Caso Latelli expõe restrição italiana ao Brasil: ?Fundo do poço?, afirma Murilo

Caso Latelli expõe restrição italiana ao Brasil: ?Fundo do poço?, afirma Murilo

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:11

O rótulo de traidor dado ao italiano Maurizio Latelli, que ajudou o Brasil durante um treino antes da estreia no Mundial, revelou uma rivalidade que antes permanecia velada entre os países. O duelo se restringia à quadra, mas ultrapassou as quatro linhas. Do lado de fora, os torcedores vibram contra, e a organização parece querer dificultar o caminho brasileiro ao tricampeonato. São impressões que ganham força no decorrer do Mundial. E as seleções ainda nem estiveram frente a frente...

- Com essa perseguição ao Latelli, vi que chegamos ao fundo do poço. O cara só ajudou, não pode ser rotulado como traidor. Só falta agora eles retaliarem o médico de Modena por ter atendido o Marlon. Um absurdo - desabafou Murilo, que jogou quatro anos na Itália, sendo três na cidade de Modena e um em Valentia.

A história de Latelli incomodou os brasileiros, que ficaram chateados e decepcionados. Em Verona, o Brasil já estava sem o levantador Marlon, que ainda se recupera de uma inflamação no intestino. Precisou de ajuda nos treinamentos, e Bernardinho recorreu a Bruno Bagnoli, comandante do Marme Lanza, time local, para indicar um jogador da posição. O técnico chamou Maurizio Latelli, que prontamente rendeu o brasileiro .

Depois, no entanto, o italiano teve que se defender das acusações. Deu entrevista a um jornal explicando que não era um traidor, como estavam especulando. Minimizou o caso, dizendo que só participou de um treino. A Federação Italiana de Vôlei disse oficialmente que nunca pensou em punir o jogador , mas não é o que se comenta nas internas. Murilo repudiou todo o acontecido e voltou ao passado para ilustrar que a recíproca não é verdadeira.

- O Bebeto deu o título para os caras e nem por isso é chamado de traidor no Brasil. É considerado um ídolo - lembrou o ponteiro, referindo-se ao ex-jogador Bebeto de Freitas, que comandou a Azzurra no título mundial de 1998.

A restrição também existe por parte dos torcedores e pode ser constatada desde a primeira fase, ainda em Verona. No jogo contra Cuba, os italianos lotaram o Palaolimpia e abraçaram fervorosamente os cubanos. Vibravam a cada ponto e não deixavam a equipe do ‘King Leon’ desanimar. O mesmo aconteceu na primeira partida da segunda fase, já em Ancona. A grande maioria do Palarossini era a favor da Polônia, mas poucos poloneses estavam presentes. Todo mundo seca o Brasil. Torce contra mesmo. Público, jogadores, organização... isso a gente sabe que acontece. O que a gente faz é tentar responder dentro de quadra. Jogo entre Brasil é Itália é pior que Brasil e Argentina no futebol. Eles querem ganhar de qualquer jeito, mas a gente entra em quadra para dar porrada. Tem um monte de cara conhecido do lado, até amigos, mas a vontade de vencer é enorme - explicou o ponteiro.

A rivalidade com o Brasil vai mais além. O que se comenta nos bastidores é que a Itália quer dificultar o tricampeonato mundial dos brasileiros. Além de ter um caminho mais fácil à fase final, colocou seu grande adversário num chaveamento complicado, com deslocamentos mais longos e podendo enfrentar oponentes mais fortes.

A Itália era absoluta no cenário internacional na década de 90. Foram três títulos mundiais consecutivos – 1990, 1994 e 1998 -, e oito da Liga Mundial. Mas desde que Bernardinho assumiu o comando do Brasil, em 2001, a bandeira no alto do pódio mudou de cor. A seleção brasileira ganhou, entre outros títulos, a medalha olímpica nos Jogos de Atenas-2004, dois mundiais – 2002 e 2006 - e oito da Liga Mundial, superando a Azzurra ao conquistar neste ano o enecampeonato.

- O que eu imagino é que, a partir do momento que a gente começou a ganhar, eles se sentiram ameaçados. Hoje em dia, nenhum time pode nos receber. Eles não admitem isso e não colocam como regra, mas se puderem, não recebem mesmo. Vínhamos para cá pelas relações que criamos. Vários jogadores da seleção atuaram aqui. Quem dera se todo ano a seleção italiana fosse em clubes do Brasil para treinar. Essa troca de experiência é muito importante. Mas se não querem, a gente não vem. Agora, passamos por França, Alemanha ou Polônia. Para a gente, não faz diferença – finalizou Murilo.

O Brasil folga nesta sexta-feira. De acordo com a programação, faz um treino na parte da tarde. Volta à quadra do Palarossini no sábado, às 16h (de Brasília) para enfrentar a Bulgária pela liderança do grupo N. Se terminar em primeiro, segue para Florença, onde pode duelar com Rússia e Cuba. Em segundo, pega estrada para Roma - sede da final - e, provavelmente, encontra com Alemanha e República Tcheca.

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