Maior parte dos analistas vê juro estável, mas muitos ainda preveem queda

Com crise, não há consenso sobre manutenção de juros

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:10

O Banco Central informou no início desta semana que a maior parte do mercado financeiro acreditava que o Comitê de Política Monetária (Copom), colegiado formado pelos diretores e presidente da autoridade monetária, interromperia o processo de corte da taxa Selic, implementado desde agosto de 2011, nesta quarta-feira (10) - quando o Copom se reúne em Brasília. A decisão sobre os juros sairá após as 18h.

Entretanto, com a economia brasileira demorando para engrenar, por conta da crise financeira internacional, e com estimativas mais benignas, por parte do Banco Central, para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2013, a aposta de que o corte de juros será interrompido nesta quarta está longe de ser um consenso entre os analistas dos bancos.

Mesmo não sendo maioria na semana passada, quando foi feita a pesquisa do BC, boa parte dos economistas das instituições financeiras já acreditava que o BC reduziria os juros em 0,25 ponto percentual, de 7,5% para 7,25% ao ano, na reunião de hoje.

Nos últimos dias, porém, cresceu o número de analistas aposta em um novo corte de juros. Isso aconteceu após o discurso do diretor de Assuntos Internacionais da autoridade monetária, Luiz Awazu, que traçou, na última semana, um cenário pessimista sobre as perspectivas de crescimento dos países desenvolvidos nos próximos anos, e depois de o FMI ter divulgado perspectivas de crescimento mais comedidas para a economia global.

Se confirmado um novo corte de juros nesta quarta-feira, será a décimo consecutivo. Segundo o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, a curva de juros [no mercado futuro] recuou nos últimos dias e estaria, inclusive, "precificando" [refletindo a aposta de instituições financeiras] um novo corte de juros por parte do Banco Central na reunião de hoje do Copom.

Falta de consenso
Sidnei Moura Nehme, economista da NGO Corretora, disse que um novo corte de juros não seria considerado uma "surpresa" no mercado financeiro. "Não há consenso [sobre a decisão do Copom]. O fato é que a transmissão da redução de 500 pontos promovida no ultimo ano na taxa Selic [de 12,5% ao ano em agosto de 2011 para 7,5% ao ano no mesmo mês deste ano] como estímulo para a atividade econômica não ocorreu como esperada, e o crescimento do país esta sendo desapontador", avaliou ele.

O mercado financeiro prevê uma expansão do PIB da ordem de 1,57% neste ano - a menor desde 2009 (queda de 0,3%). Ao mesmo tempo, o próprio Banco Central estima um crescimento de 1,6%, enquanto o Ministério da Fazenda, que antes previa uma expansão superior a 4% em 2012, já admite que o percentual não deverá ficar acima de 2% mesmo com as várias medidas de estímulo (IPI para linha branca e carros, por exemplo) anunciadas no decorrer deste ano.
Para Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, a perspectiva, por conta da inflação "desconfortável" registrada nos últimos meses, ainda é de que os juros sejam mantidos hoje pelo Copom. Ele admitiu, porém, que o próprio BC deixou a "porta aberta" para uma redução de 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira. No início de setembro, o Copom informou que que um "ajuste adicional" nas "condições monetárias" (cortes de juros), se viesse a acontecer, seria conduzido com "máxima parcimônia" (menor do que os cortes de 0,5 ponto percentual que vinham sendo implementados até então).
Metas de inflação

Pelo sistema de metas de inflação, que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para 2012, 2013 e 2014, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Com isso, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida. 
No relatório de inflação, divulgado no fim de setembro, o BC baixou de 2,5% para 1,6% a sua expectativa de crescimento do PIB neste ano, bem abaixo dos 4% de expansão estimados no início de 2012 pelo governo brasileiro. Mesmo subindo, no documento, sua estimativa de inflação para 2012 (5,2%), informou que sua previsão para o IPCA do ano que vem caiu para um valor abaixo de 5%. "O Copom ressalta que, no cenário central com que trabalha, a inflação tende a se deslocar na direção da trajetória de metas, de forma não linear", informou o BC. 

A própria autoridade monetária tem explicado que as decisões do Copom, sobre a taxa básica de juros da economia brasileira, demoram, pelo menos, seis meses para terem impacto pleno na economia brasileira. Ao calibrar os juros na reunião desta quarta-feira, portanto, a autoridade monetária já estaria olhando mais para o cenário do ano que vem (que embute, em sua visão, uma inflação um pouco mais comportada), e não de 2012. Um impacto positivo na inflação do ano que vem, citada pelo BC, é a desoneração da energia elétrica - que começará em janeiro.

BC´s ao redor do mundo

Além disso, segundo analistas, o BC brasileiro, em linha com a forma de operar de outras instituições ao redor do mundo, tem deixado um pouco de lado a chamada "atuação clássica" da política monetária, ou seja, com foco apenas na inflação, e se preocupado também com o crescimento da economia brasileira. Na última reunião do Copom, no fim de agosto, os juros caíram mesmo com a perspectiva de alta da inflação em 2012. 

Outros bancos centrais ao redor do mundo, como nos Estados Unidos, Europa e Japão, também têm demonstrado, com políticas de injeção de recursos nos mercados financeiros, uma preocupação menor com a inflação em busca de um crescimento mais alto do PIB e aumento do número de empregos.
"O BC brasileiro está sim demonstrando um pouco mais de flexibilidade [com as metas de inflação]. Isso acontece em um momento de muita incerteza no cenário internacional, e com outros BC´s mais flexíveis. Mas a situação no Brasil, do ponto de vista de inflação, é pior. A gente deveria tornar essa flexibilidade 'temporária' e não em uma política de descumprimento de metas, o que passaria uma mensagem de leniência com a inflação", avaliou Silvio Campos Neto, da Tendências. 


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