Pequenas empresas podem entregar grandes lucros

Pequenas empresas podem entregar grandes lucros

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:19

O investimento em ações de empresas com baixo valor de mercado ("small caps", no jargão de mercado) é mais ou menos como o garimpo. Da mesma forma que alguém pode passar dias ou meses cavando uma jazida estéril, também existe a chance de topar com um diamante bruto. Os riscos, portanto, são enormes. Para não perder dinheiro, o investidor primeiro precisará entender a dinâmica da empresa para então aprender a diferenciar uma pedra preciosa do cascalho. A busca se dará em um ambiente ermo. A imprensa o manterá informado sobre a Vale, a   Petrobras   e mais duas dezenas de companhias abertas, mas não poderá ajudar muito com as small caps. Tampouco conte com sua corretora para lhe indicar o mapa da mina. A maior parte dessas instituições possui uma equipe enxuta de analistas que cobre principalmente as ações mais negociadas da bolsa.

Caso queira saber o que se passa no subterrâneo de uma pequena companhia, muitas vezes será necessário ir a campo, entrevistar executivos e especialistas, gastar a lâmina da picareta e cavar informações bem lá no fundo. Se o trabalho de exploração for bem feito, as chances de encontrar uma pepita valiosa crescem exponencialmente. Boa parte dos investidores não tem tempo nem interesse em acompanhar as small caps e é natural que haja riquezas escondidas onde ninguém procurou. Mas não espere encontrar uma fortuna a cada esquina. Em geral, com alguma sorte e muita competência, será possível identificar uma pedra bruta que, depois de lapidada, verá seu valor disparar.

Em 2009, quem garimpou as melhores small caps terminou o ano com os bolsos cheios. Os papéis de pequenas empresas foram as vedetes do mercado de ações no Brasil. Enquanto o Ibovespa, que lista as companhias mais líquidas e representativas da bolsa, subiu 82%, a valorização do Índice Small Cap (SMLL) chegou a 137%. Considerando a rentabilidade acumulada nos últimos 12 meses, o desempenho do Índice Small Cap permanece na dianteira com um crescimento de 54%, três vezes superior ao do mais tradicional indicador brasileiro.  Embora números tão expressivos sejam atribuídos à correção das quedas vertiginosas sofridas com a crise internacional em 2008, os resultados refletem a lógica que costuma nortear o comportamento das small caps. Em momentos de incerteza, os investidores se desfazem das ações de companhias de menor porte temerosos da sua capacidade de continuar de pé. A baixa liquidez desses papéis piora o cenário: como não são negociados com frequência, é necessário vendê-los a um preço bem abaixo do mercado. Tanto que nos 12 meses de 2008, o SMLL amargou uma queda de 53% - contra baixa de 41% do Ibovespa.

Por outro lado, quando a economia volta aos trilhos, essas ações podem registrar um ascensão avassaladora. Geralmente, companhias menores estão ligadas ao consumo interno e, por isso, se beneficiam da recuperação de imediato. "Em cenários de forte otimismo, a chance de uma empresa pequena ter problemas diminui bastante. O mercado inteiro cresce e, como temos poucas ações na bolsa, as small caps acabam se tornando muito atrativas", resume Ricardo Almeida, professor de finanças da FIA/USP. O desempenho campeão dos fundos de small caps reflete essa percepção. Em 2009, a rentabilidade ficou em 117,7%, contra 74,8% dos fundos de ações e 10,4% dos fundos de renda fixa.

A maior explicação para a apreciação dos papéis está na falta de atenção com que são analisados. Como têm participação periférica no volume total de negociações, companhias menores recebem uma cobertura incipiente por parte dos analistas e dos jornais. A falta de acompanhamento acaba promovendo um descolamento entre o valor do ativo e seu preço justo, fazendo com que o investidor que perceba a distorção possa lucrar no futuro. "Todo mundo olha as blue chips e por isso é muito fácil uma ação da Vale ou da   Petrobras   estar próxima do seu preço ideal. Para quem pode ficar mais tempo com o papel, o pote de ouro pode estar efetivamente nas small caps", sustenta Paulo Esteves, analista chefe da Gradual Investimentos. Oportunidade

Investidores institucionais e fundos de pensão costumam realizar aportes milionários em uma mesma companhia, mas a maioria das small caps não têm envergadura em termos de capital para suportar investimentos desse porte. A explicação é simples. Para comprar uma posição representativa para a performance do fundo, o administrador teria que adquirir 20% ou mais dos papéis da empresa. "Dessa forma, ele acabaria puxando a cotação do ativo, não conseguindo pagar um preço tão atraente pela ação, já que estes papéis têm uma porta estreita de entrada e saída", explica Esteves, da Gradual.

