Da polêmica ao fracasso, mistério e isolamento envolvem Bellucci em SP

Da polêmica ao fracasso, mistério e isolamento envolvem Bellucci em SP

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:08

Uma polêmica, uma revelação surpreendente, o suspense sobre o novo técnico e uma derrota inesperada marcaram a passagem de Thomaz Bellucci por São Paulo na última semana, quando disputou um torneio Challenger organizado pela promotora que agencia sua carreira. Chamou atenção também o isolamento do número 1 do Brasil, poucas vezes visto em público ou conversando com outros tenistas. O GLOBOESPORTE.COM observou o tenista durante o período e relata, a seguir, os eventos mais importantes.

A chegada de Bellucci já causou furor. Na sexta-feira anterior ao torneio, em uma entrevista coletiva, o número 1 do Brasil, que chegava de uma derrota na primeira rodada do ATP de Estocolmo, criticou os técnicos brasileiros e pediu mais atuação de ex-tenistas na formação de jogadores. A declaração pegou mal nas rodas de tênis no Brasil, e paulista ouviu respostas duras. Carlos Alberto Kirmayr, por exemplo, disse que Bellucci é um moleque irresponsável.

Na mesma entrevista, Bellucci disse que seu técnico, João Zwetsch, e o gaúcho Larri Passos eram exceções. Curiosamente, Zwetsch foi demitido ainda em Estocolmo e, no domingo, já sem conseguir esconder a ausência do treinador, o tenista confirmou a separação. Surgiu, então, nos bastidores, o boato de que Larri Passos já havia sido procurado por Bellucci. A busca por um novo técnico, porém, começou duas semanas antes, com Zwetsch ainda empregado.

Bellucci deu uma nova entrevista na terça-feira e voltou a falar sobre o nível dos treinadores. Desta vez, admitiu não conhecer a fundo o trabalho de muitos, mas seguiu afirmando que o Brasil precisa de melhores técnicos. O assunto do torneio, porém, já era o provável acerto com Larri. O treinador se esquivou de declarações durante toda a semana, e Bellucci fez o mesmo. O atleta, inclusive, deu a entender que outros profissionais ainda estavam sendo cogitados. Roberto Marcher, diretor técnico da Koch Tavares, afirmou o mesmo.

Marcher, aliás, foi a sombra de Bellucci no torneio. Nas poucas vezes que aparecia em público, o tenista estava acompanhado pelo ex-tenista, hoje com 63 anos. Marcher, responsável por assinar o contrato de agenciamento da carreira de Bellucci, ainda em 2007, acompanhou - e interrompeu - a entrevista de terça-feira. Ele também almoçava, lançava bolas para o pupilo nos treinamentos e fazia as funções de técnico durante as partidas.

Enquanto a maioria dos tenistas almoçava em grupo, sentava à mesma mesa para bater papo, circulava para ver os jogos em outras quadras e posava para fotos ocasionais com os fãs, Bellucci se isolava. O almoço era com Marcher (à direita na foto acima) e seu preparador físico, Cassiano Costa. Quase nunca o número 1 do Brasil saía da área restrita a jogadores e imprensa.

- Eu faço toda a parte de concentração, de mentalização, técnicas de concentração. Agora, eu estou no papel de técnico, que é a preparação para a partida, os pontos fortes do rival, as cagadas que o Thomaz Bellucci fez. Falei para ele agora: "Os cinco primeiros minutos de conversa - são 30, 40 minutos, por aí - não vão ser muito agradáveis, talvez você não goste". Ele não fez nada, mas tem três cagadas naquele jogo que ele não pode mais fazer - disse Marcher.

O veterano, sem o qual Bellucci não pode - por contrato - tomar decisões como demitir e escolher seu técnico, trabalha como uma espécie de guru, indicando livros e ensinando métodos de concentração. Durante as partidas, sentado à beira da quadra, dispara frases como "Vamos, Thomazinho. Devagar!", "Pega o tempo, pensa e relaxa. Isso aí!" e "Vamos, caminha devagar. O que foi combinado". Ele, no entanto, rejeita o rótulo.

- Eu sou um professor, sim, competente. O guru faz uma coisa mais espiritualizada.

Marcher também se envolve no calor do jogo. Quando um adversário se chamou de burro, ele respondeu com um grito abafado de "Anta!". Na final, reclamou com um funcionário do clube quando os holofotes foram acesos a pedido de Marcos Daniel: "Quem mandou acender?".

- Um grande técnico para o Bellucci tem que ser um técnico mais duro. Essa parte de amenizar as coisas é o que eu faço - ressalta Roberto Marcher.

Com poder para decidir os rumos da carreira do número 1 do Brasil, Marcher garante que não vai se intrometer no método de trabalho do próximo treinador - contrariando os rumores de que um conflito de interesses inviabilizaria a parceria com Larri Passos. O diretor da Koch Tavares chega a mencionar o nome do técnico gaúcho, mas para no meio da frase.

- Quando eu falei com (o argentino) Mariano Monachesi, que já treinou o Coria, eu disse "olha, não é que eu vou me meter, mas vou ficar olhando esse negócio de cima. Você vai falar comigo se houver algum problema. Eu vou em torneios contigo, às vezes vou ver treino, e às vezes é bom que, para não ter desgaste, ou que ele (Bellucci) viaje sozinho". O coach que tem medo disso é inseguro, não deveria ser coach. Como o Larri (4min03s) é um cara altamente já...não pode falar do Larri. Os técnicos que estamos procurando agora, todos topam. Uns tinham esse problema.

Longe dos microfones, há quem diga que o acordo foi fechado há mais de uma semana. Outras versões dão conta de que Larri não toparia interferência da Koch Tavares. O fato é que Larri e Marcher conversaram e até dividiram quadras no clube Sociedade Harmonia, sede do torneio. Um ao lado de Bellucci, como sempre, e o outro orientando Tiago Fernandes, seu atleta desde 2008. Larri até assistiu de perto a jogos de Bellucci, mas nunca falou sobre a negociação.

Bellucci interrompeu o fim de temporada na Europa e deixou de jogar um ATP 500 para participar do Challenger de sua promotora. A ideia era reconquistar ritmo de jogo e confiança, ambos perdidos durante uma péssima fase, que incluiu uma derrota precoce no US Open e um inesperado revés por abandono na Copa Davis. O plano, no entanto, não deu certo.

Diante de adversários fracos, fora do top 200, o brasileiro passou bem pelas três primeira rodadas, mesmo com um baixo aproveitamento de primeiro serviço (cerca de 50%) e sem mostrar um tênis vistoso. Nas semifinais, veio o primeiro susto. O jovem Christian Lindell, de 18 anos, venceu o primeiro set e, por pouco, não derrubou o favorito. Bellucci, que reclamava da quadra seca, conseguiu virar e garantir a vaga na decisão.

No último jogo, o adversário era mais perigoso, o gaúcho Marcos Daniel, ex-top 60 e então na 152ª posição do ranking. A partida começou com 4h de atraso por causa da chuva, e Daniel entrou em quadra mais bem adaptado à quadra lenta e pesada. Depois de aplicar 6/1 no primeiro set, o gaúcho sentiu dores e perdeu a segunda parcial. Bellucci teve break points no primeiro e no quinto games do set decisivo, mas não aproveitou. Daniel converteu a única chance que teve e disparou para a vitória, decepcionando Bellucci, a torcida paulista e a promotora do torneio.

Por: Alexandre Cossenza

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