De bem com a vida e com o cabelo, Cortez festeja adaptação no Tricolor

Cortez festeja adaptação no Tricolor

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:16

Dos sete reforços contratados pelo São Paulo para a temporada 2012, é inegável que, até agora, quem melhor se comporta é o lateral-esquerdo Cortez. Eleito o melhor jogador de sua posição no último Campeonato Brasileiro, ele fez o Tricolor desembolsar R$ 6 milhões para tirá-lo do Botafogo. Até agora, o investimento tem valido a pena.

Neste início de Paulistão, o defensor tem agradado muito ao técnico Leão, dirigentes e torcedores. Na vitória sobre a Ponte Preta, domingo, Cortez fez sua principal partida, inclusive participando ativamente de um dos gols da vitória por 3 a 1.

O bom momento em São Paulo faz o carioca sorrir. Boa-praça, de fácil conversa, Cortez falou sobre sua adaptação à capital paulista. A falta da praia e a distância dos amigos são obstáculos que, aos poucos, ele vai enfrentando. Apesar de querer dar um passo de cada vez, ele deixa claro que sonha com uma volta à Seleção Brasileira de Mano Menezes. Aos 25 anos, o jogador também lembrou das dificuldades do início da carreira e da perda dos pais, que morreram quando ele ainda era criança.

Entre uma volta e outra pelo condomínio onde mora, no bairro da Pompeia, Zona Oeste de São Paulo, houve tempo para dar autógrafos e tirar fotos com vizinhos, inclusive torcedores de outros times. Cortez está de bem com a vida. E sempre com sua marca registrada: a vasta cabeleira, diariamente mantida de maneira impecável pela mulher, Juliana.

Veja abaixo os melhores momentos da entrevista.

GLOBOESPORTE.COM – A adaptação tem sido mais fácil do que esperava?
Cortez – Sem dúvida, está sendo a melhor possível. Fui muito bem recebido pelo grupo, diretoria e comissão técnica. A presença do João Filipe (zagueiro), que era meu companheiro no Botafogo, ajuda muito. O grupo é bom demais, todos são bem unidos. O Lucas apronta bastante, assim como o Wellington. E este momento está se refletindo dentro de campo.

Concorda que, por enquanto, é o reforço com melhor rendimento?
Não gosto de falar isso porque poderia estar faltando ao respeito com os meus companheiros. O que posso dizer é que, além de estar melhorando a minha forma física, ganho confiança a cada jogo que passa. É importante mostrar ao torcedor que vim para cá para ser vencedor.
Gostaria que falasse sobre sua história no futebol, porque impressiona a rapidez com que cresceu nos últimos anos.
Eu comecei com nove anos em uma escolinha que selecionava garotos para treinar na equipe infantil do Vasco. Nesse ano, no entanto, minha mãe, Raquel, morreu e eu resolvi parar, desanimei mesmo. Fiquei uns seis meses longe do futebol. Foi difícil demais. Meu pai já havia morrido e éramos eu e ela só. A minha sorte foi que um casal vizinho me pegou para me criar. Sem eles, o José e a Ana Margarida, eu não teria chegado onde cheguei. É até engraçado porque eles são loiros e eu era o único pretinho da família. Quando voltei ao futebol, passei pelo Bangu, pela escola do Arturzinho (meia que jogou na década de 80) e pelo Quissadã, time que hoje está na segunda divisão do Rio. De lá, fui para o Nova Iguaçu, onde fiquei cinco meses e já fui contratado pelo Botafogo. Um ano depois, estou no São Paulo, com contrato de cinco anos.

Como assimilou a mudança de realidade tão rapidamente?
Não foi fácil, mas como eu sempre frequentei a igreja desde pequeno, sempre fui um cara disciplinado. Mesmo crescendo no futebol, continuava trabalhando com seriedade. Do treino para casa e da casa para o treino. Não saía à noite. Até hoje sou assim. O máximo que faço é ir ao shopping para comer e dar uma passeada. Fora isso, vou na casa do João Filipe e reunimos nossas famílias.

Como se vira em São Paulo sem a praia?
É difícil, mas a gente acaba compensando com a piscina mesmo. Também nunca fui um cara de viver na praia. Sempre fui muito de igreja.

