Após quatro anos, Andrés dá adeus e projeta Timão no 'topo do mundo'

Após quatro anos, Andrés dá adeus e projeta Timão no 'topo do mundo'

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:19

A pouco mais de uma semana de deixar a presidência do Corinthians, Andrés Sanches mistura cansaço, satisfação e euforia. No último domingo, o dirigente comemorou como uma criança no gramado do Pacaembu o último e principal título de sua gestão, amenizando a dor por não ter conseguido a tão sonhada Libertadores. Foram quatro anos de uma administração polêmica, mas que profissionalizou o futebol do clube mais popular de São Paulo e abriu o caminho para um futuro de sucesso.

– Vamos ser um dos clubes mais estruturados e ricos do futebol mundial – cravou.

Da terra arrasada que encontraram em 2007 após a queda do ex-mentor Alberto Dualib, Andrés e sua cúpula iniciaram a era mais produtiva na administração do Corinthians a partir da queda para a Série B. A dívida não foi paga (quase R$ 180 milhões) como foi prometido em campanha, mas o Timão triplicou receitas com estratégias agressivas de marketing, construiu um moderno centro de treinamentos e, em 2013, inaugurará a tão sonhada “casa própria” de 30 milhões de fiéis.

O presidente que contratou as estrelas Ronaldo, Roberto Carlos e Adriano, e colocou o Corinthians no cenário internacional, reconhece que esqueceu de uma das grandes forças do clube, a formação de jogadores. Entretanto, promete que seu grupo político, favorito a sucedê-lo nas eleições de fevereiro, fará uma reestruturação do departamento amador para fortalecer ainda mais a equipe profissional.

– Em cinco ou seis anos, 80% do time será base – garantiu.

Andrés Sanches vai trocar o Corinthians pela CBF em 2012  (Foto: Rafael Ribeiro / CBF) Com quatro títulos, Andrés Sanches se despede do Timão no dia 15 de dezembro e passa o bastão a seu vice Roberto de Andrade até que o novo presidente seja eleito em 2012. Depois, quer curtir os filhos e esquecer os problemas de um ano em que precisou até superar um câncer maligno em meio ao Brasileirão. Em 2012, o ex-feirante que tentou ser lateral-direito deixa de ser o Andrés do Timão para assumir a chefia de Seleções na CBF, caminho mais do que aberto para o queridinho de Ricardo Teixeira ser o novo presidente da entidade em 2015.

– No futuro, pode ser. Mas acho que têm algumas pessoas na minha frente – admitiu.

GLOBOESPORTE.COM: Como você avalia os quatro anos que ficou no comando do Corinthians?

Andrés Sanches: Eu nunca prometi títulos, até pela situação que o clube vivia. Prometi a reestruturação do clube e do futebol. O estádio veio também, mas, talvez, nem nos meus melhores sonhos isso existia. Sinto-me realizado, saio de cabeça erguida, com o sentimento de que fiz o melhor possível para o torcedor, que resgatou a dignidade de ser corintiano. Você sempre reclama do cansaço de ser presidente. Como foi deixar de ser anônimo para ser um dirigente famoso?

Preço caro é o cargo, você fica 24 horas envolvido, não tem tempo para nada. Infelizmente, se tornar uma pessoa pública neste país é pagar um preço caro, é desumano até. Esse é o maior sentimento de tristeza e amargura que eu tenho. Mas faz parte do processo. Procurei fazer o melhor possível.

Pouca gente sabe, mas você precisou superar um câncer em 2011...

Tive um melanoma maligno (pior tipo de câncer de pele) que descobrimos a tempo e tirei. São coisas que nós passamos na vida. O meu maior ídolo, que é o Lula, está passando por algo muito mais grave que o meu. Com certeza, desde domingo ele está mais feliz e forte para aguentar tudo que vem pelos próximos meses. Se Deus quiser, nos próximos meses ele estará firme e forte com todos nós.

Andrés e Lula: 'Ele é meu ídolo', diz cartola

(Foto: Marcos Ribolli / GLOBOESPORTE.COM) Falando do futebol, qual você considera o principal erro de sua gestão?

Talvez, não demos a atenção que deveríamos ter dado à categoria de base. Até pela construção do estádio tivemos que tirar a base de Itaquera (o clube alugou o alojamento do Flamengo-SP, em Guarulhos). Agora, começamos a construção do CT ao lado do profissional. Espero que em um ano e meio o CT esteja pronto e vamos poder cobrar a revelação de grandes jogadores. Pelo nosso projeto, em cinco ou seis anos, até 80% do time será formado na base. Estamos montando centros de treinamento em varias partes do Brasil e do mundo para garimpar o máximo de jogadores jovens para o Corinthians.

Um dos pontos principais da sua gestão foi o aumento do valor dos ingressos, como a área vip por R$ 180 . Você elitizou o “Time do Povo”?

Acho ridículo quem comenta isso. Meu ingresso (arquibancada) custa R$ 30 reais. O Fiel Torcedor paga R$ 18 ou R$ 19 e tem a meia-entrada por R$ 15. Sei que alguns corintianos podem pagar mais e vão em lugares um pouco mais privilegiados. Se isso é elitizar, elitizei. Estou preocupado em fazer o que é melhor para a sociedade corintiana. Ninguém deixou de ir aos jogos. Os jogos estão sempre lotados. Isso quer dizer que os preços vão subir ainda mais quando for inaugurado o estádio de Itaquera?

