As medidas anticíclicas adotadas pelo governo após o recrudescimento da crise econômica com a quebra do banco americano de investimento Lehman Brothers foram fundamentais para evitar um estrago pior que a queda de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado. E também foram responsáveis pela aceleração econômica registrada desde então. O crescimento da economia mostra que as medidas deram muito certo, resume Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco alemão WestLB.
O susto provocado pela quebra do gigantesco banco norte-americano fez o dinheiro desaparecer da praça. O crédito secou. Quem tinha liquidez, tratou de segurá-la para enfrentar eventuais problemas. Para recolocar a economia nos trilhos, o governo federal adotou uma série de medidas em dois campos: fiscal e monetário.
Na área fiscal, veio a atuação dos bancos federais, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, que passaram a liberar dinheiro em toneladas para que os investimentos não tivessem uma paralisia. Em dois anos, o Tesouro Nacional injetou R$ 180 bilhões no banco estatal de fomento para que mantivesse o nível de empréstimos às empresas. O BNDES colocou uma enormidade de dinheiro na economia, o que é um risco, critica Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria.
Ainda no campo fiscal, houve a redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para diversos setores, como carros zero-quilômetro e caminhões, móveis, eletrodomésticos e material de construção, estimulando o consumo. Havia uma discussão no mercado se essas ações haviam sido eficazes para a retomada da economia e elas realmente foram, comenta Padovani.
Medidas clássicas
Na área monetária, foram adotadas medidas mais clássicas, na opinião dos economistas, como a redução da taxa básixa de juros, a Selic, que caiu de 13,75% para R$ 8,75% em algumas tacadas. Além disso, o Banco Central reduziu o depósito compulsórios sobre os depósitos à vista, mecanismo que obriga bancos recolher à autoridade monetária uma parte de sua liquidez, e deu descontos nos compulsórios para as instituições que comprassem carteiras de crédito de outras menores. Foram medidas para menter a liquidez do sistema financeiro e para tentar evitar que a liquidez ficasse empoçada nos grandes bancos. Isso foi fundamental para evitar uma crise bancária aqui, explica o estrategista do WestLB.
A estratégia do governo se mostrou certeira. Se não conseguiu promover o crescimento no ano passado, ele acabou ocorrendo efetivamente neste ano. O que percebemos é que no primeiro trimestre deste ano, o País colheu todos os incentivos fiscais e monetários que plantou, diz Padovani. A expansão do PIB de janeiro a março foi de 2,7% sobre o trimestre anterior. Pelas conta dos economista, se esse ritmo fosse mantido, o Brasil chegaria ao final de 2010 com alta de 11% no PIB, a soma das riquezas produzidas.
O segundo trimestre já mostrou um certo desaquecimento, com a economia crescendo apenas 1,2% sobre o período anterior. Mas na comparação de 12 meses, a expansão registrada foi da ordem de 5,1%. O Brasil alcançou um novo patamar de crescimento, comemorou o ministro da Fazenda Guido Mantega, no dia 30 de agosto, ao comentar o desempenho do PIB do segundo trimestre. Ele estima que, de 2011 a 2014, a economia brasileira terá crescimento médio de 5,5%.
Padovani avalia que hoje a economia não precisa mais de ajuda. Não adianta termos crescimento de curto prazo, diz ele, lembrando que é preciso melhorar os gastos govenamentais. O PIB do segundo trimestre mostra que os gastos públicos estão elevados. Salto, da Tendências, vai no mesmo sentido e afirma que é necessário, para que o crescimento se mantenha, que o governo substitua gastos ruins pelos bons. Para ele, houve uma tentativa no início deste ano de o País melhorar o nível dos gastos, por conta da elevação dos investimentos que fazerm parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que deveria ser mantido.
Mais prazo e menos impostos
Para Padovani, o governo federal tem de fazer esforços para alongar o prazo dos financiamentos. A principal medida, nesse sentido, seria promover um forte ajuste fiscal, controlando as despesas do governo para poder pagar dívidas. Isso reduz o risco de insolvência e permite a concessão de crédito em prazos mais longos. O alongamento da dívida com títulos fora do País tem ocorrido, mas no mercado interno ainda não. A tendência é que isso aconteça, afirma.
Salto lembra que a relação entre arrecadação e PIB, ou seja, a carga tributária, caiu no ano passado, de 34,41% para 33,58%. Mas, para ele, a redução foi fruto da desaceleração experimentada em 2009. Essa redução não é sustentável. Neste ano, em que a atividade (da economia) está aquecida, isso irá se refletir nos impostos, o que deve elevar a carga tributária novamente para a faixa dos 35%, afirma. Para reduzir a carga, o governo tem de cortar os gastos públicos, e não fazer uma reforma tributária.
Postado por: Thatiane de Souza
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