A hora de Oscar: meia resgata talento no Inter e mira até a Seleção

A hora de Oscar: meia resgata talento no Inter e mira até a Seleção

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:50

    Imagine a situação. Na meninice de seus 18 anos, já apontado como uma das maiores promessas de craque do país, um jogador se vê mergulhado em uma confusão jurídica com um dos principais gigantes brasileiros. Aí ele consegue liberação, ruma para outro clube de quilate mundial e pensa que terá um pouco de sossego. Mas chega lá e encontra um treinador disposto a infernizar a vida dele, treino após treino, até que ele alcance quase a perfeição. Oscar bem sabe como é. Quase um ano depois de ter vencido a briga com o São Paulo nos tribunais, o meia é titular e um dos destaques do Inter, o time de Celso Roth. Com as orelhas quentes pelos puxões do treinador e com os pés tinindo pelo talento que carregam, a esperança começa a virar realidade.

Oscar arrebenta nos treinos do Inter desde o segundo semestre do ano passado, meses depois de chegar ao Beira-Rio, após conquistar rescisão na Justiça, onde denunciou aquilo que considerou incoerências em seu contrato com o São Paulo. São dribles para um lado, assistências para outro, conclusões que parecem questionar as leis do tempo e do espaço. Ele impressiona no Sul. Mostra por que era visto com tanto entusiasmo no Morumbi. E começa a pavimentar uma estrada que sabe-se lá até onde levará. Passada a turbulência da saída do São Paulo, ele se encontrou no Inter. Dá sinais que é, de fato, um craque em potencial.

O jogador não se empolga. Ele ainda se vê como coadjuvante no Inter, mas confia que a evolução em seu futebol pode render uma convocação para a Seleção Brasileira em breve. Com as Olimpíadas de Londres como obsessão, o meia até reage com alegria às broncas do chefe, conforme deixou claro em entrevista exclusiva concedida ao GLOBOESPORTE.COM nesta segunda-feira.

Você já tem quase um ano de Inter. Analisando tudo que aconteceu, valeu a pena ter saído do São Paulo e ido para o Beira-Rio? Valeu. Valeu muito. Pelo que estou vivendo, valeu. No começo, nada é fácil. Tem que mostrar o valor. Eu estou mostrando. Espero continuar assim.

Imagino que tenha batido uma dúvida sobre se era uma boa ideia sair do São Paulo em todo aquele imbróglio jurídico.

Eu sempre pensei positivo, sempre pensei que daria certo. Cheguei no Inter em uma semifinal de Libertadores. É difícil chegar assim e já querer jogar. Mas cheguei feliz. Todo mundo me tratou super bem. Hoje, estou feliz aqui. Gosto de Porto Alegre. Eu me dei muito bem com o clube.

Não sei o quanto você acompanha o que se diz a seu respeito, mas a imprensa faz muitos elogios a seu desempenho desde o ano passado, a torcida parece encantada com você e o próprio Celso Roth faz muitos elogios ao seu rendimento. Mas qual a sua análise? Você está satisfeito?

Estou. Eu sei que posso mostrar um pouquinho mais. Sei que estou melhorando. O Celso mesmo falou que estou melhorando a cada dia. E estou mesmo. Estou pegando confiança. Não cheguei ao meu melhor momento. Posso melhorar bastante. Estou em uma sequência boa de jogos desde a seleção sub-20. Estou confiante em tudo que faço. E estou feliz, dentro e fora de campo. Isso ajuda bastante.

No que você pode melhorar?

Posso melhorar minha parte física. Quero fazer gol, quero dar passe. Fiquei chateado por nosso time não ter feito gols no último jogo. Quero melhorar. No jogo, acontece de o jogador errar um ou dois passes, mas eu não gosto de errar. É uma coisa minha. Não gosto de errar no jogo. Eu me sinto mal. Depois, tenho que fazer uma jogada boa. Eu quero ser sempre o melhor possível. Com isso, vou conseguir jogos bons, títulos. É o que procuro.

Sempre me chamou muito a atenção, especialmente no ano passado, o tratamento dado pelo Roth a você nos treinos. Ele infernizava sua vida. Gritava com você mais do que com qualquer outro. Certamente, não era por acaso. Ali, ele via que estava um jogador que seria titular. Como era isso para você?

