"Foi o processo mais feio que já vivi. Fritura mesmo" diz Luxemburgo durante coletiva de imprensa

"Foi o processo mais feio que já vivi. Fritura mesmo"

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:16

Vanderlei Luxemburgo escolheu um dos salões de convenção do hotel que serve de concentração para o Flamengo, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, para falar sobre a sua demissão do clube. No local, se hospedou com o grupo para jogos durante um ano e quatro meses, período em que comandou o Rubro-Negro. Com expressão fechada, chegou para a entrevista coletiva às 11h17m. Depois, sorriu e cumprimentou alguns jornalistas.

- Tranquilo? – perguntou a um deles.

Ele resumiu o que viveu no Flamengo nos últimos meses.

- Foi o processo mais feio que já vivi. Fritura mesmo.

Na segunda resposta, Vanderlei comentou a justificativa de Patricia Amorim para dispensá-lo. O técnico reconheceu que houve desgaste no relacionamento com o grupo, mas lamentou a postura da diretoria.

- Entendo a Patricia ter falado de desgates. Acho que faltou um pouco mais de pulso da diretoria. Senti ela sozinha e falei para ela isso, está muito vulnerável, sem um amparo. A minha saída do Flamengo não pode ser uma coisa normal do futebol. Não é por causa disso. Futebol sem desgaste não funciona. O importante é como você trata a relação de grupo. Na minha história de futebol, tive alguns desgastes pela frente. Mas foram poucos. O desgaste existe para você se posicionar em cima de algumas situações. Todas as vezes que eu tive um dirigente que se posionou e fez valer a hierarquia, os resultados foram muito bons. Palmeiras, Corinthians, Cruzeiro. Dos meus desafetos, nenhum virou pastor de igreja. Na virada do ano, disse que seria difícil conviver com algumas coisas que ocorreram no ano passado. Falei que não conviveria com isso aqui. Eu mudei, comecei a colocar as coisas no seu lugar. Se a diretoria não mudou, não é problema meu. Se preferem jogar para baixo do tapete, não é problema meu. Venci dessa forma, com desgaste de atletas de alto nível.

Em diversos momentos da coletiva, Vanderlei Luxemburgo expôs que teve de conviver com atos de indisciplina. Referia-se a Ronaldinho e aos privilégios que o astro têm com a diretoria.

- Eu não tenho que almoçar com jogador de futebol, ter relação fora do futebol. E, ano passado, foram ditas algumas coisas que não são cabíveis dentro do futebol. Não quero o Ronaldinho para casar com a minha filha, quero o Ronaldinho para jogar futebol e cumprir com seus compromissos. A regalia que um atleta de alto nível tem que ter é o salário que ele ganha - disse.

Confira tópicos da entrevista:

Casos de indisciplina

- A reciclagem fez muito bem para mim. Da maneira como eu agia anteriormente, até um pouco intempestivo, mudei, fui mais tolerante. Ano passado eu fui bem tranquilo e, às vezes, fechando os olhos para algum comportamento inadequado profissional, porque o Flamengo tinha que alcançar seu objetivo, que era ir para a Libertadores. Preferi mudar, aceitar e tentar me aproximar e conviver com aquilo. Em função dos dois jogos mais importantes para a etapa de trabalho nossa, preferi puxar o freio de mão. Mas eu falei: sou profissional de futebol, tenho que me focar nesses dois jogos. E foi o que eu fiz. Eu tinha a obrigação de colocar o Flamengo na Libertadores. E completamos esse objetivo agora. Eu não desviei o caminho. Faltou pulso em determinadas situações. Mas eu entendo. Na nossa conversa, ontem, senti a Patricia (Amorim) muito sozinha. Achei ela muito vulnerável, ela está muito só. A minha saída não pode ser por uma coisa normal do futebol. Desgaste tem todos os dias.

Quebra de hierarquia

- Comuniquei que seria difícil eu conviver com as coisas que aconteceram no ano passado. Falei: tenho que mudar para esse ano. Eu mudei, comecei a colocar as coisas em seu lugar. Se a diretoria não mudou, não é problema meu. Se prefere jogar os problemas para debaixo do tapete, tudo bem. Eu fiz isso e venci. Eu sou pago para comandar. Mas por onde passei, conquistei títulos, mesmo tendo desgaste.

