Em novas mãos, Pagé quer banir pirataria

Em novas mãos, Pagé quer banir pirataria

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:41

SÃO PAULO - Durante o dia de ontem, três caminhões se revezaram na frente do Shopping Mundo Oriental, no centro, para retirar mais de 780 mil produtos piratas e contrabandeados, entre celulares, roupas e jogos eletrônicos, avaliados em R$ 40 milhões. O shopping ficou fechado por duas semanas para ser inspecionado por uma força-tarefa dos governos municipal, estadual e federal. Alheia à confusão, na porta ao lado, a vizinha Galeria Pagé, que durante anos foi conhecida como a meca dos produtos piratas, funcionava normalmente, recebendo uma pequena multidão de consumidores.

Nos últimos quatro meses, a família Kherlakian, proprietária de 75% dos cerca de 200 pontos comerciais da Pagé, tomou uma série de medidas para tentar reverter a imagem do shopping e coibir a venda de mercadorias piratas e contrabandeadas. Se der certo, a ideia é que o modelo sirva de inspiração para vizinhos. As transformações ganharam força em abril, um dia depois da última batida das autoridades.

Os administradores do condomínio, nos dias que se seguiram, sentaram-se com autoridades para discutir alternativas para reverter o quadro de ilegalidade. Até a semana que vem, deve ser assinado um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) para regularizar a situação das lojas. O TAC foi proposto pelo Gabinete de Gestão Integrada de Segurança, liderado pela Secretaria Municipal de Segurança Urbana e supervisionado pelo Ministério Público Estadual.

À frente da tentativa de transformar a Pagé estão os quatro netos do comendador Avedis Clemente Kherlakian, patriarca da família que fundou a Galeria em 1963. Com idades entre 23 a 35 anos, os quatro jovens tentam discretamente colocar um ponto final na briga violenta que envolveu seus pais na última década e quase colocou a perder os negócios familiares. O aluguel de imóveis sempre foi a principal fonte de renda dos Kherlakians. Só a Pagé, que recebe mais de 1 milhão de clientes por mês, rende ao grupo mais de R$ 2 milhões mensais em aluguel.

A pirataria e o contrabando vendido nas lojas da Galeria desde os anos 1980 passaram a se tornar um assunto cada vez mais incômodo para a família. Como proprietários das lojas, eles recebiam o estigma de contrabandistas e tinham dificuldades para intervir nos negócios dos locatários, que negociavam produtos ilegais. A situação piorou em 2001, depois da morte do comendador, quando a viúva e os três filhos iniciaram uma briga jurídica violenta pela herança.

De um lado estava Ricardo, que chegou a ser proibido judicialmente de pisar na Pagé; de outro, seu irmão gêmeo Reinaldo, a mãe, Maria, e a outra irmã, Ana Elizabeth. Foram mais de 30 processos na Justiça, o que impossibilitou o diálogo entre as partes e prejudicou a administração do condomínio.

Nesses anos, a locação das lojas da Galeria Pagé se tornou um caos. O locatário pagava o aluguel para a família. E dividia o ponto em até 12 boxes, sublocados para pequenos lojistas a valores altíssimos - e repletos de contrabando.

Foi quando entraram em cena os netos do comendador. Dois filhos de Ricardo, dois de Ana Elizabeth e o advogado de Reinaldo firmaram um armistício. E chamaram a Rede Brasileira de Inteligência (RBI), grupo mantido por entidades empresariais, para desenvolver o projeto.

Disque-denúncia

Um passo importante foi a aprovação em assembleia de condomínio de amplos poderes para os administradores da Pagé. Atualmente, lojistas flagrados vendendo produtos ilegais são notificados. Se em 24 horas não tirarem a mercadoria da prateleira, a PM é avisada. As sublocações foram proibidas e só pessoas jurídicas podem alugar o ponto - o que facilita a fiscalização da Receita. Um disque-denúncia será criado. A ideia agora é criar a Nova Galeria Pagé Outlet. "Vamos mostrar que é possível ser popular e legal", diz Carlos Eduardo Araújo, presidente da RBI.

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