O Casino tem argumentos contratuais, comerciais e até éticos para rejeitar a fusão com o Carrefour no Brasil.
Mas ficará em situação difícil perante seus acionistas se impedir o avanço de um negócio que pode ser interessante para a empresa.
O principal argumento é a receptividade do mercado, que elevou as ações em 9,8% nos últimos dois dias, com a visão de que aumentarão os ganhos do grupo.
Além do dinheiro barato do BNDES, do apoio do governo Dilma, a fusão traz uma economia com corte de custos de R$ 1,6 bilhão por ano, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas que acompanha a proposta.
O ganho é citado em entrevista à Folha por Pérsio de Souza, sócio da Estáter, empresa que fez a intricada operação de fusão, para tentar provar que as três empresas --Pão de Açúcar, Casino e Carrefour-- teriam ganhos com a junção dos negócios no Brasil e na França.
O Casino ganharia R$ 230 milhões ao ano, se a estimativa da FGV estiver correta.
Os ganhos seriam decorrentes de sinergia, aumento de eficiência e de melhoras na logística, aponta o estudo.
Do ponto de vista comercial, elimina um dos dois únicos rivais de porte (sobra só o Walmart), aumentando o poder de barganha junto a fornecedores e estreitando as opções dos consumidores.
Com presença em diferentes países, diversifica as apostas e reduz a dependência de um só mercado.
'GANHA GANHA'
"É um ganha, ganha, ganha. Ganha o acionista e o próprio consumidor, graças ao repasse de sinergias. Todos os acionistas do Carrefour e do Pão de Açúcar terão tempo para avaliar, podendo aceitar ou não. Não tem hostilidade nessa oferta", disse Carlos Fonseca, sócio do banco BTG Pactual.
O melhor argumento contrário é que o Carrefour brasileiro, que enfrenta dificuldades e teve rombo de 500 milhões de euros em 2010, teria sido superavaliado na transação.
Na fusão, o Carrefour entra com 31% da nova empresa, enquanto o Pão de Açúcar fica com 69%. Também haveria conflito de interesse porque, quanto mais alta a avaliação do Carrefour brasileiro, mais os acionistas da matriz se beneficiam.
Segundo Percio de Souza, consultor da Estáter e "arquiteto" da fusão, Abilio não teve oportunidade de "vender" o negócio aos franceses.
"Não tivemos escolha. Eles não quiseram nos ouvir. Se não aprovar, o negócio não ocorre. Mas eles vão ter que assumir o ônus, para o resto da vida, de ter barrado uma oportunidade importante para todos", disse.
'GANHO BRUTAL'
De acordo com o estudo, o lucro por ação passaria de R$ 2,80 para R$ 4,70, o que Souza classifica de "ganho brutal". "Todos os acionistas terão ganhos financeiros".
O engenheiro diz, que dos 1,7 bilhão de euros que serão injetados pelo BNDES na operação, 1,5 bilhão de euros vão ser investidos no Brasil, para aumentar o capital da NPA (Novo Pão de Açúcar), empresa que nasceria da fusão dos três grupos.
Os 200 milhões de euros restantes (equivalente a R$ 460 milhões) seriam aplicados na França, na compra de ações do Carrefour. Um fundo do banco BTG Pactual entraria com mais 800 milhões de euros a serem investidos na França, ainda segundo o financista.
"Não é verdade que o Casino vai ser dirigido por um concorrente. A direção vai ser da NPA", rebate. Na França, ocorreria o inverso, segundo ele: o Casino passaria a controlar o Carrefour.
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