passado e quer chegar, de fato, ela é e tem sido gente do caminho. Segue a entrevista:

Lagoinha.com (LC): Em breves linhas, o que diria de sua conversão e experiência com o evangelho, já que desde pequena foi criada e inserida numa comunidade evangélica?

Susana de Oliveira (SO) : Congrego na Igreja Batista da Graça desde pequena. Minha mãe só não é membro fundadora de lá porque ela era criança na época. (Risos.) Se não, ela teria sido. Mas minha avó era. Viveu 103 anos. Ela tem uma história bonita. E desde criança estive na igreja com meus pais, eles sempre muito envolvidos. Lembro de uma viagem de família que fiz para o Sul. Num domingo fomos para uma igreja bem pequena, próximo à Balneário de Camboriú, e lá vi um grupo de louvor que chamou muito minha intenção e me senti realmente tocada nesse dia. Aquela não era a realidade da minha igreja, na época tão formal, tradicional. E foi nessa igrejinha que eu me converti. Não fui à frente, não levantei as mãos, mas tenho essa lembrança boa de uma decisão firme por Jesus. Não sei dizer exatamente a data, mas acredito que tinha cerca de dez anos de idade. Quando voltei, aí sim, fiz a minha decisão pública e me batizei na minha igreja. Mas tenho um grande marco na minha caminhada que se chama: “Conhecendo Deus e fazendo sua vontade”. É um estudo bíblico que participei, na minha igreja mesmo. Eu tinha 15 anos quando participei desse estudo. Foi um avivamento para minha vida. Foi quando eu pude entender que Deus fala, que Ele busca um relacionamento com a gente, que tem sonhos e propósitos para nós. Creio que a minha história se pareça com a do profeta Samuel, que desde cedo estava ali no Templo, convivendo com pessoas de Deus e sendo ensinado pelo sacerdote. Ele estava por ali, servindo, aprendendo, obedecendo. Mas num momento muito especial, ele ouviu a Deus. E, é claro, sua vida nunca mais foi a mesma.

LC: Em todo esse processo, houve alguma experiência pela qual tenha passado que fez com que chamasse a Jesus mais para perto de si?

SO: Creio que é mais que uma experiência. Eu hoje percebo melhor o processo. Após esse grande marco, lá em 1998, da época dos meus 15 aninhos, até 2008, 2009, houve um tratamento profundo de Deus na minha vida. Era como se Ele tivesse me esvaziando mesmo, e por algum motivo do alto, eu fui permanecendo. Tinha todos os motivos naturais para chutar o balde. Minha igreja foi levada por Deus a um grande ajuste de visão, de estrutura e de coração. Mas como antes de construir e edificar tem que destruir, arrancar, não precisa nem dizer que doeu bastante. Não foi fácil nem cômodo pro meu lado. E nesse tempo, eu tive grandes frustrações. Frustrei-me com amizades, relacionamentos, liderança, com tudo e todos. Deus estava literalmente tirando o meu chão, para que depois eu pudesse perceber quem de fato era Rocha nessa vida. Ele foi me moendo, amolecendo o coração e, aos poucos, eu fui me esvaziando de mim mesma, pra que Ele pudesse me encher. Foram dez anos de um grande e profundo tratamento. Minha história tem tudo a ver com a fé e perseverança. Hoje eu entendo isso. Se alguém deseja chegar mais perto de Jesus, acredite, vai precisar de uma boa dose de perseverança.

LC: O que diria de sua família em termos de educação? O que acha que herdou deles que hoje é de fundamental importância em sua conduta como cristã e ministra?

