Intervenção ampla não garante tendência de alta do dólar

Intervenção ampla não garante tendência de alta do dólar

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:00

A intervenção do Banco Central no mercado futuro de câmbio marca uma nova fase na luta do governo contra a queda do dólar. A nova estratégia, porém, é tida como infrutífera por alguns economistas, que apontam que ela pode ser até contraproducente se intensificada.

O BC vendeu quase US$ 1 bilhão de dólares em contratos de swap reverso nesta sexta-feira, assumindo posição comprada no mercado futuro pela primeira vez desde 2009.

Na última vez em que o governo fez uso desse instrumento, o estoque de contratos disponíveis no mercado superou US$ 20 bilhões e, mesmo assim, a taxa de câmbio recuou a até R$ 1,56 real --menor patamar desde a implantação do regime flutuante.

"Os trabalhos econométricos indicam que os efeitos (do swap reverso) são bastante efêmeros, duram semanas", disse à Reuters Márcio Garcia, professor do departamento de economia da PUC-Rio e Ph.D. pela Stanford University.

Na opinião de alguns, pior do que um efeito de alta só no curto prazo, a intervenção por meio do swap reverso pode até induzir a uma tendência de queda do dólar ao longo do tempo.

Em um trabalho acadêmico publicado em 2009 pelo Banco Central --mas que não reflete necessariamente a opinião da instituição--, Alessandra Viola (BC), Margarida Gutierrez (UFRJ), Octávio Lion (BC) e Cláudio Barbedo (BC) afirmam que "há uma tendência de que o dólar não suba, pois a alta tenderia a anular a remuneração pela Selic."

Por enquanto, o estoque de US$ 1 bilhão de swap reverso oferecido ao mercado ainda é baixo em comparação com as posições em outros derivativos. Por, isso a operação não deve ter tanta influência sobre a taxa de câmbio.

Mas Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora, alerta que "diferentemente de quando o banco especula por conta e risco próprio, em que ele identifica um limite de queda em que ele pode perder a liquidez, quando ele está ancorado em swap ele pode ir aonde quiser, porque no fim ele tem o próprio BC dando liquidez para reverter a operação."

Nem todos os economistas, porém, concordam com essa análise. "(O swap) é pequeno para mexer em fluxo", disse José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

Nesta sexta-feira, o dólar subiu 0,96%, para R$ 1,685.

Swap completa novo compulsório

O mercado entendeu a medida dentro do contexto de "guerra cambial", em que o governo tem batalhado para frear a queda do dólar e proteger as exportações. No início da semana, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que os investidores poderiam "esperar mais medidas no mercado futuro."

Em termos técnicos, porém, o swap reverso tem relação com a imposição na semana passada de um depósito compulsório sobre a posição vendida de bancos no mercado à vista --medida justificada como "prudencial", por reduzir o risco do sistema financeiro a uma alta abrupta do dólar.

Em entrevista coletiva após o anúncio, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, estimou em US$ 7 bilhões a demanda adicional que a medida criaria no mercado à vista até abril, quando o compulsório passa a vigorar.

Ao oferecer o swap reverso, o BC facilita que os bancos vendam dólares no mercado futuro e, em uma operação casada, comprem dólares no mercado à vista para cobrir suas posições para um nível abaixo do sujeito ao compulsório.

"(O swap) complementa, porque ajuda de uma certa maneira a liquidez no mercado de câmbio. Quem quiser se ajustar tem mais um recurso hoje", disse Gonçalves, do Banco Fator.

Ao mesmo tempo, da mesma forma que a imposição do compulsório, o swap reverso desestimula num primeiro momento a arbitragem com taxas de juros no país, que é uma das principais fontes de pressão para a queda do dólar. Nesta sexta, a taxa do contrato a termo de cupom cambial com vencimento mais curto, que remunera aplicações em dólares no país, caía 38 pontos-básicos, para 1,71%.

Mas, apesar da discussão, analistas entendem que a principal influência para a taxa de câmbio continua sendo o mercado internacional, seja pela percepção de risco sobre o Brasil, seja pela variação dos preços das commodities.

Por isso, mesmo que o dólar caia menos por aqui do que em outros lugares --por causa do risco "desproporcional" de intervenção que a moeda brasileira sofre em relação a outras divisas, nas palavras do banco HSBC--, a principal tendência a ser monitorada ainda é a do mercado externo.

"O cenário econômico global continua altamente incerto e sujeito a volatilidade, sem resultados claros sobre o crescimento, as maiores pressões inflacionárias e a resposta política a esses acontecimentos", escreveram analistas do banco BTG Pactual, com previsão de dólar a R$ 1,67 no fim do ano.  

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