Ele tem dificuldade com essa coisa de regras. A frase do empresário Antenor Joaquim reflete bem o comportamento e a trajetória de Jobson no futebol. No Bahia, como aconteceu ao longo de sua carreira, a passagem de pouco mais de cem dias pode ser resumida por esta afirmação. Foram 15 atrasos para treinos e uma falta neste período. E o atacante, apesar dos gols e das boas atuações em campo, acabou mais uma vez saindo pela porta dos fundos, o que já havia ocorrido no Botafogo e no Atlético-MG.
O ponto determinante para o desligamento do atacante, de 23 anos, aconteceu no último fim de semana. A concentração dos jogadores do Bahia estava marcada para as 22h de sexta-feira. Segundo fontes ligadas ao clube, Jobson se apresentou somente na manhã de sábado e com sinais de embriaguez. O empresário do atacante, entretanto, apresentou outra versão.
- Houve atrasos, mas jamais houve embriaguez. O Bahia decidiu pelo desligamento por questão de desrespeito às regras do clube. Mas em nenhum momento houve atos que lembrassem acontecimentos do passado do Jobson - defendeu Antenor Joaquim.
Em campo, Jobson correspondeu, mas fora dele descumpriu regras (Foto: Wesley Santos/PressDigital)
A velocidade que usa em campo para deixar os zagueiros e fazer diabruras com a bola foi a mesma com que Jobson chegou ao Tricolor, conquistou a confiança da torcida, tornou-se o artilheiro do time na Série A do Campeonato Brasileiro e colocou tudo a perder. Do início de maio, quando foi anunciado oficialmente, até a última segunda-feira, quando teve o desligamento comunicado oficialmente pela diretoria, o jogador foi do céu ao inferno. Tudo isso em apenas 108 dias.
O atacante chegou ao Bahia sob desconfiança. Depois das polêmicas causadas no Brasiliense, Botafogo e Atlético-MG, a contratação dele foi definida como uma aposta de alto risco pelo presidente do clube, Marcelo Guimarães Filho, e pelo técnico René Simões. Dias antes de o acerto ser oficializado, o vice-presidente médico do Bahia, Marcos Lopes, chegou a se mostrar contrário à contratação por causa do passado do jogador com as drogas.
- A contratação terá que passar por mim e eu não terei problema em vetar. Primeiro vou ter que saber se ele está livre da dependência química disse na época.
A relação com as drogas, ao que tudo indica, ficou realmente no passado. Jobson foi aprovado nos exames médicos e foi determinado a passar por exames de sangue semanais para comprovar o fim da dependência. Caso qualquer alteração fosse encontrada, o contrato seria rescindido sem prejuízo para o Bahia.
- Ele vem sendo testado e não tem nada a ver com o problema de droga dele fez questão de esclarecer René Simões logo depois do afastamento do atacante antes da partida contra o Santos.
O presidente do clube também confirmou que, no Bahia, Jobson não teve envolvimento com drogas. O problema era mesmo a disciplina. Apesar de não ter sido flagrado pelo uso de substância química, naquele momento, a permanência de Jobson no Bahia já era insustentável.
- Os exames eram realizados regularmente. Não houve nenhum problema com relação a isso - atestou Marcelo Guimarães Filho.
Os primeiros erros
Depois de começo elogiado, atacante passou a cometer infrações (Foto: Raphael Carneiro/Globoesporte.com)
Jobson chegou ao Bahia com o discurso de aproveitar a nova oportunidade no futebol. René Simões, considerado por muitos um grande psicólogo, chegou a dizer que sairia nos tapas com o atacante para mantê-lo nos trilhos. No entanto, assim como Joel Santana, que disse se sentir um derrotado no relacionamento com Jobson, não conseguiu.
Com o talento que tem, o atacante não precisou de muito para criar uma relação de idolatria com a torcida. No primeiro jogo em Pituaçu, foram dois gols que garantiram o empate com o Flamengo. Voltou a balançar as redes outras quatro vezes. Só que à medida que a importância dele no time aumentava, o rendimento dentro de campo diminuía. Coincidentemente, o lado travesso do atacante começou a se mostrar depois do julgamento na Corte Arbitral do Esporte.
- No começo estava tudo bem, mas depois desandou. Não foi de uma hora para outra, mas aos poucos ele começou a sair da linha contou um funcionário do clube.
Nesse sair da linha, foram 15 atrasos e uma falta ao treinamento. O clube tentou resguardar o atacante ao máximo, mesmo quando cometia estas faltas. Mas as próprias atitudes do jogador revelaram todos seus erros.
