Fred.2011: artilheiro promete vida light e trabalho pesado pelo Flu

Fred.2011: artilheiro promete vida light e trabalho pesado pelo Flu

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:00

Vem aí, Fred versão light. Capitão do Fluminense na acepção da palavra, o atacante exerce efetivamente sua liderança no grupo campeão brasileiro. De estilo despojado e espírito coletivo, briga pelos companheiros, pondera, orienta e tem o respeito de todos. Isso em um grupo que conta com supercampões como Deco e Belletti. Faltava, porém, falar consigo mesmo. As inúmeras lesões nos últimos dois anos fizeram do departamento médico um espaço para reflexão. Elogios, críticas, gols, ausências, conquistas e frustrações passaram pela cabeça do jogador, que usou esse turbilhão de emoções para buscar a maturidade e projetar 2011 como seu melhor ano com a camisa tricolor.

A média de 0,61 gols por partida (40 em 65 jogos) pelo time das Laranjeiras deixa claro que Fred sempre deu conta do recado quando esteve em campo. O problema é que o atacante também esteve muito ausente e neste período sofreu com críticas e notícias relacionadas a sua vida pessoal. Situações que o atacante espera não repetir tão cedo. E garante que não dará brecha para isso.

Novinho em folha, ele começa o ano 100% fisicamente e promete uma temporada regrada para estampar as manchetes apenas por seus gols.

- O ano passado foi muito triste por causa das lesões. Foi um ano em que aprendi muito. Tive muita pressão, aconteceu muita coisa, mas já passou. Só serviu de experiência para 2011. Agora, estou muito focado, me preparando muito bem dentro e fora de campo. Justamente para evitar qualquer tipo de lesão.

As lesões, no entanto, não foram o que mais o chatearam em 2010. As notícias envolvendo sua vida particular também o atormentaram e o fizeram optar por selecionar mais os momentos de lazer. Além das críticas, Fred quer jogar para longe também qualquer estereótipo que o relacione com a noite.

Eu tenho os lugares onde gosto de ir, onde fico à vontade. Vou lá sempre tomar meu chope, conversar. Isso todo mundo sabe. Mas vou na hora certa. Já fui na hora indevida? Já. Mas depois das porradas de 2009 procuro fazer as coisas tranquilo. Porque dá para fazer"

Fred, atacante do Fluminense

- Estava criando uma imagem de baladeiro, quebrador, e torcedor vê tudo, né? Depois que cria, para tirar esse rótulo é complicado.

O fato de ser mais seletivo, por outro lado, não fará com que o ídolo tricolor abra mão de seus momentos de lazer. Calejado com erros do passado, Fred se mostra mais racional e garante ter total consciência de seus direitos e deveres.

- Eu tenho os lugares onde gosto de ir, onde fico à vontade. Vou lá sempre tomar meu chope, conversar. Isso todo mundo sabe. Mas vou na hora certa. Já fui na hora indevida? Já. Mas depois das porradas de 2009 procuro fazer as coisas tranquilo. Porque dá para fazer. Eu estou machucado, mas não estou morto.

E o que o atacante mais quer em 2011 é cumprir seu dever de estar em campo. Com apenas cinco gols e 14 jogos, Fred ficou longe do papel de protagonista na conquista do Brasileirão e deseja pagar a dívida com o torcedor sendo importante na Libertadores. Para isso, só faz um pedido: que as lesões permaneçam distantes:

- Sei que sou um cara abençoado. Quando estou jogando, as coisas acontecem, os gols saem.

Em bate-papo sem censura durante a pré-temporada do Fluminense, em Mangaratiba, na Costa Verde do Rio de Janeiro, Fred falou sobre tudo que cerca seus quase dois anos nas Laranjeiras. Admitiu erros, lamentou frustrações, vibrou com as conquistas e, acima de tudo, vislumbrou um futuro próspero. Confira toda a entrevista abaixo:

Primeiro, vamos falar de Libertadores, que é a maior meta do Flu na temporada. Esse elenco atual, além de campeão brasileiro, foi vice da Sul-Americana em 2009. O que aquela competição deixou de lição para 2011?

São competições bem parecidas, principalmente quando chega nas quartas de final, com os times de mais qualidade. O maior exemplo foi dado nos jogos fora de casa, principalmente contra a LDU. Muitos jogadores ainda não conheciam a altitude e sofreram com essa diferença. Além disso, o estilo de jogo é mais rápido, mais intenso, mais pegado. Não param muito. Há mais contato, mais porrada.