Nossa... (Risos) Eu chegava em casa e falava para minha esposa: “Meu Deus, por que o Roth pega tanto no meu pé?”. Todo mundo erra, mas eu errasse, ele vinha em cima de mim. Eu achava até engraçado. Mas eu sabia que ele me cobrava porque sabia da qualidade que eu tinha. Hoje, posso ajudá-lo bastante. Mas ele me cobra bastante mesmo assim. Ele ainda me cobra em todos os treinos. Se eu faço alguma coisa errada, ele já fala alto. Mas é até gostoso isso. Eu me sinto bem. Ele tem que cobrar mesmo.

Você, nos últimos jogos, apareceu marcando na bandeirinha de escanteio do campo de defesa e passou até a fazer faltas. Parece que está com um aspecto defensivo mais forte. É um pedido do Roth?

Quando eu cheguei, era só do meio para a frente. Marcar era muito difícil. Fui aprendendo, me dedicando ao aspecto tático. Melhorei bastante. Na seleção (sub-23), fiz grandes jogos armando o time, deixando o Neymar jogar. Aqui, estou procurando melhorar em tudo. O Roth com certeza tem uma percentagem muito grande nisso, porque ele me cobra muito no aspecto tático. Isso só vai me ajudar.

Antes de vir para o Inter, teve toda aquela situação com o São Paulo. Você já superou isso?

Já esqueci. É passado para mim. Tudo que aconteceu tinha que acontecer. Hoje, estou muito feliz aqui. Até parece que me criei no Inter, pelo jeito como a torcida me trata. O que aconteceu no São Paulo já passou.

  Você é muito novo, mas parece maduro para a idade. Até casado já é.

Para minha idade, me considero maduro, sim, por tudo que já passei. Já passei momentos ruins e momentos bons nesse início de carreira. Isso dá um aprendizado, um crescimento. Sou casado há um ano e pouco. Com isso, fora de campo, o cara se torna mais homem. Isso tudo foi muito legal para mim.

A impressão que você passa é de ser um jogador com muita confiança no seu futebol. No meio de um monte de fera, você domina a bola e já chuta a gol. Você se sente um atleta que confia na própria qualidade?

Tenho que confiar em mim. Se não confiar em mim aqui no Inter, não tem como, porque são muitos jogadores bons. O elenco do Inter é um dos melhores do Brasil. É muito forte. Tenho que acreditar em mim porque quero buscar meu espaço, quero ser titular, como tem acontecido agora, e quero ajudar muito o clube.

E contando com essa concorrência, mas também considerando essa confiança, você pensava, há um ano, quando chegou ao Inter, que hoje já seria titular e um dos destaques do time? Eu não imaginava que esse ano começaria tão bem. Era um ano eu que eu começaria junto com todo mundo e brigaria junto com todo mundo, como está acontecendo agora. Eu estou me esforçando. Nunca fui mal nos treinos. Em cada treino, me dedico bastante. É por isso que estou me dando tão bem nos jogos. Se não treina bem, não joga bem, não acerta. Eu acertava no treino, ia bem, e agora comecei a fazer bons jogos também. É a confiança. Quando você pega confiança, vai para a frente.

E essa parceria que se avizinha, entre você e o D’Alessandro? É uma boa jogar ao lado dele, não?

É uma boa. Quando eu toco nele, já passo para receber. Se não recebo, é porque ele fez alguma outra boa jogada. Ele é ídolo aqui do Inter. É o 10 do time. A volta dele vai nos ajudar bastante. Se eu jogar ao lado dele, vou procurar ajudá-lo bastante. Eu preciso da ajuda dele, e ele também vai precisar da minha. Com a gente se entrosando, pegando uma sequência, as coisas podem sair muito bem.

Acho que é inegável que os dois destaques do Inter na temporada são você e o Leandro Damião. De repente, surgiu uma convocação para o Damião na Seleção. Isso não te fez pensar que o mesmo pode acontecer contigo?

Quando fiquei sabendo da convocação do Damião, fiquei muito feliz. E aquilo me deu um toque de que também posso ser chamado a qualquer momento se continuar nesse ritmo, se continuar fazendo os jogos que estou fazendo. Pode ser na próxima convocação, pode ser daqui para a frente, porque o Mano está testando várias opções. Posso ter minha chance também se eu continuar desse jeito. Espero continuar, para também ter minha chance mais para a frente.