Para o analista, o proveito fica com os pequenos investidores, que têm a oportunidade de alavancar os lucros em lagoas onde não nadam peixes grandes. Como a cobertura das empresas menores é insuficiente para o indivíduo estudar os papéis por conta própria, algumas corretoras trabalham para identificar os setores mais promissores e indicar aos seus clientes as ações que vão brilhar lá na frente. "É difícil bater os grandes bancos de investimento estrangeiros cobrindo os papéis mais negociados da bolsa. Olhamos para as small caps com carinho porque nossa vantagem competitiva está justamente aí", completa Esteves.

Empresas de grande porte costumam ser analisadas segundo uma abordagem "top down" - ou seja, de cima para baixo. Parte-se do estudo macroeconômico para projetar o provável crescimento e a consequente evolução dos preços, levando em consideração fatores como o aumento do PIB. No caso das small caps, a abordagem passa a ser "bottom up". A visão de baixo para cima representa a busca por valores escondidos, fundamentos que muitas vezes independem do cenário econômico ou de movimentos setoriais. Em suma, essas companhias devem ter uma gestão diferenciada ou uma inovação tecnológica capaz de manter seu valor mesmo em um momento de crise. O professor de finanças Ricardo Almeida reforça a dificuldade de analisar quais ações têm potencial sem qualquer assessoria. "A pessoa física costuma olhar muito a marca da empresa, a sensação que ela passa, o produto que ela oferece. Mas por trás de tudo isso pode existir uma gestão precária e problemas de governança corporativa, invisíveis aos olhos do pequeno investidor."

Embora a CVM obrigue a divulgação pública dos balanços das companhias, a informação pode não ser o bastante para uma leitura adequada das perspectivas de valorização dos ativos. "É preciso interpretar esses dados, que são muito técnicos e podem demandar anos de estudo", diz Almeida. Para ele, o melhor caminho para quem pretende investir nas small caps é a participação em fundos passivos, os chamados ETFs (Exchange Traded (Fundos ).

A BlackRock realiza a gestão do iShare BM&FBovespa Small Cap, ETF que tem o Índice Small Cap como parâmetro. Na prática, o investidor que adquire uma quota do fundo investe nas mesmas ações que compõem o índice elaborado pelaBovespa . A taxa de administração é de 0,69% ao ano, contra uma média de 2,2% dos fundos de ações. Se o objetivo for superar este índice, é possível encontrar diversas opções de carteira nos fundos de small caps ofertados pelos bancos e corretoras.

Vale lembrar que o risco de perder dinheiro com estes papéis é ainda maior do que aquele comumente associado ao investimento em ações. As small caps são sabidamente suscetíveis à volatilidade, já que as empresas precisam de menos volume para os preços mudarem drasticamente. A reduzida liquidez também dificulta a vida do investidor que quer se desfazer dos ativos. Enquanto a ação preferencial da Vale registrou 17.641 transações no pregão de 22 de junho, por exemplo, a small cap ordinária da Iochpe-Maxion, fabricante de rodas e chassis automotivos, foi negociada 189 vezes.

Entretanto, quem não precisou fazer resgates com urgência, sentiu no bolso a diferença de apostar em uma empresa menos popular. A ação da Iochpe-Maxion subiu 129,4% nos últimos 12 meses, período em que o papel da Vale cresceu muito menos: 34,7%. É justamente na injeção de rentabilidade que reside o maior atrativo das ações emitidas pelas companhias de menor porte. Se o tempo é amigo de uma boa empresa, o investidor que procura maximizar os lucros no longo prazo pode embarcar na montanha russa de emoções capitaneada pelas small caps. Basta estar ciente que a chance do passeio terminar mal é proporcional ao tamanho da aventura. 

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