Daiane dos Santos: Nesses dois anos e meio eu nem via ginástica. Doía

Daiane dos Santos: Nesses dois anos e meio eu nem via ginástica. Doía

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:27

As dores físicas não deram trégua. Daiane dos Santos suportou o que pôde até os Jogos Olímpicos de Pequim-2008. O joelho e o tornozelo teimavam em dar sinal de vida, e ela entendeu que era preciso dar um tempo e corrigir o problema se quisesse se despedir em grande estilo nos Jogos de Londres. Só que o período de ausência foi longo e ainda acrescido de cinco meses depois da punição pelo uso de furosemida. Para a dor da alma, que durou dois anos e meio, o remédio foi desligar a TV. Não queria ver, ouvir ou ler notícias sobre ginástica. Doía menos assim.

Daiane dos Santos durante o treino da seleção brasileira (Foto: Jorge Wiliam / Agência O Globo)

  Hoje, de volta à seleção, Daiane consegue olhar para trás abrindo um grande sorriso. Faz mais que isso. Já olha para frente com a vontade de quem sonha mostrar por que um dia foi a dona do solo no mundo. Georgette Vidor queria vê-la assim, inteira. Durante o período em que esteve inativa, a coordenadora da seleção não se cansou de desafiar Daiane com declarações que colocavam em dúvida seu retorno à equipe nacional.

-  Eu tinha que fazer algo para mexer com ela. Queria ver a Daiane inteira. Não podia deixá-la passar por um ridículo, se expor. Ligava para ela após as entrevistas e explicava que não deixava de acreditar. Se não vou ter a Daiane de tempos atrás, pela idade e lesões, queria que ela mostrasse que não estava de brinquedo. E ela veio. Voltou. Estou muito animada  - disse a dirigente, que acredita que após encerrar a carreira a brasileira poderá ser como Nadia Comaneci, na defesa e divulgação do esporte.

Retorno que saiu melhor do que encomenda. Na primeira competição internacional, na Copa do Mundo de Ghent, no início do mês, conquistou a medalha de bronze no solo.  Agora quer vencer o desafio mais importante da temporada: assegurar a vaga olímpica da equipe durante o Mundial do Japão, em outubro. Daiane conversou com o GLOBOESPORTE.COM antes do embarque. Confira abaixo:

A volta

Estar de volta à seleção é sempre maravilhoso e tudo o que um atleta quer. Se você se acostuma a estar dentro da equipe nacional, quando fica fora dói. É dolorido, é difícil. Tanto é que nesses dois anos e meio eu nem via ginástica. Não assisti ao Mundial do ano passado, Pré-Pan, nada. Sabia de algumas coisas que as pessoas me falavam: "Nossa, a Jade ganhou medalha no salto". Eu sofria, queria ajudar e não podia. Se pudesse entrar na TV eu entraria. Não tinha o que fazer. Então, preferia não ver mesmo. Encontrava algumas meninas de vez em quando, mas não sabia muito do meio da ginástica. 

Noveleira

Novela eu via direto durante esse período (risos). Não podia fazer nada. Via muitos filmes também.  

Londres-2012

Nunca perdi o foco. Quanto aos comentários da Geô (Georgette Vidor), foi porque ela ficou três anos sem me ver. Para voltar, eu sabia que tinha que estar bem. Precisava voltar ao que era antes, mesmo depois da cirurgia também. Sempre quis ir para Londres, e a gente vai estar lá! O que ela não sabia era que não precisava me provocar porque eu também tinha esse foco. Durante esse tempo do trabalho visei isso.

Daiane se apresenta no solo no Meeting de Natal

(Foto: Ricardo Bufolin/Photo&Grafiia)

  Momento mais difícil

O do doping foi o mais complicado porque eu não esperava ficar fora totalmente dos treinos e da seleção. Nenhum atleta espera isso. Foi difícil porque era algo que eu não podia controlar, como fazia com uma lesão. Não era uma coisa com que eu estava acostumada. É uma coisa que te estressa por inteiro e que roubou a minha energia total na época. Mas a gente aprende com tudo. O bom é que deu tudo certo. Mas até o julgamento foi complicado.

Reencontro com as companheiras

Elas estão mais maduras. A Priscila Corbello é a que conheço um pouco menos. Está tudo diferente. Era tudo menininha e agora está tudo mulher. Todo mundo maquiado, com luz no cabelo. Tomara que tenham essa maturidade que estão transparecendo no ginásio também. Que a gente possa ter essa maturidade no Mundial que é uma competição muito difícil e tensa. Assim como o Pan também. Temos duas buchas, digamos assim, uma depois da outra e teremos que estar muito bem preparadas e equipadas pra chegar lá bem.

Bronze em Ghent

Quando fui para a competição era para sentir os árbitros, como seria a receptividade deles, e saber como eu ia me portar na volta. Me falaram que a Copa estava forte, mas eu não sabia porque não estava vendo nada. A gente sempre vai pensando no melhor resultado que podia ter, mas não sabia qual seria ele. E foi sensacional. Tive muito elogio dos árbitros e de pessoas falando: "Que bom que você voltou." Teve um gostinho muito bom, e isso aconteceu pelo trabalho que foi feito. Consegui manter um nível bom, mas ainda tenho que melhorar mais um pouquinho.

Dores

O corpo está bem. Deu tempo de recuperar de tudo quanto é dor. Uma dorzinha sempre tem. Atleta de alto rendimento que fala que não tem nenhuma está mentindo. Não tem como treinar sete horas por dia e não sentir. Mas agora minhas dores são normais, de treino. Não tenho mais uma superdor no joelho ou no tornozelo como antes. Para 28 anos o corpo está bem.

Adeus

Por mais que pense nisso e tente me preparar, acho que ninguém consegue ficar pronto para um momento assim. Você faz e vive isso o dia inteiro... Parece que falta um pedaço. Mas acho que tem uma hora que você tem que parar, que não dá mais. E tem que parar bem,  não o esporte te expulsar.

Rio-2016

Vou ver a Dani (Daniele Hypolito) lá com meus dois filhinhos. Vou ajudar de outra forma. Se puder estar com o grupo, como dirigente, não sei como. Mas competindo não. Tenho 28 já!

Família

Falo que vou ter dois filhinhos, mas não estou namorando agora. É complicado. Eu tinha namorado (atleta de jiu-jítsu), moramos juntos durante um ano, mas nossa rotina é difícil de entender. E a pessoa tem que ser muito compreensiva e nem tão ciumenta.

Planos após despedida

Já me falaram que eu posso ser dirigente, política, mas acho que para isso não basta falar bem. Tem que ter uma base muito boa. Tem que saber muito. As pessoas vão chegar e me cobrar. Eu nem tenho cargo político e os pais sempre cobram. Quem sabe?  Agora minha meta é tudo Londres. Depois de lá muda tudo de figura. Eu nunca descarto nada. Vamos esperar o que vai acontecer. Sou formada em Educação Física e dei um pouco de aula, fiz estágio no Pinheiros. Mas treinando desse jeito fica difícil fazer alguma coisa. Gosto muito de trabalhar com a base e quero ainda fazer projeto com crianças deficientes. Mas preciso estudar muito para isso. Não é um projeto que está na gaveta, ele está ali, só falta ter tempo para eu começar.          

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