Você sente que essa chance pode pintar em breve, então?

Sinto. Sinto que pode pintar, sim. Se eu melhorar e, como te falei, não errar nada nos jogos, eu, Damião e muitos do nosso time têm condição de pegar a Seleção. É tudo consequência dos campeonatos. Se a gente for bem na Libertadores, for passando de fase, as pessoas começam a olhar diferente, começam a ver que esse time é diferente. Não espero que só eu pegue a Seleção. Espero que todo o time vá bem.

Você bota fé que o Inter pode ser campeão da Libertadores de novo?  

Pelo time que a gente tem, por termos um elenco muito forte, eu boto fé, sim. É só pegar o entrosamento com todo mundo voltando. Nosso time é muito forte dentro e fora de casa. Acho que nosso time é até mais forte fora de casa. Quando o adversário vem para cima de nós, se ele perde a bola, nossa contra-ataque é muito bom, com o Damião fazendo gols. Espero que a Libertadores continue assim. Tivemos duas goleadas. Temos que continuar nesse ritmo.

Quais você acha que serão os próximos passos da tua carreira?

Não sei. Não imagino o que vai acontecer.

Você não planeja questões pontuais?

Não. O que planejo é aqui no Inter. Eu sonho muito com essa Libertadores e com o Brasileiro, que virá muito forte, com muitos times se reforçando. Vai ser só jogo bom. Penso nisso. Temos o Gauchão, e precisamos ser campeões do segundo turno. É isso que planejo. O que acontece depois, não imagino. O que penso é em fazer grandes jogos e me confirmar como titular, o que é muito difícil aqui.

Você participou do Mundial, inclusive entrou contra o Mazembe. Para o clube, foi um trauma muito grande, talvez a maior de todas as derrotas. E para você, pessoalmente, como foi?

Eu vivi aquele momento. Foi difícil. Todo mundo esperava que a gente ganhasse aquele jogo e fizesse a final. O futebol é isso aí. Não fizemos os gols que deveríamos. Conforme não sai o gol, conforme a bola não entra, vai ficando mais difícil. Eles fizeram os dois gols. No primeiro, já deu uma complicada. Ninguém espera levar um gol do Mazembe. Mas foi o que aconteceu. É por isso que acredito que a gente pode ser campeão da Libertadores. Todo mundo quer mostrar que pode chegar lá de novo, ir a uma final, ser campeão mundial. Só conseguiremos isso se conquistarmos a Libertadores.

Ser apontado como um craque, ou um potencial craque, aos 19 anos representa o que para você? Muitos, em situação parecida, confirmaram a qualidade, mas outros tantos não conseguiram.

Não fico pensando nisso. Quero jogar todo jogo bem. Conseguir se transformar em um craque é consequência. O que quero é virar um grande jogador. Se vou ser craque ou não, é consequência. Quero conquistar títulos. Conquistando, ganha moral com todo mundo, é comparado a um ou outro. Quero virar um grande jogador, independentemente de ser um craque. No Inter, o Celso Roth me falou que eu era um coadjuvante, que eu tinha que ajudar todo mundo. Eu tento correr o máximo para ajudar todo mundo. Não sou titular absoluto. Tenho que correr mais do que os outros mesmo.

Você acha que ainda é coadjuvante no Inter?

Ah, sou, sim. O Inter tem Guiñazu, tem D’Alessandro, tem Kleber, tem Bolívar, tem o Damião surgindo. São grandes jogadores. Eu estou surgindo. Eu vou buscar meu espaço, mas tenho que correr o dobro.

Você tem alguma obsessão na sua carreira? No que você pensa agora e não tira da cabeça que precisa conquistar?

As Olimpíadas. É algo que o Brasil ainda não conquistou, e eu gostaria muito de participar disso.

Está próximo, não te parece? Você teve toda a participação no Sul-Americano...

Acho que está próximo. Se eu continuar nesse ritmo, tenho chance de pegar uma vaga. Estou torcendo muito por isso. Vou trabalhar ainda mais para confirmar.        

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