Após um ano, taxa de juros deve voltar ao patamar de 2 dígitos

Após um ano, taxa de juros deve voltar ao patamar de 2 dígitos

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:24

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, colegiado responsável por fixar os juros básicos da economia brasileira, atualmente em 9,5% ao ano, se reúne nesta quarta-feira (9) e a expectativa do mercado financeiro é de que a taxa suba 0,75 ponto percentual, para 10,25% ao ano. A decisão do Copom sobre a taxa será anunciada pelo Banco Central após às 18h.

Caso a previsão do mercado se confirme, os juros retornarão ao patamar de dois dígitos (acima de 10% ao ano), algo que não acontecia desde 11 de junho de 2009. A discussão sobre a capacidade de o Brasil ter uma taxa de juros abaixo de 10% ao ano permeou o debate econômico no passado. A taxa, porém, foi atingida somente quando o BC afrouxou a política de juros para combater os efeitos da crise financeira em 2009.

Economia aquecida

O anúncio da nova taxa de juros acontecerá um dia após o IBGE ter divulgado o resultado do PIB do primeiro trimestre deste ano, que teve expansão de 9% sobre os três primeiros meses de 2009 e de 2,7% na comparação com o último trimestre do ano passado -ambos resultados expressivos.

Ao subir os juros, o BC atua para conter a demanda por produtos e serviços, e, com isso, tenta impedir um crescimento maior da inflação. Com base no IPCA, a autoridade monetária calibra a taxa de juros para que a inflação convirja para a meta central de 4,5% em 2010 e 2011. No sistema de metas, há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

Juro em dois dígitos

Segundo pesquisa realizada pelo BC com os analistas do mercado financeiro, a taxa básica de juros deve permanecer acima de 10% nos próximos quatro anos. Segundo a autoridade monetária, os economistas do mercado preveem que a taxa termine este ano em 11,75% ao ano, que recue para 11,5% ao ano no fim de 2011, para 10,5% ao ano no fechamento de 2010 e para 10% ao ano no fim de 2013 e 2014.

O economista-chefe da Mauá Investimentos, Caio Megale, observa que, na pesquisa do BC, os dados mais confiáveis são, principalmente, para este ano, mas acrescenta que, em sua visão, os juros não devem mesmo retornar a um nível abaixo de 10% ao ano no futuro próximo. ''A gente não vai ver juro de um dígito no curto prazo. Não me parece que, nos próximos cinco anos, esteja muito abaixo de 10% ao ano'', disse.

De acordo com ele, sempre que a taxa de juros chegou a um patamar abaixo de 12%, ou 11% ao ano, a economia superaqueceu e a inflação começou a subir. Para Megale, o crédito ofertado pelos bancos públicos cresce bastante, o que obriga o BC a ser mais ''conservador'' na definição dos juros. ''Os investimentos [para aumentar a capacidade da economia] precisam ser mais espalhados. Tem que investir em Educação, pois sabemos que há um gargalo de mão-de-obra'', avaliou.

Bernardo Wjuniski, analista da consultoria Tendências, avalia que a taxa de juros pode voltar ao patamar de um dígito antes de 2014, mas não sabe dizer exatamente quando. ''Deve subir e ficar em cerca de 12,25% até o fim de 2010. Tudo correndo bem, podemos voltar a ter redução ao longo de 2011, mas com uma tendência bem gradual [de queda]'', disse ele. Segundo Wjuniski, a tendência de redução gradual dos juros nos próximos anos acontecerá na medida em que os investimentos avancem e aumentem a capacidade de produção.

Na avaliação do economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ligado à indústria, a expectativa do mercado financeiro de que os juros permaneçam acima de 10% nos próximos anos é um ''sonho de uma noite de verão''. ''É a torcida organizada do mercado financeiro'', disse ele.

De acordo com o economista, os juros devem subir para 10,25% ao ano nesta quarta-feira (8), mas têm condições de retornar ao patamar de um dígito (abaixo de 10% ao ano) em um prazo menor do que o esperado pelo mercado financeiro: no decorrer de um ano e meio.

Segundo Gomes de Almeida, o que o BC está fazendo neste momento é um ''ajuste fino'' no nível de demanda da economia, mas não um ''processo de forte aumento de juros''. ''Não vai operar muito tempo em dois dígitos. A tendência dos juros é inexoravelmente para baixo nos próximos anos. A economia brasileira está em outro padrão. Não justifica uma taxa de juros tão alta'', disse.

Po Alexandro Martello

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