Aposta em alta do juro encarece crédito

Aposta em alta do juro encarece crédito

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:25

Antes mesmo de o Banco Central elevar os juros na quarta-feira, consumidores e empresas já enfrentavam aumento de taxas nos empréstimos bancários. Dados divulgados ontem mostram que o crédito para pessoas físicas e jurídicas ficou mais caro nas primeiras semanas do mês, apenas com a expectativa de alta da taxa básica de juros, a Selic. Nos próximos meses, o custo dos financiamentos deve se manter em alta.

Assim, foi interrompida uma trajetória de queda que levou os juros para as pessoas físicas a bater recorde de baixa em março. No mês passado, a taxa estava em 41% ao ano, a menor já registrada na série do Banco Central, iniciada em 1994. Em abril, porém, o custo anual já havia subido para 42,2%.

Empresas. Nos financiamentos para empresas, o aumento foi de 26,3% para 26,7% anuais. Na média, a taxa dos financiamentos subiu de 34,2% no fim de março - o menor nível desde dezembro de 1997 - para 35% ao ano em 15 de abril.

Apesar do movimento e da perspectiva de novas altas da taxa Selic, o chefe do departamento econômico do Banco Central, Altamir Lopes, diz que ainda não é possível dizer que os juros continuarão a subir.

"É preciso esperar mais dados para afirmar que há mudança de tendência." Ele afirmou que o encarecimento do crédito no início de abril é reflexo do movimento do mercado de juros futuros, segmento que acompanha as previsões para a Selic.

Mas há outro fator que explica a alta dos juros. Nos primeiros 15 dias de abril, instituições financeiras aumentaram a margem cobrada nos empréstimos, o chamado spread bancário.

Esse movimento tem sido mais relevante: na quinzena, o juro médio subiu 0,8 ponto porcentual, sendo 0,6 ponto pelo aumento do spread e 0,2 ponto pelo maior custo de captação.

Calote menor. Normalmente, essa margem cobrada pelos bancos aumenta quando há piora da inadimplência. O calote, porém, tem diminuído: em março, a parcela de empréstimos com atraso superior a 90 dias recuou de 5,3% para 5,2%, o nível mais baixo em 12 meses.

"A alta do spread chama a atenção porque não há aumento da inadimplência. Isso pode indicar que bancos estão pessimistas quanto à capacidade futura de pagamento dos clientes nesse novo período de aumento do juro", diz o professor do Insper, Ricardo José de Almeida.

Almeida alerta para a hipótese de que bancos decidiram aumentar os spreads para fazer reserva com o objetivo de cobrir eventual prejuízo com calotes. Isso poderia acontecer, segundo ele, porque juros maiores fazem com que endividados passem a rolar dívidas em operações mais caras.

Um exemplo é o consumidor que usa eventualmente o crédito rotativo do cartão de crédito para pagar em dia o financiamento da casa. Com a taxa do cartão é maior, a troca eleva o juro pago mensalmente, o que pode gerar uma bola de neve e o consequente descontrole do orçamento.

"Como estamos em um período de alta do juro, é preciso ter cautela porque o consumidor pode ter de pagar mais para continuar rolando suas dívidas", diz o professor de finanças. Para ele, é ainda mais importante que o consumidor evite operações caras como o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial em períodos de aperto monetário.

Para os economistas Alexandre Andrade e Mariana Oliveira, da consultoria Tendências, o spread deve subir este ano, por causa de alta de juros pelo BC.

PARA ENTENDER

1.O que é taxa de captação? É o custo que os bancos têm para captar os recursos que serão emprestados para os seus clientes. É, normalmente, a taxa paga em operações como a remuneração dos Certificados de Depósito Bancário (CDB).

2.O que é spread bancário?

É a margem cobrada pelos bancos nos empréstimos realizada pelos seus clientes, que é a diferença entre a taxa de captação e o juro ao cliente. Além do lucro, estão os impostos e a reserva para cobrir prejuízos por calote.

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