Como Nicolas Cage se tornou um dos piores investidores da década

Como Nicolas Cage se tornou um dos piores investidores da década

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:19

No mundo das celebridades, há dois tipos de investidores. Por mais surpreendente que isso possa parecer, o grupo mais numeroso é formado por músicos que sabem que as vendas extraordinárias de um disco podem não se repetir quando o próximo álbum for lançado, por exemplo. São pessoas muito conservadoras na hora de investir o próprio dinheiro - apesar de não abrirem mão de alguns luxos no dia a dia. Já o segundo grupo é menos numeroso, mas muito mais ruidoso. Inclui gente como Mike Tyson, que, como boxeador ou como investidor, já foi à lona algumas vezes. Ou então Michael Jackson, cujas extravagâncias corroeram uma fortuna que parecia infinita.

Nenhum deles, no entanto, tem um comportamento tão bipolar quanto Nicolas Cage. O ator americano de 46 anos sabe e gosta de trabalhar. Em sua carreira prolífica, já fez mais de 60 filmes - entre eles,   A Rocha, Cidade dos Anjos, 8 Milímetros, A Outra Face, Adaptação   e   Torres Gêmeas . Foi indicado ao Oscar duas vezes, e faturou o prêmio em 1995 pelo papel principal em   Despedida em Las Vegas . Já chegou a cobrar 20 milhões de dólares para participar de um único filme, um dos maiores cachês de Hollywood. Segundo a revista   Forbes , faturou 40 milhões de dólares apenas no ano passado.

Se por um lado consegue ser uma verdadeira máquina de ganhar dinheiro, Cage também demonstra ter uma capacidade ainda maior para perdê-lo. Sonegação de impostos, investimentos imobiliários fracassados, endividamento excessivo, gastos milionários com brinquedinhos de luxo e desentendimentos com ex-mulheres fizeram o ator perder quase tudo o que tinha. Para pagar dívidas com bancos e com o governo, muitos de seus bens foram leiloados ou vendidos nos últimos meses. O ator também tem aceitado papéis em filmes de qualidade duvidosa, como   O Aprendiz de Feiticeiro , que estreia no Brasil em agosto. Abaixo o Portal EXAME explica os cinco principais erros de Cage - e como evitá-los:

1 - Sonegação de impostos:   Em entrevista à revista   People , o ator declarou em janeiro ter uma dívida de 14 milhões de dólares a saldar com o órgão de arrecadação de impostos dos   Estados Unidos . Quase a metade desse valor refere-se a dois processos abertos no ano passado pelo governo americano contra Cage por sonegação. O ator teria cometido infrações em várias de suas declarações tributárias na última década. Em sua defesa, Cage culpou o ex-agente Samuel J. Levin, atribuindo-lhe a responsabilidade pela sonegação e acusando-o por negligência, fraude e danos a sua imagem. O ator cobra na Justiça uma indenização de 20 milhões de dólares do ex-empresário. Segundo o advogado tributarista Samir Choaib, do escritório Choaib, Paiva e Justo, a responsabilidade pela declaração do Imposto de Renda é sempre do próprio contribuinte. Portanto, a tarefa nunca deve ser entregue a alguém que não inspire confiança. Para quem não possui uma renda tão grande e tem dúvidas sobre a declaração, é aconselhável contratar um contador. Já quem tem patrimônio no exterior, movimentou muito dinheiro em bolsa ou possui ganhos representativos com atividade rural deve procurar auxílio de um advogado tributarista. Declarações muito complexas costumam custar entre 5.000 e 50.000 reais. A despesa, no entanto, é bem menor do que os juros e as multas que serão cobradas pela Receita Federal em caso de erros ou infrações. E se a empresa contratada cometer algum erro, o contribuinte poderá pedir o ressarcimento do prejuízo posteriormente.

