Coordenador diz que programa social é marca de ousadia de Dilma

Coordenador diz que programa social é marca de ousadia de Dilma

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:40

Coordenador do primeiro programa social do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o agrônomo José Graziano tem sido bombardeado nos últimos anos por um suposto “fracasso” do Fome Zero, lançado com pompa pelo ex-presidente em 2003.

Presente ao lançamento do Brasil Sem Miséria, o plano de erradicação da pobreza extrema da presidente Dilma Rousseff, o ex-ministro e hoje candidato à presidência da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) rebateu as críticas.

Em entrevista exclusiva ao R7, ele considera que o Bolsa Família é uma extensão do primeiro programa, agora mais uma vez ampliado. Diz que Dilma tem boas condições objetivas para tirar 16,2 milhões de brasileiros da pobreza extrema. Mas diz que, assim como Lula, o desafio dela será mobilizar a sociedade para essa meta.

Leia a entrevista completa:

R7 – O Lula já havia implantado o Fome Zero, depois veio o Bolsa Família. Agora a Dilma lança o Brasil sem Miséria. Existe avanço? Qual? José Graziano – É muito mais difícil, muito mais complexo a erradicação da miséria do que a fome. Mas [o Brasil sem Miséria] tem muito em comum com o espírito do Fome Zero, no sentido de ser um programa pró-ativo do Estado e que também envolve Estados, municípios e governo federal. E ainda ser profundamente arraigado na sociedade, porque erradicar a fome e a miséria é uma sociedade que decide, não é um governo.

R7 – Mas erradicar a miséria envolve também dar condições de saúde, trabalho... Tarefas do governo. José Graziano – Por isso que é mais complexo. Os países que já fizeram isso, os desenvolvidos, fizeram há muito tempo. Nos Estados Unidos, em 1929, na saída da Crise [da Bolsa de Nova York], foi o que ajudou eles a saírem da crise. A Europa fez no pós-Guerra e terminou na União Europeia. Eu acho que o Brasil, embora tardiamente, com inovação e criatividade que a presidente destacou, tem tudo para dar certo.

R7 – A presidente disse que o Brasil demorou quatro séculos para dar prioridade a esse problema. Por que isso tudo? José Graziano – Eu acho que agora o Brasil está se dando conta da sua força. O Brasil acordou, nesse século 21, para o seu mercado interno. Agora que nós nos demos conta que somos 200 milhões [de pessoas] em ação. Não éramos 90 milhões, como na Copa de 70. Agora sentimos a força desses 200 milhões integrados num mercado de consumo, de massas. Essa perspectiva de ver os excluídos e tentar incorporá-los ao mercado é uma inovação muito grande, uma política inovadora que estamos fazendo, dando continuidade, como a presidenta disse, às ações do governo Lula.

R7 – Mas e a Dilma, avançou com esse novo programa social? José Graziano – Ela vai aperfeiçoar isso. Eu acho que a Dilma está conseguindo imprimir uma marca de ousadia. Acho que é muito simbólico, você vê aquela mesa lá de mulheres [aponta para a ministra de Desenvolvimento Social, Tereza Campello, cercada de auxiliares mulheres]. E a força, particularmente da Dilma e da Tereza de superar o que parece para muita gente impossível.

R7 – Mas além do fato de ser mulher, com o que ela pode melhorar a área social, para além do Lula? José Graziano – Eu acho que a Dilma está aproveitando muito bem a vantagem de suceder ao Lula. Ela não teve a herança que nós tivemos, de não encontrar um cadastro bem feito [de pessoas pobres], que não encontramos uma série de programas já implantados, como o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos, em que o governo compra comida de agricultores familiares para repassar a comunidades pobres], o programa de alimentação escolar. Ela está dando um passo adiante sobre uma base sólida. Ela está se permitindo ser ousada.

R7 – Ela tem condições de fazer melhor? José Graziano – Ela tem capacidade organizacional que nós não tivemos. Nós tivemos que criar um ministério [do Combate à Fome], que criar uma estrutura, que passar uma lei que nos permitisse começar os programas. Ela toma isso tudo, com essa máquina que tem o governo, e bota em ação. Ela é uma capitã de um time que já vinha jogando junto o primeiro tempo. Ela está no segundo tempo, que tem suas vantagens.

R7 – Muita gente critica o programa Fome Zero, dizendo que foi um fiasco que só o Bolsa Família pôde reverter. José Graziano – O Fome Zero é parte do Bolsa Família. Sempre foi, porque unificou a transferência de renda com o cartão Fome Zero. Então, o Bolsa Família é uma herança do Fome Zero e um passo adiante na organização, na estruturação e capacidade de atingir todos os municípios. O Fome Zero estava restrito a cidades com menos 50 mil habitantes do Nordeste. E com o Bolsa Família, isso vem incluir todas. Sempre houve, por um segmento da imprensa brasileira, a dificuldade de entender o programa e sua evolução. Acho que hoje, com esse programa sendo referência mundial como é, com vários países, em todas as regiões do mundo fazendo Fome Zero, isso já amainou.

R7 – O sr. acha mesmo que a Dilma vai conseguir tirar da miséria esses 16,2 milhões de pessoas, que vivem com menos de R$ 70 por mês? José Graziano – Precisa de um amplo apoio social. Se um governo consegue mobilizar uma sociedade para isso em um mandato, acho que é possível. Mas acho que temos as condições: o Brasil hoje é muito menos dividido do que era em 2003, não temos situação econômica precária de 2003, não temos inflação explosiva, dólar a R$ 5, temos um excedente produtivo muito grande. Há condições objetivas.

R7 – A menos de seis meses de governo, Dilma já enfrenta sua primeira crise política. O sr. acha que ela vai conseguir esse apoio social? José Graziano – O Lula teve crise antes de tomar posse. Acho que elas vão existir. Fazem parte do jogo político e é um direito da oposição espernear. Acho que o governo conta com uma maioria sólida para dar continuidade a esses programas [sociais]. E tem um detalhe: nesses casos, que são programas nacionais, a oposição nunca negou a sua colaboração. Eu nunca tive problema com o Fome Zero com relação à oposição, sempre foram muito construtivos. Há dificuldades, há divergências. Mas todo mundo sabe que quem ficar contra a erradicação da miséria, está eliminado politicamente.              

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