Em alguns setores, sim. É óbvio. Os setores populares vão continuar iguais, como é o padrão do Brasil.

Em quatro anos, sua administração aumentou muito a receita do futebol. Como você vê o futuro do clube?

Em quatro ou cinco anos, vamos ser um dos clubes mais estruturados e ricos do futebol mundial. Tenho convicção disso. É só não mudarem muito o planejamento e seguirem o projeto que está feito. Espero que meu sucessor seja o Mário Gobbi (candidato da situação) para segurar jogadores.

O Corinthians trouxe ao Brasil jogadores que estavam em declínio na Europa, como Ronaldo, Roberto Carlos e Adriano. Com esse crescimento das receitas, você considera que já é possível brigar com os grandes clubes da Europa?

Hoje, se não for 100%, são 75% ou 80%. Em um ano ou dois, o Corinthians poderá brigar de igual com qualquer clube do mundo. Não precisamos vender jogadores. Se for possível fazer o que fizemos com o Leandro Castán (adquiriu os direitos pertencentes ao Barueri e ao empresário Giuliano Bertolucci), vamos comprar a parte dos parceiros para que eles não tenham prejuízo. Nos próximos anos, teremos muito mais porcentagem de qualquer jogador.

Ronaldo e Andrés nas obras de Itaquera: as duas

grandes tacadas do cartola (Reprodução/Twitter) O Ronaldo foi fundamental para que sua gestão desse certo? Como será a ligação dele com o clube sem você no poder?

Não digo que ele foi fundamental. Ele foi um dos pilares importantes. O mais importante é que ele vai continuar agregado ao Corinthians como um parceiro. É bom para o Corinthians e para ele. São duas marcas fortíssimas. Unidas, elas serão ainda mais fortes.

Você deixa o Corinthians sem o título da Libertadores. Você acredita que a pressão em 2012 vai ser ainda maior que em 2011, quando a torcida protestou pela eliminação contra o Tolima-COL?

O torcedor está mais consciente. A Libertadores não vai ser a loucura que foi nas últimas edições. O torcedor aprendeu que o clube precisa disputar vários anos para conseguir conquistar. Mesmo se a conquista não vier ano que vem, vamos sair aplaudidos do jogo que perdemos, se assim acontecer. Só não pode ser a catástrofe que foi contra o Tolima. Se houve uma pressão maior, temos de entender porque o futebol é paixão e ela extrapola alguns sentimentos. Mas o Corinthians vai entrar fortíssimo. Adriano é uma das apostas para a Libertadores, e você não esconde que está insatisfeito com o rendimento dele até agora. Por que essa postura?

É ser sincero. Se me perguntam se estou satisfeito, logico que não estou. Ele teve uma contusão gravíssima, demorou um pouco mais do que o esperado para se recuperar. Nem o Adriano está satisfeito com o que fez. Com as férias e a pré-temporada, com certeza ano que vem ele vai dar muito mais alegrias. A cobrança vai ser igual esse ano. Pensa que não teve esse ano?

Vai renovar o contrato dele?

Ele renova ano que vem. Em fevereiro ou março deve renovar.

Você agora é o novo chefe de Seleções. Quando o anúncio foi feito pela CBF, alguns clubes já reclamaram de um possível favorecimento ao Corinthians...

São pessoas maldosas que podem insinuar isso. O Corinthians vai ser campeão ou ganhar jogos se jogar bem e tiver um time competitivo. Garanto para você que não tem influência de ninguém. Se fosse assim, eu teria sido campeão de tudo. Disputei duas Libertadores e não ganhei nenhuma, disputei três Brasileiros e ganhei um só. Infelizmente, as pessoas insinuam coisas. Isso me entristece. O Corinthians vai ser respeitado como todos. Se for pensar nesse sentido, na CBF e nas federações não poderia haver dirigente porque todos possuem um time de coração.

Juvenal Juvêncio e Andrés: relação conturbada

(Foto: Montagem sobre fotos da Agência Estado) E a rivalidade com o São Paulo? Como ficará sua postura?

Não vai ter. Estou indo para um cargo que não posso ter rivalidade com ninguém. Todos serão respeitados. Vou ter que mudar minha postura, mas, com todos que tinha rivalidade, sempre me dei bem. Sempre me dei bem com o Juvenal, Adalberto, Marco Aurélio. Claro que depois vinha a parte comercial e técnica. Mas, ano que vem, vai ser uma coisa para o Brasil. Vou ter de respeitar todos.

O Mano Menezes foi muito questionado por causa de algumas convocações, como do Jucilei, Elias, Ralf e Paulinho, todos jogadores do Corinthians. Você não teme passar por isso também?

Quem convoca jogador é o treinador da Seleção. Não vou ter participação nenhuma na convocação desse ou aquele jogador. A responsabilidade disso é 100% do treinador.

Hoje, você é o principal aliado do Ricardo Teixeira. É o caminho natural para ocupar o lugar dele na CBF em 2015?

No futuro, pode ser. Mas acho que têm algumas pessoas na minha frente. Não vou citar nomes, mas tem gente muito mais experiente que eu. Se o Ricardo entender que quer sair, tem gente na minha frente. Vou respeitar.          

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