Em Niterói, torcedores do Fluminense acusam PMs de agir como cambistas

Em Niterói, torcedores do Fluminense acusam PMs de agir como cambistas

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:05

A quarta-feira, dia 1 de dezembro, foi de sofrimento para o torcedor do Fluminense que buscava ingresso para ver a partida decisiva do Campeonato Brasileiro no próximo domingo, no Engenhão, contra o Guarani. Em todos os pontos de venda houve muita demora, imensas filas, desorganização e confusão. Em Niterói, na Rua São João, o GLOBOESPORTE.COM encontrou torcedores indignados com uma acusação grave: a de que policiais militares, em vez de reprimir cambistas, estariam se aproveitando da farra de ingressos.

A reportagem chegou ao local de venda, na loja Gigante da Colina, na Galeria 34, na Rua São João, às 7h15m. A fila era imensa: mais de dois mil torcedores já esperavam. Às 9h, ainda sem policiamento no local, começou a venda num balcão com dois atendentes, com a ordem sendo garantida pelos seguranças da loja. Às 10h, o primeiro carro da PM chegou ao local e estacionou sobre a calçada, perto da entrada da galleria.

A partir das 11h começaram a chegar outras viaturas - oito no total (sendo uma picape), além de quatro motos. Começou, então, a ação dos policiais. Segundo os torcedores, o preço no mercado negro era bem mais salgado do que os valores originais, que variaram de R$ 60 (setores sul e norte com meia-entrada a R$ 30) a R$ 150 (setores leste e oeste com meia entrada a R$ 75).

- Eles estão vendendo ingresso cobrando entre R$ 300 e R$ 600 dependendo do lugar - disse um torcedor.

Outro torcedor, que se identificou apenas como Branquinho, acusou:

- Eu vi um PM entrar na loja ao meio-dia e sair com duas caixas cheias de ingressos. Entrou na viatura e começou a vender lá dentro mesmo. Isso sempre acontece aqui, não é a primeira vez.

Vestindo camisa laranja, Fabrício (que pediu para não informar o sobrenome) foi mais enfático:

- Vi policial passar ingresso pra cambista e depois pegar o dinheiro na cara limpa.

Um terceiro torcedor estava indignado:

- Faltei ao trabalho, passei a noite aqui e acontece isso. Além do preço já ser muito caro, vejo essa vergonha.

Um quarto torcedor, o designer T.R., disse que viu tudo:

- Os PMs botaram velhinhos na fila preferencial para comprar para eles. Vi velhinho saindo com dez ingressos na mão. Às vezes os policiais mesmo entravam, pegavam bolos de ingresso e repassavam para cambistas. Eles botavam gente na fila o tempo todo, vi PMs passando com ingressos várias vezes. Várias.

Durante todo o dia, a lentidão da fila era imensa. Um funcionário da loja dizia que o “sistema estava lento”. Mas quem quisesse comprar com facilidade conseguia. Ao menos quatro cambistas agiam com total liberdade.

Por volta de 13h, a reportagem flagrou uma negociação entre dois PMs e um homem com camisa do Fluminense. Perto de um poste, eles receberam o dinheiro, puseram no bolso da farda e saíram caminhando. Enquanto o torcedor ia embora, os policiais atravessaram a Rua São João e, ao lado da viatura, tiraram o maço de notas de R$ 50 do bolso, contaram as notas e guardaram novamente (veja na primeira foto da reportagem).

Durante todo o dia, os policiais ficavam perto da fila, circulando, aparentemente organizando e mantendo a ordem. Vez por outra, entravam na loja. Na fila, a tensão era grande, com reclamações até de coação.

- Existem cambistas coagindo idosos na fila, pedindo para que eles comprem mais ingressos para serem revendidos. E os policiais não fazem nada.

Às 17h50m, o policial Rollemberg abordou o repórter do GLOBOESPORTE.COM, sem saber que falava com um jornalista, com um pedido inusitado:

- Você tem carteira de estudante? Preciso usar para comprar meias-entradas para uns amigos.

O curioso é que, a esta hora, a informação da loja era de que as meias-entradas já estavam esgotadas. Quando a venda foi encerrada, às 20h10m, o dono da loja, Vanderlei Gomes, disse nada saber sobre desvio de ingressos para os policiais. Mas reconheceu:

- Soube que os cambistas estavam agindo em cima dos idosos. Tanto que baixei o limite de compra dos idosos de três para um ingresso.

O tenente Carlos André, responsável pelo policiamento no local, disse não ter visto cambista agindo no local.

- Não vi nada. Estava tudo tranquilo. Não teve nenhum cambista aqui. Foi o lugar mais tranquilo de todos os postos de venda. Ninguém foi detido e não recebi nenhuma informação de que algo estranho tenha acontecido.

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