SO: Herança... É isso mesmo. Devo aos meus pais e avós muita gratidão por toda a herança que tenho e que, com certeza, me ajudou a chegar nesse lugar que eu estou hoje. Minha avó Amélia, por exemplo, mãe da minha mãe, veio da roça com o marido e filhos para Belo Horizonte, ainda nova. Largou tudo e encarou a vida. Coragem, disposição, força. Como eu disse, ela foi uma das fundadoras da nossa igreja e viu e viveu todas aquelas transformações. Por mais que ela não gostasse de certos costumes que iam mudando, ela sabia reconhecer a ação do Espírito Santo. E para ela, se vidas estavam sendo salvas para Cristo, estava tudo bem. Acho que ela era uma mulher revolucionária, sei lá, meio fora do comum. Apesar de ter estudado muito pouco, ela também veio para a cidade grande para dar oportunidade de estudo para as filhas. Com isso, minha mãe conseguiu estudar. Não foi fácil. Conseguiu bolsas, trabalhou bastante, conseguiu financiamentos... Formou-se em Terapia Ocupacional e se tornou mestre e professora de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. O mesmo espírito conquistador. Meu pai também é de origem muito simples, e meu avô deu condições a todos os filhos de estudarem. Meu avô veio de longe para Belo Horizonte. Meu pai, de vez em quando, conta da época que acordava ainda de madrugada para trabalhar na feira de frutas, no CEASA. Hoje ele é engenheiro civil, sócio de uma empresa de arquitetura e engenharia, e tem ampla experiência e credibilidade no mercado. Isso tudo sem contar da formação que meus pais adquiriram na igreja na liderança de adolescentes e jovens e em aconselhamento de casais, cursos para noivos e casados, pastoreio etc. Tudo isso faz parte do meu pacote: coragem, disposição para crescer, estudar, ir além, ler e aprender, contar sempre com Deus, confiar nele em tudo.  

LC: O que diria da música em sua vida? É talento nato ou aprendido? Ou as duas coisas?

SO: Não acho que seja talento nato. (Risos). Acredito que a questão da música em mim é algo que foi e continua sendo construído. Admito que existe algo que vem desde sempre, que é esse gosto, esse interesse, essa vontade, algo muito pessoal e natural. Não vivo sem música. Mas é que quando se fala de talento nato, subentende-se um brilhantismo, sei lá, genialidade. Não tem isso não. A gente vai se envolvendo, assimilando, buscando e aprendendo.

LC: Como nascem suas canções? Ou elas são construídas?

SO: Nascem bem a partir do cotidiano mesmo. A maior parte delas surgiu ou começou quando eu estava no meu quarto, no ônibus (risos), na rua, tudo fruto de experiências. Todas essas canções não foram fruto do acaso ou tipo assim agora vou sentar e compor. Não foi assim. Tinha um marco espiritual, uma palavra, uma experiência, e a partir disso, as canções eram geradas. Essas canções são como que um memorial para mim daquilo que Deus fez. Elas me fazem lembrar daquilo que vivi, que experimentei, que Deus falou comigo. Essa questão da musicalidade, da busca pelo belo, do detalhe, é algo que acontece de maneira natural eu acho. O intencional mesmo é falar daquilo que eu vivi, que eu aprendi, é uma necessidade pessoal. E quando me sento para compor, sai isso aí (Susana se referindo ao seu álbum e às suas músicas). Normalmente, me vêm algumas ideias a respeito de determinado assunto antes da melodia, antes da música em si. E eu tenho percebido que há muito mais liberdade quando componho sem instrumento. É que minha própria técnica me limita. É como se a harmonia já viesse acontecendo na minha cabeça enquanto eu canto e, muitas vezes, eu mesma não sei executar aquilo que eu sonorizei dentro de mim. Acho muito legal brincar com a articulação das palavras numa melodia. E geralmente pego meu celular e gravo (risos). Tenho que gravar para não perder.

LC: Poderia então citar alguns lugares ou algumas situações inusitados em que suas canções já surgiram?

