Inflação vira arma contra crise na Europa e nos EUA

Inflação vira arma contra crise na Europa e nos EUA

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:16

Uma maior tolerância com o avanço da inflação vem sendo verificado nos Estados Unidos e na Zona do Euro desde 2011. Essa estratégia nas duas regiões mais afetadas pela crise financeira, que teve início em setembro de 2008, tem como principal objetivo tentar evitar uma maior retração e até mesmo provocar alguma reação da economia para tentar sair da estagnação.
O raciocínio por trás dessa tese é o de que uma inflação mais alta, entre 4% e 6%, portanto, acima dos 2% tolerados pelos países desenvolvidos, pode facilitar um ajuste no endividamento dos governos, empresas e famílias.

Muitos especialistas acreditam que essa estratégia tem fundamento, pois com um pouco mais de inflação os juros reais pagos pelos endividados diminuem. Na prática, isso significa uma ajuda para sair do buraco e reorganizar as finanças.

“Uma política mais expansionista, com menos juros e tolerância com a inflação em um patamar mais alto, é a aposta para fazer a economia reagir tanto nos Estados Unidos quanto na Europa”, disse Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank.

Em janeiro, a taxa de inflação no conjunto das 17 economias da zona euro foi de 2,7%, mesmo índice registado em dezembro do ano passado, segundo a Eurostat, a agência oficial de estatísticas econômicas da Europa.
Há 14 meses a taxa de inflação na zona euro supera a barreira dos 2%, nível que na visão do Banco Central Europeu (BCE) seria adequado para a estabilidade dos preços em uma economia saudável. No acumulado de 2011, o indicador que mede a variação de preços na região dos países que adotam o euro como moeda registrou alta de 2,75%.

Na avaliação do economista Samuel Pessoa, consultor do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getulio Vargas (FGV), é inevitável o surgimento de uma inflação generalizada no bloco, inclusive na Alemanha. Segundo

Pessoa, com esse cenário a competitividade das economias problemáticas será automaticamente corrigida. Na avaliação do economista, se a inflação não for uma saída possível em algum momento, os juros básicos na Europa irão aumentar dificultando a rentabilidade dos bancos.

Nesta quinta-feira o colegiado do BCE se reúne para decidir sobre os rumos da política monetária no bloco. Desde novembro de 2011, quando o italiano Mário Draghi assumiu a presidência da instituição, a taxa de juros foi reduzida duas vezes, estando atualmente em sua mínima histórico de 1%. As projeções do mercado financeiro apontam para uma manutenção da taxa no encontro dessa semana.

Estados Unidos

No fim de janeiro, o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, reiterou que as taxas de juros provavelmente continuarão próximas de zero até pelo menos o fim de 2014 e anunciou uma decisão histórica ao adotar uma meta de inflação de 2%. O maior objetivo do governo americano é aliviar o endividamento, principalmente das famílias, para com isso estimular o consumo e o mercado de trabalho.

Para o professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Antonio Corrêa de Lacerda, os responsáveis pela política econômica americana estão corretos. Segundo ele, apesar da fixação de uma meta de inflação, esse parâmetro serve apenas como norteador. “No momento, isso não se aplica. Se o governo americano tentar trazer a inflação para perto de 2% pode jogar o país numa recessão e o que se busca é uma reação da economia o mais rápido possível”, disse.

Essa mistura de maior tolerância à inflação e afrouxamento monetário, usado para sustentar o setor financeiro, reduzir custos de produção e desvalorizar o dólar para impulsionar as vendas ao exterior, tem mostrado resultados. Dados sobre produção, exportações, gastos dos consumidores e desempenho do varejo têm mostrado sinais de recuperação.

Em janeiro, os Estados Unidos registraram a maior geração de postos de trabalho dos últimos nove meses. Foram abertas 243 mil vagas no mês passado. Com isso, a taxa de desemprego do país caiu para 8,3%, o menor patamar em quase três anos, indicando que o crescimento econômico verificado no último trimestre de 2011 segue dando sinais positivos no início de 2012.

Brasil

No Brasil, o Banco Central iniciou em agosto do ano passado um processo de redução da taxa de juros básica da economia, a Selic, contando com a desaceleração no mercado internacional para ajudar a segurar os preços no mercado interno.

Nesta sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítica (IBGE) divulga o resultado da inflação oficial de janeiro medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A média das projeções dos analistas indica uma alta de 0,58% para o indicador no primeiro mês do ano. Em dezembro, a taxa ficou em 0,50% com o IPCA fechando o ano em 6,5%, no teto da meta estipulada pela autoridade monetária.

Atualmente a Selic está em 10,5% ao ano e as projeções do mercado financeiro apontam que o BC deve levar a taxa para 9,5% ao ano, com reduções graduais nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). A próxima reunião do colegiado do BC será realizada no dias 6 e 7 de março.

Na segunda-feira, o mercado financeiro aumentou ligeiramente a expectativa para a inflação e o crescimento da economia neste ano, ao mesmo tempo em que manteve a previsão para a taxa básica de juro em 2012 e a elevou para 2013.

Segundo o relatório Focus do BC, a estimativa para o IPCA subiu para 5,29% neste ano, ante a projeção de 5,28% na semana anterior. Para o Produto Interno Bruto (PIB), as instituições financeiras apontam crescimento de 3,3% em 2012, contra 3,27% no relatório anterior.
O levantamento mostrou também que os representantes do mercado financeiro mantiveram a expectativa de que a Selic encerre 2012 em 9,5% ao ano, mas elevaram a projeção para 2013, de 10,38% ao ano para 10,75% ao ano. 

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