E os amigos que ficaram no Rio?
Fazem falta, mas estamos sempre nos falando. Eu posso dizer sem vergonha nenhuma que tenho amigos de verdade. Estamos juntos desde moleque até hoje. Onde eu morava (Campo Grande, Zona Oeste do Rio), era normal ver um ou outro conhecido fazer besteira e ser preso por roubar algo. Mas eu nunca convivi com amigo que mexesse com drogas. Somos muito unidos até hoje, são meus parceiros.
É impossível olhar para você e não reparar no seu cabelo.
Eu sei, já estou acostumado. Eu tinha cabelo baixo, passava máquina dois. Até que, um dia, meu primo Ademar sugeriu deixar o cabelo crescer e acabou ficando assim. No Nova Iguaçu, um dia tentaram cortar, mas o presidente não deixou. Não é fácil ficar assim. Dá trabalho (risos). Minha mulher, Juliana, fica quase uma hora todos os dias para desembaraçar os fios, já que, após o banho, formam os "dreads". Mas é bom para ela, que também faz um exercício (risos).
Mas ele não desmonta nem na chuva. Contra o Botafogo, na estreia do campeonato, caiu o mundo no Morumbi e o penteado ficou inteiro.
Você não sabe o que me zoaram nesse dia. Falavam no vestiário que a drenagem estava aprovada. Eu aceito de boa, sou um cara que gosta de brincar. Por onde ando, é impossível não ser notado. O torcedor chega, pede foto, autógrafo e eu atendo de boa. Esse carinho é muito importante para qualquer jogador.

Se o São Paulo for campeão, topa cortar o cabelo para comemorar?
Nenhuma chance. Esse cabelo é a minha marca (risos). Pergunta lá para o Ronaldinho Gaúcho se ele corta o dele. Eu cuido todo o dia. Ele só não pode crescer (mais) porque atrapalha a corrida. Mas meu cabelo é à prova de tudo (risos).

Com pouquíssimo tempo de São Paulo, é possível já pensar em Seleção?
É claro que quero ser chamado novamente. No ano passado, foi muito importante para mim. Muita gente diz que eu caí de rendimento quando voltei da Seleção. Eu concordo, acho que tive uma oscilação, mas o time do Botafogo inteiro caiu. Agora minha cabeça está voltada apenas para o São Paulo. Se fizer um bom trabalho aqui, e ainda tenho muito a mostrar, acredito que possa ser chamado novamente.

Qual turma você integra no CT? A do pagode, a do videogame ou nenhuma?
Eu não curto pagode, mas não dispenso um videoagame. Gosto muito do jogo de futebol, o PES 2012. Eu sempre uso o Barcelona ou o Napoli. Tem muita gente que gosta, a disputa é sempre acirrada. O Osvaldo é que chegou falando que era o campeão, que não ia dar chance para ninguém, mas já levou um toco para ficar esperto (risos). Esse tipo de coisa só ajuda a unir ainda mais o grupo. Também gosto muito de jogar uma sinuca.

O que pode dizer do Leão? Ele assusta?
Eu nunca havia trabalhado com ele, só acompanhava de longe. É uma pessoa boa demais, deixa o jogador à vontade. Ele cobra muito, fica bravo quando você erra no treino, mas sempre dá espaço para o jogador falar. Ele quer o melhor para o time e trabalha muito para isso. Não tenho nada a reclamar dele.

Quais os planos que faz para o futuro?
Não faço. Procuro viver o presente. Eu acredito que as coisas sempre vão acontecer no momento certo. É claro que sonho um dia jogar na Europa, mas não existe a menor pressa para isso. Hoje, tenho cinco anos de contrato com o São Paulo e posso dizer que estou muito feliz.
É claro que você não tem culpa, mas a sua chegada coincidiu no início do período de ostracismo do Juan, que não é nem relacionado para os jogos. Conversam sobre isso?
Sem dúvida, ele é uma pessoa maravilhosa. O que aconteceu foi uma situação da diretoria e da comissão técnica, eu não tenho nada a ver com isso. Temos uma boa amizade.

Já foi no Habib's aqui em São Paulo? (Mesmo recebendo "salário de jogador", ele se casou em uma lanchonete da rede no Rio, ano passado)
Ainda não. O pessoal tira sarro dessa história, mas é algo que vou guardar para sempre.

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