Ex-tenista e aspirante a Bonner se torna diretor mais jovem do mundo

Ex-tenista e aspirante a Bonner se torna diretor mais jovem do mundo

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:57

Aos 18 anos, ele queria ser tenista profissional, mas faltava talento. Aos 20, sonhava ser William Bonner, mas não tinha a postura necessária para apresentar um telejornal. Aos 25, um dia chuvoso o levou ao cargo de editor do site da ATP. Hoje, aos 29, é o mais jovem diretor de torneio do mundo. É assim, com velhos sonhos não realizados e sucesso trilhado de forma quase inesperada, a vida de Luiz Procópio Carvalho, o homem por trás do Aberto do Brasil.

A relação de Lui - apelido dado pela mãe, que temia ver o filho chamado de "Lu" - com o tênis vem, como costuma acontecer, de família. A história deste paulistano, porém, nada tem de comum. Seu avô foi Alcides Procópio, um dos pioneiros da modalidade no Brasil. Foi ele o primeiro brasileiro a jogar em Wimbledon e um dos grandes incentivadores da carreira de Maria Esther Bueno.

A paixão passou de pai para filho - ou, como Lui afirma, de avô para mãe. Os pais do garoto nascido em 1981 tinham uma academia de tênis, e o menino não demorou a se apaixonar pelo esporte da raquete, incentivado sempre pelo avô, que queria vê-lo como profissional. E Lui alimentou o sonho até os 18 anos, quando fez parte de uma equipe de treinos que tinha nomes como Flávio Saretta e Rogério Dutra da Silva.

 Ali, meio que comecei a abrir o olho porque a gente viajava junto, jogava torneio e eu sempre achava que ficava um pouquinho pra trás. Eu não tinha o talento de um Saretta nem durava tanto como o Rogerinho na quadra, então quem sabe, o tênis profissional não era muito para mim - lembrou Lui, em conversa com o GLOBOESPORTE.COM na quadra central do Aberto do Brasil, durante uma das partidas do qualifying.

Vestindo uma camisa pólo e uma bermuda, trajes compatíveis tanto com o clima baiano quanto com o ar jovem que dá ao torneio, o diretor, sem perceber, conta sua história em meio a sorrisos. Os momentos frustrantes, em que viu que não conseguiria alcançar alguns objetivos, são relatados com bom humor.

Um deles aconteceu na faculdade de Mississipi State, nos Estados Unidos, onde Lui foi estudar. Depois de aceitar a ideia de que não seria mais um tenista profissional, o brasileiro colocou na cabeça que seria apresentador de telejornal.

- Eu queria ser o William Bonner. Depois de seis meses de faculdade, o advisor (nas faculdades americanas, os estudantes são acompanhados por um orientador de carreiras) falou: "Olha, desculpa, mas vai ser um pouco difícil para você, porque precisa de inglês muito fluente. Acho que você devia fazer algo mais voltado ao jornalismo (escrito) para depois, se quiser voltar ao Brasil, fazer um curso". Então fiz jornalismo e relações públicas.

Lui passou cinco anos estudando nos Estados Unidos, onde fez parte do time de tênis de sua faculdade. Na última temporada, no último torneio, um novo caminho caiu do céu quase que literalmente. O brasileiro treinava, quando uma chuva interrompeu o bate-bola e fez que ele procurasse abrigo sob um toldo.

- Tinha um técnico de uma universidade no Alabama que era colombiano e perguntou : "E aí, o que você vai fazer agora? Meu melhor amigo é gerente de novas mídias da ATP e ele está procurando um estagiário para fazer os sites". Liguei no mesmo dia. Uma semana depois, eu estava trabalhando lá - conta, exibindo mais um sorriso.

O estágio de três meses não era remunerado, e Lui acabou retornando ao Brasil, onde voltou a pensar na carreira como apresentador de telejornal. Um curso no Senac, porém, o desanimou de vez. A professora foi dura: "Olha, acho que você não tem o perfil. Você gagueja, não tem voz firme, postura", conta Lui, se divertindo ao lembrar do momento.

Cerca de cinco meses depois, outro telefonema da ATP. Queriam efetivá-lo, com cargo remunerado. Lui voltou para os Estados Unidos. Seis meses depois, foi promovido para gerente de mídia e marketing e deixou o escritório para viajar pelo mundo, ajudando jornalistas em torneios pelos cinco continentes. Só no ano passado, com 28 anos, é que o paulista quis deixar a vida de nômade em busca de outro desafio: trabalhar na Koch Tavares, uma das maiores promotoras de eventos do Brasil.

Em outubro do ano passado, foi diretor do Challenger de São Paulo. Este ano, comanda o show no Aberto do Brasil. A diferença é que na Bahia quem assina oficialmente como diretor do torneio é Luis Felipe Tavares, dono da empresa. Na prática, porém, é Lui o responsável por tudo: ele participa ativamente do recrutamento de jogadores, realiza o sorteio das chaves e cuida de detalhes como um pequeno ajuste na rede da quadra central.

- Na verdade, o diretor do torneio é o meu chefe, Luis Felipe Tavares. Só que ele tomou uma posição no evento que é a de cuidar de clientes, dar atenção a patrocinadores, presidentes de empresas, então ele não pode se dedicar 100% ao torneio. Então ele me colocou. Eu sou mais um gerente geral do torneio. Estou um patamar abaixo dele - ressalta Lui.

A idade, pouca para um profissional responsável por um evento deste porte, causa momentos curiosos nas reuniões da ATP, quando os diretores se encontram para discutir os rumos do circuito mundial masculino. Como fez em todo o bate-papo, Lui riu ao contar.

- Quando entro na sala, ninguém entende nada, né? É um bando de empresário de terno e gravata, de 60, 70 anos, e entro eu. Então me apresento: "Luiz Carvalho, Costa do Sauípe", etc., e o pessoal acha que é piada. É mais light porque alguns deles eu conheço.

Por: Alexandre Cossenza

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