Concurso 2011 para diplomata é o mais concorrido dos últimos 10 anos

Concurso 2011 para diplomata é o mais concorrido dos últimos 10 anos

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:38

O concurso deste ano para o Instituto Rio Branco, que está em andamento, começou com 276 concorrentes para cada uma das 26 vagas disponibilizadas pelo Itamaraty. É, segundo a organização, a edição mais concorrida dos últimos dez anos -pelo menos, pois não é possível estabelecer um recorde porque a seleção é realizada há muitas décadas e não há estatística de todos os anos.

A disputa, voltada a quem tem nível superior, é maior, por exemplo, que a do vestibular de medicina da Fuvest que, neste ano, registrou 49 candidatos para cada vaga, a maior concorrência entre os cursos oferecidos. E é semelhante à vista em certas vagas de nível médio do último concurso dos Correios, ocorrido em maio.

O aumento no número de oportunidades estimulou a procura. Entre 2006 e 2010, mais de 100 vagas foram oferecidas por ano por conta de uma política de ampliação da presença brasileira no exterior, com a abertura de novas embaixadas. A concorrência, no ano passado, era de 82,12 candidatos para cada uma das 108 vagas.

Fora desse período, a média de entrada no corpo diplomático brasileiro é de 30 pessoas ao ano, o suficiente para recompor o número de profissionais das relações exteriores que se aposentam.

O diplomata Márcio Rebouças, um dos responsáveis pela organização do concurso, acredita que o aumento da concorrência se deva também à maior relevância do Brasil no cenário internacional: “O crescimento é função da contínua abertura do país ao exterior e da maior relevância que as relações internacionais vêm apresentando em tempos recentes para a sociedade brasileira”, diz.

Carolina Maheiros deixou Vitória e foi para o Rio

para fazer cursinho (Foto: Cristina Boeckel/G1)

  Dedicação integral

As salas de cursinhos preparatórios estão cheias de aspirantes a diplomatas. Para disputar uma vaga no Instituto Rio Branco é preciso ter um diploma de qualquer curso de ensino superior reconhecido pelo Ministério da Educação.

O concurso acontece anualmente e é dividido em quatro fases -o deste ano já está na terceira. A quantidade de vagas é variada e, a partir deste ano, 10% delas são reservadas aos negros. A remuneração prevista para os aprovados na seleção atual é de R$ 12,9 mil.

Carolina Malheiros, de 26 anos, deixou Vitória e foi morar no Rio de Janeiro em busca de uma preparação melhor para o concurso. É a terceira vez que ela tenta passar nos exames do Rio Branco. A rotina de estudos começa de manhã e vai até a noite, todos os dias. Como não é da cidade, Carolina não conhece muitas pessoas e aproveita o tempo que dedicaria às atividades de lazer para investir ainda mais no sonho de ser diplomata.

  Formada em direito, ela inicialmente acreditou que precisaria focar apenas nas disciplinas que não havia estudado na faculdade. "Estudei um pouco mais de economia, de política internacional, que eram conteúdos mais distantes do que o que eu tinha estudado no direito. Mas depois você vê que tem que se dedicar a todos igualmente.”

Para Carolina, a segunda eliminação foi a mais dolorosa. “Foi bem frustrante, pois estava levando a sério. E a preparação foi bem cansativa. Mas a estrutura da prova foi diferente de outros anos, e eu sabia que é um concurso que exige tempo de preparação. Eu já estava com o espírito preparado para ser possivelmente reprovada.”

João Calmon, de 25 anos, também se dedica integralmente aos estudos. Ele se prepara para os exames desde 2009 e está na sua segunda tentativa. Para João, a dificuldade está na variedade de conteúdos que são exigidos dos candidatos. “Tem outros concursos que são igualmente difíceis, mas o candidato ao Itamaraty tem que se especializar em tudo.”

Para o candidato João Calmon, variedade de

assuntos é desafio  (Foto: Cristina Boeckel/G1)

  Na primeira fase do concurso, os candidatos respondem questões de múltipla escolha sobre português, história do Brasil, história mundial, geografia, política internacional, inglês, noções de economia, noções de direito e direito internacional público.

A segunda fase conta com uma prova escrita de português. A terceira possui questões discursivas de história do Brasil, geografia, política internacional, inglês, noções de economia e de direito e conhecimento sobre leis internacionais públicas. A quarta e última fase é de questões de francês e espanhol. As três primeiras etapas são de caráter eliminatório.

Formações que mais aprovam

A professora de inglês Raphaela Serrador, do curso preparatório Clio, conta que é possível planejar o acesso à carreira diplomática desde o ensino médio. “Facilita muito começar a ter contato com a política externa, lendo periódicos, por exemplo", afirma. Ela lembra que o cursinho é procurado por pessoas com diversas formações: "temos músicos, engenheiro de alimento, químico...". Mas, segundo Raphaela, historicamente há mais aprovados formados em direito, relações internacionais e comunicação.

O professor de política internacional Tanguy Baghdadi diz que o foco não está somente nos recém-formados. “Os diplomatas atualmente são muito jovens. Mas isso não exclui a entrada de diplomatas que já têm uma carreira consolidada, já têm mestrado, doutorado, filhos e estão em busca de novas oportunidades”, explica.

Ex-ministro Lampreia defende concurso como

forma de garantir aprovados qualificados

(Foto: Cristina Boeckel/G1)

  Concurso 'mais moderno'

O embaixador Luiz Felipe Lampreia, ex-ministro das Relações Exteriores, diz que os jovens que desejam seguir esta profissão devem se interessar em ajudar o país, e não apenas buscar a estabilidade do serviço público. Segundo ele, o concurso é uma maneira de evitar indicações políticas e garantir que os aprovados estejam qualificados.

Lampreia ressalta que o exame se modernizou ao longo do tempo, incluindo conteúdos que são aplicáveis ao dia a dia dos novos diplomatas. “Houve uma época em que se exigia literatura francesa em detalhe. Vinte tópicos de literatura francesa faziam parte do programa. Se hoje fosse exigir uma coisa dessa, não passava ninguém", afirma.        

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