SO: A canção “Ainda Que”, por exemplo, surgiu num momento difícil para mim. Eu estava saindo da faculdade. Lembro que caminhei até a Praça da Liberdade (região Oeste de BH, Minas Gerais), chorando, dando voltas e voltas. Falei tantos “ainda que” para mim mesma quantos foram necessários. Já a canção “Filhos da Promessa” surgiu na época em que eu estava participando de um congresso em Goiânia, mais precisamente retornando de ônibus para o local onde estávamos hospedados. Nesse dia estava com o violão e comecei a compor no ônibus mesmo. A canção “Flores” nasceu quando estava no ônibus também, dessa vez voltando para casa, vindo da faculdade. Comecei a lembrar dos frutos do Espírito. Achei que aquilo merecia uma música e, quase que em tom de brincadeira, desci a rua cantando. Boa lembrança. Mas houve muitas canções que surgiram em casa. Como “Inesgotável”. Tinha feito algumas anotações na igreja, da palavra de um pastor convidado, que me tocou muito. Cheguei em casa e comecei a elaborar isso. Essa canção foi uma das poucas que compus no piano. Normalmente vou tentar harmonizar no violão, apesar de meu instrumento primeiro ser o piano. Com a canção “Salmo 23” foi diferente. Estava brincando com o violão e começou a rolar aquele arranjo inicial. Achei tão bonito. Daí acabou surgindo essa canção, com parte do instrumental antes da melodia e letra. Mas cada canção tem sua particularidade. Já teve canção que compus naquele dia que a gente está super cheio de atividades, com um dia lotado, cabeça a mil. É algo inexplicável. É Deus mesmo. Algo que vem do alto.  Mas, é sempre bom dizer que existe um processo criativo por detrás e isso é muito legal. Há um trabalho, um desenvolvimento, um mastigar de tudo. E acredito que essa dimensão do lapidar, do belo, foi se perdendo muito no meio evangélico. A Bíblia fala da beleza da santidade de Deus, da natureza como um reflexo da glória. A gente vê a poesia nos salmos de Davi e sabemos que muitos de seus salmos eram cantados. A estética é sem dúvidas matéria obrigatória no currículo de qualquer artista.

LC: Quando diz em seu blog que não tem a pretensão de ser ninguém, mas que reconhece que é matéria misturada, o que quis dizer com isso?

SO: Sinto que não tem como eu negar que estou inserida num contexto, numa realidade social, política e econômica e musical. Acredito que sou influenciada pela música que cresci ouvindo na igreja, pela música erudita, que é a minha formação, pelo que a gente canta na igreja hoje. Acredito que sou influenciada também pela música que está rolando por aí, que é a nossa música (brasileira). É como se eu estivesse imersa dentro disso tudo. São milhões de influências, e a gente vai absorvendo aquilo que o ouvido agrada, e recriando, reinventando. Seria até muita pretensão minha dizer que fiz algo novo. Só Deus que pega o nada e faz alguma coisa. A gente não. A gente vai relendo as coisas, colocando ali nossos sentimentos, gostos pessoais, nosso toque.  

LC: Nesse processo de um novo tempo em sua vida, o que está ficando para trás e o que está vindo à luz, já que esse disco é esse marco em sua vida?

SO: Acho que principalmente o eu. O eu ficou para trás e tudo que Deus foi fazendo foi no sentido de eu perceber que não tem mais lugar para o eu. É Ele, tudo é Ele. Eu não dou conta, eu não consigo, eu não sou nada. Ficou para trás o orgulho, o egoísmo. E vou lutar para que continue assim. Foi um processo de morte do eu. Parece que cheguei num ponto de total entrega. Agora é Ele. Ele é a minha luz, o meu chão, minha segurança. Realmente é. Não sei o que eu faria sem Ele.  

LC: Por todo seu trabalho e seu carisma percebe-se claramente que você é uma pessoa apaixonada, viva. Como explicaria isso?

SO: Não é porque gravei um CD, que aliás é fruto de vida e não o contrário. E se eu tenho alguma vida, devo à Videira Verdadeira, que é Jesus. Se algum dia eu me esquecer que a Palavra de Deus é viva e eficaz, é suicídio, é secar na certa. É ele quem me alimenta. Não vou me esquecer.

LC: Sonho. Onde quer chegar?

SO: Meu sonho é ser aprovada por Deus e corresponder às expectativas que Ele tem para mim. Hoje olho para tudo isso e até onde cheguei e percebo que sou limitada demais para Deus ter me colocado nesse lugar. Meu sonho então é conseguir corresponder. Creio que Deus tem sonhos e percebo que eles são muito mais altos que podia imaginar. Meu sonho é ser feliz correspondendo a essas expectativas de Deus.

Lagoinha.Com: Para fechar: Susana por Susana, quem é Susana?

Susana de Oliveira: Só Deus para responder isso. (Risos). Creio que sou uma filha de Deus buscando colocar os pés no caminho. Sou gente do caminho.  

Por Marcelo Ferreira

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