As derrotas nas finais da Libertadores de 2008 e na Sul-Americana em 2009 vieram acompanhadas de muitas justificativas, críticas a arbitragem, entre outras coisas. São competições onde, além de estar bem preparado física e tecnicamente, é importante trabalhar o psicológico? Temos que engolir muito sapo, ter a cabeça no lugar. E isso o Muricy cobra bastante da gente. Ele não aceita expulsão boba, jogador irresponsável. Mas nessa competição é normal ver adversário dando soco sem bola, carrinho mais forte. É um estilo de futebol europeu, mais firme, e tem muita catimba. Neste sentido, precisamos amadurecer muito. Quando pegamos argentinos, mexicanos, a galera tem esse jeito de jogar que deixa um pouco irritado. Eles fazem bem isso e de propósito. Inclusive, estava vendo na TV os jogos da campanha do título do Inter e mostrava isso. O (Rafael) Sóbis dominava de costas e o cara dava soco na coluna dele. Quando perde, desce a porrada. É preciso se segurar para não perder a cabeça.

E isso acontece dentro e fora de campo, né? Na Sul-Americana de 2009 mesmo, o Flu sofreu com situações extracampo, agressão de torcedores...

É esse clima de guerra. Mas ao mesmo tempo é gostoso, é diferente, a atmosfera é diferente. Até mesmo da nossa torcida. Fora de casa é pedreira literalmente. É pedra voando (risos). É importante evitar ficar muito tempo em campo depois das partidas.

A Libertadores é uma competição que mexe muito com a torcida desde 2008, por tudo que aconteceu. E o elenco atual enche o tricolor de muita esperança. Você, como líder, tem a exata noção do quanto uma conquista dessa pode representar para vocês e para o clube?

A conquista do Brasileiro já foi muito importante para o grupo e para a torcida. Sacramentou toda a arrancada de 2009. E agora esperamos a Libertadores. É o sonho de qualquer clube vencer essa competição e depois ir para o Mundial. E o Fluminense não tem esses títulos. É o desejo de todo torcedor. A pressão vai ser grande, a vontade maior ainda, mas temos um fator a nosso favor: a base do grupo mantida com confiança elevada e a torcida caminhando ao lado. Não é fácil, mas faremos de tudo pelo título.

Você é uma ausência na estreia (foi expulso na decisão da Sul-Americana de 2009), e agora o time perdeu o Valencia (convocado para seleção da Colômbia), o Washington... Isso é um fator negativo.

Não. Sabe por quê? Essa galera já provou no Brasileirão, quando os titulares estavam fora, que nosso time é muito pulmão. Todo mundo treina muito e está preparado. Fora de campo, o Muricy trata todo mundo igual. E todos estão preparados sabendo que podem entrar e resolver. Vamos torcer para o Emerson ficar bem, o Araújo, o Conquinha mais ou menos já desequilibra. A estreia é sempre complicada, mas estaremos preparados.

Gostaria que você falasse um pouco do 2011 do Fred. O que você espera? No ano passado teve o título importante, mas acho que pessoalmente ficou faltando alguma coisa, né? Foi muita lesão, muito problema. Qual a imagem que fica de 2010 e o que esperar de 2011?

Sei da minha importância e estou com muita sede de jogar futebol. Quero jogar, estar nos jogos importantes. A equipe está voando, está com moral, com reforços de qualidade. Sinto que esse ano vai ser melhor que 2010"

O ano passado foi muito triste por causa das lesões. Foi um ano que aprendi muito. Tive muita pressão, aconteceu muita coisa, mas já passou. Só serviu de experiência para 2011. Agora, estou muito focado, me preparando muito bem dentro e fora de campo. Justamente para evitar qualquer tipo de lesão. Sei que sou um cara abençoado. Quando estou jogando, as coisas acontecem, os gols saem. Vou fazer de tudo para entrar em campo o máximo possível e ajudar a equipe. Sei da minha importância e estou com muita sede de jogar futebol. Quero jogar, jogar, estar nos jogos importantes. A equipe está voando, está com moral, com reforços de qualidade. Sinto que esse ano vai ser melhor que 2010.

E tudo que foi dito sobre você no último ano, fez com que mudasse de alguma forma também a postura no dia a dia fora do clube? Tudo que foi dito sobre sua vida pessoal te fez refletir? Como você encara isso?

