Campeão, Santos prepara arena para crescer também em estrutura

Campeão, Santos prepara arena para crescer também em estrutura

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:37

Com quatro títulos em um ano e meio (Libertadores, Copa do Brasil e dois Paulistas), o Santos se prepara agora para dar um novo salto em receitas, torcida e estrutura. A prioridade, claro, ainda é manter as estrelas Neymar e Ganso no elenco, mas o grande símbolo físico dessa guinada, segundo o presidente Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, é uma arena multiuso para 40 mil pessoas a ser construída em Cubatão, cidade vizinha a Santos.

“Laor”, como é conhecido, não revela o nome da empresa que bancará o projeto, mas admite que há uma reunião marcada para a primeira semana de agosto – o dirigente passará 15 dias de férias em julho.     Empresário do setor de avaliação imobiliária, Laor garante que o Santos não pagará “um tostão” no novo estádio – o retorno do investidor viria das receitas geradas com bilheteria dos jogos do Peixe e de eventos na arena. A opção por Cubatão se dá por dois motivos: a facilidade do acesso de torcedores vindos da Grande São Paulo e a falta de terrenos disponíveis em Santos. A Vila Belmiro continuaria de pé, mas seria usada apenas em jogos menores.

Nesta entrevista exclusiva ao Globoesporte.com , na sede da Rede Globo em São Paulo, Laor falou do aumento das receitas do clube e de como conseguiu manter, pelo menos até agora, as estrelas Ganso e Neymar no elenco, além de ter contratado jogadores badalados como Robinho (ano passado) e Elano (este ano).

Léo e Luis Alvaro exibem a taça da Libertadores

(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)

  Segundo ele, o sucesso de sua administração, iniciada na virada de 2009 para 2010, está atrelado ao grupo de empresários santistas que se reúne regularmente para discutir questões que vão desde o fluxo de caixa à observação e contratação de novos reforços. Fazem parte desse grupo empresários bem-sucedidos como José Berenguer, vice-presidente executivo do Santander Brasil; Walter Schalka, presidente da Votorantim Cimentos; Álvaro Simões, presidente da Inpar; Álvaro de Souza, presidente do Conselho de Administração da Gol Linhas Aéreas; Alex Zornig, gerente financeiro da Oi Telecom; Eduardo Vassimon, do Conselho de Administração do BBA Itaú; Fabio Barbosa, presidente da Federação Brasileira dos Bancos; e Guilherme Leal, presidente do Conselho de Administração da Natura e candidato a vice na chapa de Marina Silva (PV) à presidência da República.

Confira os principais trechos da entrevista de Laor:

O senhor assumiu o clube com uma dívida alta. Qual a situação atual?

Assumimos com uma dívida de curto prazo de R$ 70 milhões e sem um tostão em caixa, com ameaça de venda de Neymar e Ganso a preços aviltados. Contratamos um técnico perfeito, que foi o Dorival, e promovemos garotos da base. Ganhamos o título paulista e a partir dali embalamos. Terminamos o ano passado com superávit operacional pela primeira vez em décadas. Arrecadamos mais do que gastamos (quase R$ 10 milhões a mais, segundo o balanço patrimonial).  

Qual foi o segredo para montar um time competitivo e manter as principais estrelas?

O segredo foi montar uma equipe de santistas apaixonados como eu, dispostos a ajudar o clube a reverter um processo de decadência explícita. Em 2008 nós fomos salvos do rebaixamento por um gol maluco do Quiñonez e em 2009 até a última rodada ainda corríamos risco. Pior do que isso foi ver o antigo dirigente (Marcelo Teixeira) dizer que se o Santos fosse rebaixado, não teria forças para voltar à série principal. Isso revoltou a esse nosso grupo de santistas. Entendíamos que, com a nossa experiência profissional, poderíamos transformar o Santos novamente em protagonista. Nosso lema de campanha foi “O Santos Pode Mais”. Esses empresários se reúnem comigo toda semana. Discutimos o fluxo de caixa e falamos sobre como equacionar as dívidas. Falamos de ações de marketing, de patrocínios, de contratações de jogadores.

Qual o próximo passo?

Veja, a torcida está crescendo. Tivemos a ousadia de trazer o Robinho, numa operação de engenharia criativa. A operação custou muito pouco ao Santos, e a presença dele ajudou a amadurecer os garotos que vinham da base. Em um ano e meio, dos cinco títulos que disputamos, ganhamos quatro. O Santos passou a ter outra posição em relação à opinião pública. Revivemos o amor próprio dos santistas. É impressionante as crianças se transformando em torcedoras do Santos pelo futebol alegre que temos. Somos um fenômeno midiático. Mantendo os meninos (Neymar, Ganso...) até a Copa de 2014, podemos ser a terceira maior torcida do Brasil.

Ano passado foi preciso vender Wesley e André. E agora?