2 - Investimentos imobiliários fracassados:   São os principais responsáveis pela derrocada de Cage, que chegou a ter 15 residências de luxo diferentes apenas para uso pessoal. Alguns dos imóveis mostram o quão esbanjador e ingênuo o ator foi. Em 2006, ele comprou uma ilha de 160.000 metros quadrados nas Bahamas, algo bem difícil de revender. Também chegou a ser dono de dois castelos medievais, um no Reino Unido e outro na Alemanha, cujas histórias não lembram em nada os contos de fadas. O Midford Castle, na Inglaterra, por exemplo, foi comprado por 5 milhões de libras em 2007 e vendido, dois anos depois, por 3,5 milhões de libras.

Além de terem sido comprados em um momento de bolha nos mercados imobiliários, boa parte desses imóveis foi financiada com empréstimos bancários. O problema é que ao mesmo tempo em que ele descobriu que devia milhões de dólares ao Fisco, os bancos dos EUA estavam no olho do furacão do "subprime" e se recusavam a refinanciar empréstimos de devedores com histórico duvidoso. Em um momento de forte desvalorização no mercado imobiliário, vender algumas de suas casas era equivalente a assumir um enorme prejuízo.

O ator ainda tentou evitar o pior. Precisando de dinheiro para quitar parte das dívidas, colocou à venda, por exemplo, uma casa em Bel Air, na Califórnia, por 35 milhões de dólares. Sem interessados, o imóvel teve que ir a leilão. Mesmo pelo preço mínimo de 10,4 milhões de dólares, ninguém apareceu para comprar a casa, que terminou nas mãos do banco que a financiou. Uma mansão em New Orleans teve destino parecido. Foi arrematada em leilão por 5,5 milhões de dólares no final do ano passado. Outro imóvel de 2.200 metros quadrados em Rhode Island foi vendido. E uma mansão em Las Vegas deve ser leiloada em breve.

Segundo a consultora financeira Marcia Dessen, a maioria dos investidores consegue enxergar a bolsa como um mercado de risco devido às fortes oscilações de preço das ações. No entanto, ao contrário do que diz a sabedoria popular, imóveis também exigem cautela. As oscilação de preço são bem menores, é verdade, mas há um risco claro de falta de liquidez. "É difícil vender um imóvel pelo seu preço justo de uma hora para outra, principalmente se o mercado imobiliário não passar por um momento favorável", diz Marcia.

Por esse motivo, a consultora recomenda que artistas ou consultores - que não possuem um rendimento constante como os trabalhadores de carteira assinada - sejam mais conservadores que a média na hora de investir o próprio dinheiro. Aplicações em renda variável só são recomendados para quem já acumulou um patrimônio representativo. Já os imóveis são interessantes desde que o investidor mantenha uma reserva de liquidez para eventuais emergências.

Outro cuidado é evitar aqueles investimentos cujas projeções de rendimentos saltam aos olhos - como criação de boi gordo e avestruz ou esquemas de pirâmides. Muitos artistas ou jogadores de futebol que não contam com uma assessoria financeira adequada e não conhecem o passado de golpes no mercado brasileiro acreditam em promessas de dinheiro fácil. "É preciso ser racional e desconfiado na hora de investir", diz ela.

3 - Gastos estúpidos:  A lista de despesas de Cage é longa e irracional. Nos anos de vacas gordas, ele chegou a doar 2 milhões de dólares para a Anistia Internacional de uma só vez. Em uma disputa lance a lance com o ator Leonardo di Capprio, venceu um leilão por um esqueleto de dinossauro, pelo qual concordou em desembolsar 276.000 dólares. Sua coleção de gibis, vendida há alguns meses para o abatimento de dívidas, valia 1,6 milhão de dólares. Mas só recentemente a maior parte das extravagâncias de Cage foi revelada. Acusado pelo ator como um dos responsáveis por sua ruína financeira, seu ex-empresário Samuel J. Levin se defendeu dizendo que alertou várias vezes Cage sobre os gastos excessivos. Segundo Levin, o ator seria dono de 22 carros de luxo, incluindo nove Rolls-Royce, uma das marcas mais caras do mundo. A lista incluiria um jato Gulfstream (um dos preferidos dos grandes empresários), quatro iates (um para cada uma de suas casas de praia favoritas), milhões de dólares em obras de arte e joias.

