Do bege ao roxo, Timão conserva história com seu manto alvinegro

Do bege ao roxo, Timão conserva história com seu manto alvinegro

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:16

Cem anos de histórias e poucas mudanças. Títulos vieram, ídolos surgiram e a magia da camisa branca, do calção preto e das meias brancas segue inalterada. Muito próximo de seu centenário, o Corinthians mostra que ser fiel não é apenas fazer parte de uma das torcidas mais apaixonadas do futebol mundial e, sim, conservar a história de seu uniforme.

O hoje alvinegro um dia já foi bege, em homenagem ao Corinthian Casuals, clube inglês que deu origem ao Timão. A camisa de 1910 tinha detalhes em preto nas mangas, barra e gola. Os calções, feitos com sacos de farinha, eram brancos. A mudança aconteceu de uma forma curiosa. Após algumas lavagens, o clube percebeu que o tecido perdia parte da cor. Por isso, em 1916, optou por adotar definitivamente o branco na camisa. Quatro anos mais tarde, o Corinthians passaria a atuar com o uniforme que virou sua marca. Os calções passaram a ser pretos assim que a diretoria conseguiu dinheiro para comprá-los. A partir disso, surgiram as primeiras mudanças na camisa, como uma versão preta com listras brancas. O clube chegou a usar também uma toda preta e outra com uma faixa branca com o nome do clube, especialmente usada em clássicos contra São Paulo e Santos.

Em 1949, o Corinthians deixou de lado suas cores oficiais para prestar uma homenagem. O clube decidiu usar grená em um amistoso contra a Portuguesa como forma de mostrar sua tristeza pela tragédia que vitimou todo o elenco do Torino-ITA depois que o avião da equipe se chocou contra a basílica de Turim. Ninguém sobreviveu.

Mas não foi apenas em momentos de dor que o Timão mudou seu uniforme. Em 1969, uma situação curiosa fez a equipe ir a campo bem diferente. O Timão precisou emprestar um uniforme para poder enfrentar o Universitário, em Lima, já que o clube peruano também se vestia de branco.

- O Corinthians levou só o uniforme branco, mas os peruanos usavam a mesma cor. Então, jogou com uma camisa emprestada, amarela e preta, semelhante à do Peñarol-URU, com a gola vermelha – conta Celso Unzelte, autor do “Almanaque do Corinthians”.

A partir da década de 80, durante a Democracia Corintiana, o uniforme serviu também como um instrumento político. A publicidade estava liberada, mas o clube não conseguia encontrar patrocinadores. Assim, embalado pelas primeiras eleições diretas para governador depois da ditadura, o time estampou nas costas a frase “Dia 15, vote!”.

Ronaldo, aliás, não foi o primeiro jogador do Corinthians a lucrar também com os patrocínios do clube. Em 1984, a direção sofria para renovar o contrato do ídolo Sócrates. Entretanto, com ajuda de uma empresa, o clube conseguiu mantê-lo, mas, em troca, pintou um chuveiro na parte frontal da camisa.

Com o uniforme 1 preservado, o Timão passou a investir em modelos alternativos para arrecadar dinheiro. As criações, entretanto, nunca caíram no gosto da torcida. Em 1995, o estilista francês Ted Lapidus desenvolveu um uniforme para jogos internacionais. A camisa era preta com muitos detalhes em branco e não agradou.

Quatro anos mais tarde, outro terceiro uniforme, agora na cor preta com detalhes em cinza e amarelo. Durou somente um jogo. A Fiel não gostou do modelo e, logo na estreia, derrota para o Independiente-ARG, em casa, pela Copa Mercosul. No ano seguinte, o Corinthians jogou e venceu o Mundial Interclubes com uma camisa diferente. A produção tinha laterais em preto. Apesar do sucesso no campo, acabou aposentada logo após o torneio. Já em 2006, as listras brancas da segunda camisa foram trocadas por douradas para a Libertadores. Fracassou, como a equipe.

A chegada do presidente Andrés Sanches trouxe ao Corinthians mais novidades na camisa. O departamento de marketing decidiu criar um novo modelo, na cor roxa, em analogia ao fanatismo do torcedor. Curiosamente, parte da própria torcida não gostou. Apesar do sucesso de vendas, uma ala da Fiel exigiu que o clube não vestisse o uniforme em partidas oficiais. Isso aconteceu poucas vezes. São três edições do modelo, que deve ser aposentado em 2011.

Ao contrário da camisa, o escudo do Corinthians passou por várias alterações ao longo dos anos. O primeiro foi criado em 1912, dois anos depois da função, com as letras C e P. Em 1914, Hermógenes Barbuy, irmão de Amilcar Barbuy, um dos primeiros jogadores do clube, elaborou uma moldura para as letras e acrescentou o S, de Sport. Pouco tempo depois, a moldura ficar maior. A partir de 1919, o símbolo começa a ganhar o formato atual, com a bandeira do estado de São Paulo no centro. Em 1937, Getúlio Vargas baixou o Estado Novo e fez uma cerimônia pública de queima das bandeiras de todos os estados, pois queria governo forte e centralizado. A bandeira paulista, por exemplo, só sobreviveu dentro do escudo do Corinthians – contou Unzelte.

O pintor modernista Francisco Rebolo, jogador do segundo quadro do Timão nos anos 20, acrescentou ao distintivo os remos e a âncora, em alusão ao sucesso do clube nos esportes náuticos.

- O Corinthians vinha tendo muitas conquistas no remo no fim dos anos 30, e a diretoria queria um jeito de retratar isso no escudo. Nessa época, o Rebolo já era artista plástico e tinha encerrado a carreira de jogador, em 1937. O escudo foi em meados de 39. Como sabiam que ele era artista e já tinha jogado no Corinthians, chamaram para fazer o escudo. Então foi ele que instituiu a corda que rodeia o círculo, mais os dois remos e a âncora – recorda o publicitário Sérgio Rebollo Gonçalves, neto do pintor.

Depois disso, o símbolo corintiano passou por pequenas alterações ao longo do tempo, como na bandeira e na moldura. Em 1990, foi adicionada a primeira estrela em referência ao primeiro título brasileiro. O mesmo foi feito com as conquistas de 98, 99 e 2005, além do Mundial de 2000.

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