Os problemas
A primeira falta pública aconteceu no dia 28 de julho, quando Jobson não iria enfrentar o Vasco, no Rio de Janeiro, e faltou ao treino dos jogadores não relacionados. Neste dia, o atacante teria duas entrevistas marcadas, mas cancelou sob o argumento de que iria sair com a mãe, que estava em Salvador.
O problema foi que, no dia seguinte, o fotógrafo pessoal do jogador que recentemente se envolveu em uma briga em uma boate de Salvador apresentou uma nova versão. Segundo ele, a esposa de Jobson passava por dificuldades na gestação.
- Ela pode perder o bebê a qualquer momento confirmou Jobson em entrevista coletiva, quando disse ter comunicado ao clube o motivo da ausência no dia anterior. No Bahia, ninguém assumiu ter recebido a justificativa do jogador.
Ainda assim, Jobson procurava dar sinais de que não perderia o controle da situação.
- O professor @rene _simoes é um paizão, está me dando muito apoio e não irei decepcioná-lo. Todo grupo esta fechado com ele. Obrigado, professor escreveu na época o jogador em sua página no Twitter.
A partir daí a situação apenas piorou. Os atrasos aumentaram. Além de perder o horário dos treinos com esforço do clube para que a informação não se tornasse pública , o atacante passou a chegar atrasado antes das viagens e a aprontar também quando o time não estava em Salvador.
A gota d'água
Após inúmeros descumprimentos de regras, Jobson foi dispensado do Tricolor baiano (Foto: Ag. Estado)
A cada atraso de Jobson a caixinha do clube era formada basicamente pelas multas do atacante , a relação dele com o grupo ficava estremecida. Não foram poucas as vezes que os jogadores conversaram com o atacante para tentar convencê-lo a mudar o comportamento.
- Nosso grupo comprou a briga. Estávamos todos empenhados. Conversávamos muito sobre isso. Fahel, Fabinho, Carlos Alberto, todos tinham muita preocupação. Titi, por exemplo, foi uma pessoa que ajudou muito. Só que os problemas passaram a incomodar a todos. Pesou a decisão em nome do Bahia, que está acima de todos nós contou o técnico René Simões.
Em uma dessas conversas, que também englobavam o individualismo do time dentro de campo, Jobson se desentendeu com Carlos Alberto : mais um caso mal contado envolvendo o atacante. A versão oficial do clube foi que a discussão entre os jogadores aconteceu em um treino coletivo no estádio de Pituaçu. O atleta comentou, no entanto, que a briga teria acontecido na academia do clube antes de um treino. Curiosamente, neste dia Jobson havia chegado atrasado e não participou da atividade com bola.
- Chegou um determinado momento em que ele estava começando a mentir. Não adianta a gente procurar o melhor caminho e a pessoa não estar levando a sério aquilo que você está falando lamentou o técnico Joel Santana em referência ao período em que trabalhou com o jogador no Botafogo, quando Jobson apresentava os mesmos problemas vistos durante sua passagem pelo Bahia.
Nenhum jogador quis comentar abertamente o caso, mas o afastamento da partida contra o Santos e o posterior desligamento teve o aval da maioria do elenco. No treino de sábado, inclusive, o meia Carlos Alberto tomou a palavra antes da atividade e demonstrou apoio à decisão do técnico René Simões. O goleiro Marcelo Lomba, também.
- O clube tem uma conduta. O escudo do clube vem na frente dos jogadores e não é à toa. Nós temos contratos e cláusulas que temos de respeitar afirmou o goleiro Marcelo Lomba.
Linha do tempo de Jobson no Bahia
4 de maio Apresentação oficial do jogador
22 de maio Estreia no Bahia pela Série A do Brasileiro diante do América-MG
29 de maio Dois gols diante do Flamengo e o empate em 2 a 2 em Pituaçu
18 de junho Gol no último minuto contra o Fluminense, às vésperas do julgamento na CAS
21 de junho Julgamento na Corte Arbitral do Esporte
17 de julho Quarto gol no Brasileiro, diante do Cruzeiro, em Minas Gerais
24 de julho Sexto cartão amarelo e a primeira expulsão na Série A de 2011
26 de julho Torna-se o jogador mais indisciplinado da Série A
28 de julho Falta ao treino e, no dia seguinte, diz que a esposa passa por problemas na gravidez
7 de agosto Quinto gol no Brasileiro, desta vez diante do Atlético-GO
12 de agosto Bahia revela discussão de Jobson e Carlos Alberto em treino
14 de agosto Gol contra o Internacional e abraço em Carlos Alberto diante da torcida. Último gol dele com a camisa do Bahia
20 de agosto É cortado da partida contra o Santos por ter se atrasado para a concentração
22 de agosto Tem a dispensa anunciada pela diretoria do Bahia
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