"A regra de não gastar mais do que ganha vale para tanto para quem ganha mil reais quanto para quem ganha milhões", diz Adalberto Savioli, presidente da Associação Nacional das Instituições de   Crédito , Financiamento e Investimento (Acrefi). "Conheço gente que ganha 40.000 reais por mês e não consegue sair do vermelho no banco", atesta a consultora financeira Marcia Dessen. Entre os artistas, seria ainda mais comum ter despesas elevadas porque o pacote básico de consumo inclui festas, viagens e presentinhos caros, entre outros luxos. "São pessoas que confundem muito o 'ter' com o 'ser'", diz o consultor financeiro Mauro Calil.

Para Marcia Dessen, pessoas nessa situação precisam contratar alguém para assessorá-lo com o dinheiro. Esse profissional deve ter uma visão de todas as receitas, gastos e investimentos que estão sendo feitos, precisa elaborar um planejamento financeiro para reduzir os riscos de que o dinheiro acabe e tem que ter pulso firme para convencer alguém a cortar gastos quando isso for necessário. Mauro Calil explica que um erro muito comum entre pessoas que ganham muito dinheiro rapidamente é contratar um amigo ou parente como assessor financeiro. Muitas vezes trata-se de uma pessoa de confiança, mas que não tem o conhecimento técnico para organizar as finanças.

4 - Endividamento excessivo:   Os gastos inúteis de Cage possuem um agravante perigoso: boa parte deles foi financiada por empréstimos bancários. No começo deste ano, dois bancos cobravam quase 40 milhões de dólares em dívidas atrasadas de Cage. Esse foi um dos motivos para que boa parte de seus imóveis fossem a leilão. Segundo o consultor Mauro Calil, quem começa a ganhar muito dinheiro dificilmente não acha que as receitas serão ainda maiores no futuro. No caso de artistas, isso só é verdade em poucos casos. O cantor Michael Jackson continua a levantar fortunas em direitos autorais mesmo depois de morto. A maior parte dos artistas, no entanto, tem um fluxo de caixa bastante inconstante durante a vida. Muitos deles são até considerados clientes de alto risco quando vão pedir um empréstimo num banco. No caso de pessoas como Nicolas Cage, o mais prudente seria constituir reservas para eventuais emergências futuras. Outra decisão prudente seria contratar um seguro para a cobertura de lucros cessantes. Se algum dia o ator não puder mais fazer filmes por qualquer motivo, uma seguradora será obrigada a garantir que ele continue a receber determinada quantia de dólares para viver com conforto.

5 - Despesas com ex-mulheres:   Em meio à barafunda financeira que enfrentou em 2009, Cage teve a estúpida ideia de tentar despejar a mãe de seu primeiro filho da casa onde vivia para pagar parte das dívidas. Christina Fulton nunca chegou a se casar com o ator, mas, em 1988, deu a luz a Weston Coppola Cage. Obviamente ela ficou furiosa com a decisão do ex-namorado e, em dezembro, ingressou com uma ação na Justiça em que pede 13 milhões de dólares e a propriedade da casa onde vive como reparação pelo danos morais sofridos. O ator já havia tido problemas com cônjuges no passado. Ele tem duas ex-mulheres, a atriz Patrícia Arquette e Lisa Marie Presley, filha de Elvis Presley. Com a segunda, permaneceu casado menos de quatro meses.

Segundo o advogado Samir Choaib, o jeito mais fácil de evitar problemas financeiros ligados ao casamento é firmar um pacto antenupcial. Nesse tipo de contrato, é possível estabelecer a separação de bens, por exemplo. Dessa forma, o dinheiro do casal poderá ser gastos pelos dois enquanto o matrimônio durar, mas, em caso de divórcio, o cônjuge não terá direito nem sobre a parcela do patrimônio acumulada após o casamento. A mulher ou o marido só poderá usufruir de parte da herança em caso de morte do parceiro. Segundo Choaib, existe uma exceção à regra. Quando o casamento dura décadas e um dos cônjuges comprova ter ficado em uma situação financeira delicada após a separação, ele pode pleitear uma parte dos bens do parceiro mesmo que um pacto de separação de bens tenha sido assinado.

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