Avaliação do trabalho

- Meu resultado vem com o projeto. Para o projeto que fui contratado, o resultado foi excelente. Eu conversei com eles que faria a gestão do futebol e que arriscaria a minha carreira, porque o Flamengo estava na zona de rebaixamento. E o profissional do meu nível, não é legal assumir um clube faltando dez rodadas para acabar um campeonato e o seu time podendo ir para a Segunda Divisão. Aceitei correr o risco. Quem acompanhou meu tempo no Flamengo viu como eu lutei para manter o time treinando no Ninho do Urubu. Disso eu me orgulho, me traz satisfação. E conseguimos levar o Flamengo para a Libertadores. Isso me deixou satisfeito. Estou triste por sair, acho que poderia acrescentar muita coisa. Mas satisfeito de entender que o projeto para o qual fui convidado eu consegui cumprir. Completei as etapas. Saio com dever cumprido.

Processo de fritura

- Eu já sabia que eu ia sair do Flamengo porque a notícia que saiu há um mês. Falaram que se terminasse os dois jogos, eu não seria mais o técnico e simplesmente confirmou. O jornalista que colocou essa informação sabia disso, não colocou isso porque o cara quis colocar. Ele tinha informação de que aquilo iria existir. Só que, para completar a minha etapa de trabalho, terminar com dignidade, eu tinha que terminar direito, conseguir a classificação para a Libertadores. Poucas vezes, dentro de tanto tempo de futebol, vi um desgaste tão grande e uma fritura tão grande como a que fizeram comigo, vazando informações para jornalistas, precisas, para que fosse se avolumando, e chegasse ao desgaste que chegou. Foi o processo mais feio que já vivi. Fritura mesmo.

Crise com Ronaldinho


- Eu não tenho que almoçar com jogador de futebol, ter relação fora do futebol. E, ano passado, foram ditas algumas coisas que não são cabíveis dentro do futebol. Não quero o Ronaldinho para casar com a minha filha, quero o Ronaldinho para jogar futebol e cumprir com seus compromissos. A regalia que um atleta de alto nível tem que ter é o salário que ele ganha. O clube é soberano. Não pode ficar refém de jogador, dirigente, técnico, da presidente, de ninguém. O clube é sempre soberano nesse processo. Tem que perguntar para Patricia (se o clube é refém de Ronaldinho).

Relação com jogadores

- Não tem desgaste com jogador. Agora, quem dirige tem que dar autonomia e autoridade para o comando. Quando você tem esse direito, as coisas caminham. E todas as vezes que tive esse direito, as coisas caminharam e muito bem. Não há desgaste, o que tem é um processo natural do futebol.

Semelhanças com 1995 e comparação com Zico e Marcos Braz

- Relacionar um fato ao outro é complicado. Pessoas diferentes, momentos diferentes do clube. Eu me sinto satisfeito de ter voltado ao Flamengo e ter feito esse trabalho. Uma pena isso ter acontecido. Eu nunca escondi que sou flamenguista. Se eu trabalhar amanhã no Fluminense, Botafogo ou Vasco, vou querer ganhar do Flamengo. Mas não posso negar que sou Flamengo, eu ia de bandeira para o estádio quando criança. Mas aconteceu comigo o que aconteceu com o Zico, um dos mais ilustres jogadores do futebol brasileiro. Aconteceu um desgaste caminhando. E nós somos rubro-negros, pessoas que querem o bem do Flamengo. Até com Marcos Braz, que não jogou no Flamengo, aconteceu a mesma coisa. Esse processo todo. O Flamengo não poderia desgastar tantos rubro-negros ilustres como está desgastando. Se tiver que voltar, vou voltar. Talvez não como técnico. Não queria mesmo voltar como técnico, achava que poderia acontecer isso. Voltei pelo projeto que a Patricia apresentou, mas ela interrompeu. Voltaria, mas não como técnico.

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