O Santos não precisa vender. No caso do Wesley e do André, eles tiveram propostas fantásticas e nos procuraram pedindo para sair. Não queremos ninguém mal humorado no Santos. Imagino que o André esteja arrependido, o Wesley menos, e o dia em que eles quiserem voltar, as portas estão abertas. (Nota da Redação: o Santos recebeu R$ 8,8 milhões por 50% dos direitos de André, e R$ 7,7 milhões por 35% de Wesley).

E a questão do Ganso?

Não quero vender jogador nenhum, sou um presidente ciumento. Depois desse título, com a paixão que esses jogadores têm pelo Santos, duvido que queiram sair. Com relação ao Ganso, ele vai ficar até o fim do ano, estou tranqüilo com relação a isso.

Como foi a conversa com ele após o título da Libertadores?

Foi com um abraço fraternal. Eu disse “Paulo Henrique, não tenho a pretensão de ser seu pai, porque você já tem pai, mas me candidato a ser seu irmão mais velho, vamos continuar juntos.” A resposta dele foi positiva.

Luis Alvaro exibe a medalha da Libertadores

(foto: Wagner Bordin / sportv.com)

  Mas qual a situação atual do clube?

A dívida de R$ 70 milhões a curto prazo foi repactuada, sendo que parte está sendo discutida na Justiça, e parte foi estendida a prazo maior, com juros menores. Como agora há superávit operacional, não será difícil equacionar. E a gente sabe que se um ou outro jogador sair pelo valor da multa, qualquer que seja esse jogador, receberemos quase que a totalidade para se quitar a dívida. Importante notar que o Santos não contraiu nenhuma dívida nova, não pegamos nenhum centavo emprestado e hoje somos um clube equilibrado.

De quanto foi o crescimento das receitas?

O patrocínio de camisa nós multiplicamos por três. As cotas de TV aumentaram substancialmente, já que finalmente fomos enquadrados no primeiro time de cotas (ao lado de Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Vasco). Nossas ações de marketing geraram muitos recursos, não só os patrocinadores de camisa, mas parceiros em ações pontuais. Conseguimos também com que esses patrocinadores usassem a imagem positiva de nossos jogadores para vender seus produtos. Isso amortiza muito do dinheiro (salário e direitos de imagem) que (os jogadores) recebem e que o Santos não precisa pagar.

Já foi feito o cálculo do lucro com o título da Libertadores, entre bilheteria, patrocínios específicos para alguns jogos no calção, cotas de TV e premiação da Conmebol?

Ainda não. Estamos fazendo. Na final tivemos uma renda magnífica, de mais de R$ 4 milhões, mas a premiação foi modesta. O valor líquido foi de US$ 1,750 milhão (cerca de R$ 2,8 milhões). A gente ganhou mais que isso no Paulista (R$ 3 milhões). A gente vai precisar de dinheiro no segundo semestre, não só para manter os jogadores, mas para trazer reforços e buscar o título do Brasileiro e do Mundial de Clubes. Já esse prêmio da Libertadores a gente vai dividir a maior parte entre os jogadores, eles merecem.

Uma das críticas à sua administração foi por ter deixado o Jean Carlos Chera sair (para o Genoa, da Itália) sem que o clube recebesse um tostão. O que fazer para que casos como esse não se repitam?

A gente não vai cometer a insanidade que se cometeu (na diretoria anterior) de dar a um menino de 13 anos um salário de jogador profissional (R$ 30 mil). Quando o menino (Chera) completou 16 anos, o pai nos procurou. Ele queria R$ 1 milhão de luvas, R$ 70 mil de salários mensais no primeiro ano, R$ 90 mil no segundo e R$ 120 mil no terceiro. Mais do que isso, queria que o Santos assumisse a obrigação de escalá-lo no ano que vem. Isso não existe! Oferecemos valores menores, mas ainda altos para o mercado, e mesmo assim o pai continuou exigindo que o Santos escalasse o garoto. O Santos não é refém de ninguém. Se nem o Pelé se escalava, imagina um garoto de 16 anos. Não vamos mais aceitar esse tipo de atleta. E hoje a maior parte dos direitos dos jogadores pertence ao Santos, em média 70%. Antes, o Santos detinha apenas 49%, e o resto era fatiado entre família e empresários. Veja, é o Santos quem vai investir, vai expor, vai formar o atleta. Então é justo que sejamos majoritários nos direitos.

E o projeto do estádio em Cubatão? Sai do papel?

Acho que sim. Estamos com os estudos sendo elaborados. Temos uma conversa no começo de agosto com o empreendedor. É um projeto imobiliário magnífico em Cubatão (veja mapa abaixo), uma arena multiuso para 40 mil torcedores, um estádio capaz de abrigar os jogos importantes do Santos. O clube não investirá um tostão na construção desse objetivo. Vamos manter a Vila para 30% dos jogos restantes, pelo seu caráter simbólico. A Vila Belmiro é intocável como o Vaticano (para os católicos), Meca para os árabes e Jerusalém para os judeus.

Novo estádio do Santos será erguido em Cubatão, em local ainda não divulgado.

Distância da Vila Belmiro seria de cerca de 8 quilômetros (Foto: Reprodução / Google)          

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições