Com mais de 30 anos de estudo em biotecnologia, a química Maria de Lurdes Molarinho Velly desenvolveu um curativo à base de proteínas encontradas na epiderme (camada mais superficial da pele) da rã. Destinado a queimaduras, o novo produto é fácil de aplicar, alivia a dor e regenera em pouco tempo a pele lesionada.
A pesquisa, realizada pela empresa de biotecnologia VellyFarm, é originada de um longo estudo sobre o empobrecimento da presença das proteínas nos alimentos. Foram recebidos ao longo do estudo financiamentos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), além de recursos do governo japonês. Os investimentos no projeto somam aproximadamente R$ 10 milhões desde seu início.
O curativo não tem cheiro, promove alívio imediato da dor, é transparente e permite a entrada de luz, o que inibe a proliferação de bactérias que se desenvolvem no escuro. Além disso, como é produzido com queratina (proteína encontrada na pele) retirada da epiderme da rã, possui características naturais de regeneração. O produto desenvolvido tem um potencial grande para a medicina e o fato de ser translúcido auxilia no combate às bactérias, diz Maria de Lurdes.
Outra vantagem do produto é o efeito tensor natural, que comprime e relaxa a pele, o que dá brilho ao tecido e o rejuvenesce. A aplicação do curativo é realizada facilmente: basta hidratá-lo com um líquido como soro fisiológico e colocá-lo diretamente na pele, sem necessidade de proteções adicionais. Com a mesma finalidade, mas sendo uma opção aos consumidores, a química desenvolveu o curativo também na forma de gel.
Utilizar componentes da pele de rã para fins médicos não é novidade. Entretanto, nas pesquisas existentes é usada a derme (camada mais profunda da pele), que não é translúcida ou consegue se fixar sozinha na pele lesionada. Testes em laboratórios com o novo curativo revelaram que a cicatrização acontece em média após cinco dias e não deixa cicatrizes. Serão precisos estudos clínicos para confirmar tal eficácia, mas os bons resultados fizeram com que as pesquisas avançassem. O próximo passo será testar o curativo em animais.
A comercialização do novo produto ainda depende dos resultados obtidos nos testes clínicos e da comprovação oficial dos benefícios descobertos. Para tanto, a pesquisadora busca empresas que financiem essa importante etapa. Além disso, Maria de Lurdes acredita que os benefícios da tecnologia desenvolvida poderão ser estendidos para outras áreas. É um produto voltado para queimaduras, mas provavelmente poderá ser usado também para fins estéticos, já que rejuvenesce a pele. As possibilidades são muito grandes, diz.
Mercado no Brasil
Embora a criação de rã no País ainda seja pequena, os criadouros têm matéria prima excedente e poderão suprir uma demanda de mercado. O curativo é interessante porque a pele de rã tem boa capacidade de regeneração e também será uma ótima maneira de reaproveitar o material descartado, já que a rã é totalmente aproveitável, diz Elenice Deffune, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
O avanço nas técnicas de criação do anfíbio impulsionou o aumento dos criadouros, cujo mercado é voltado para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Entretanto, ainda não existe um aproveitamento total da rã. Pele, gordura e vísceras não são aproveitadas no mercado. Em média, 50% do animal vira resíduo e vai para o lixo, afirma Manoel dos Santos Pires Braz Filho, diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Organismos Aquáticos (Abracoa).
Postado por: Thatiane de Souza
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