Em 2010, não mudei nada, não. Em 2009 que fiquei quase quatro meses sem sair de casa pelo fato de ter vindo da Europa para resolver, para ser “o cara” e receber muitas críticas. Mas muitas mesmo. Inclusive nas ruas. Tive que evitar muita coisa. Até restaurantes, shopping... Abri mão de muita coisa e sofri muito. Em 2010, já deu para fazer tudo tranquilo. O torcedor já me conhecia. Só que a porrada veio por parte da imprensa. Algumas justas, porque algumas coisas eu fiz realmente. Mas muitas injustas e que me deixaram chateado. Só que passou. Cresci. Aprendi muito a respeitar a imprensa quando vem alguma crítica, algo que é injusto.... Acabei acostumando e levando de uma maneira legal. Fiquei um tempo sem querer falar com vocês (jornalistas). Esse ano vou falar com todo mundo, quero ter uma boa relação com todos na fase boa e na ruim. Tomara que seja uma coisa respeitosa de ambas as partes e saia uma coisa legal.

Mas o que te irrita mais: o fato do cara te criticar e falar que você não está bem ou falarem que te viram na noite ou coisa do tipo?

O que a galera falar de mim em campo, está tranquilo. Se eu fizer três gols e disserem que não joguei nada, ou que não toquei na bola e fui um Zé Ninguém. Sobre isso eu nunca vou falar nada. Mas o que não é legal é, por exemplo, a história do Deco. Ele estava no samba com a esposa, publicaram e não procuraram saber, não foram apurar. Se eu estou em um bar tomando chope, dizem que estou numa boate 4h da manhã. Mesmo sem saber. Isso não é legal. Eu tenho os lugares onde gosto de ir, onde fico à vontade, onde a galera me conhece. Aí, vou lá sempre tomar meu chope, conversar. Todo mundo sabe os lugares que são perto da minha casa. Mas vou na hora certa. Já fui na hora indevida? Já. Mas depois das porradas de 2009 procuro ir na hora certa, fazer as coisas tranquilo. Porque dá para fazer. Eu estou machucado, mas não estou morto. Posso pegar meus amigos para sair, ir em um show num sábado se no domingo estou livre. Mas passei a evitar. Conversei com a galera e pensei: “Se está machucado, é melhor evitar para não tomar porrada”. Senão, vão começar a colocar os números. Dizer, ganha tanto e não joga tantos jogos. Isso que eu acho meio injusto. Assim, comecei a ficar de boa e a assimilar bem. No início, eu ficava muito nervoso e chateado. Estava criando uma imagem minha de baladeiro, quebrador, e torcedor vê, né? Depois que cria, para tirar esse rótulo é complicado.

Essas coisas que você falou, sair com amigos, tomar um chope, entre outras coisas, são comuns na vida de qualquer cidadão. Você acha que o jogador, pela visibilidade e pelo que representa, acaba não tendo o direito de viver uma vida normal? É o que falei. Por exemplo, se tem um jogo e o time perdeu, depois tem um show e o cara vai, o treino no dia seguinte é à tarde, e ele sai do evento às 2h da manhã: para começar, no show não vai dar para ter paz, depois no outro dia vai ter foto sua em tudo quanto é lugar e começa a porrada. A galera não aceita isso muito bem. Não aceita não jogar bem em alguns jogos. E aí cria uma avalanche. Saiu aqui, lá, em tal lugar, e porrada, porrada, porrada.

A sua maneira de lidar com isso acabou sendo passar a fazer menos e só no lugar e na hora certa?

Passei a selecionar mais. Sei que posso fazer e não vai dar nada, mas vão encher meu saco. Daí, prefiro segurar.

E quando relacionam suas lesões com isso? Você já abordou isso com algum médico?

Cara, eu descanso bem, eu como bem para caramba e, o mais importante, eu treino igual a um cavalo. Sou um dos caras que mais treina. Porque eu gosto e sei que preciso. É complicado. Peço a nutricionista do clube para passar a dieta para secretária lá de casa. Me cuido bem mesmo. Mas infelizmente sempre vão associar essas coisas. Esse ano estou mais focado, mais tranquilo, mais sossegado e bem light mesmo.

Só que esse é um preço que o jogador de futebol acaba tendo que pagar...

É. Acaba sendo normal com os atletas. Você vê um artista poder fazer o que quiser e tal. Mas o que é chato é que quando eu vou para o teatro, cinema, restaurante, praia, um lugar tranquilo, ninguém põe em lugar nenhum. Quando eu vou para um show, uma boate, a galera desce a porrada. Eu faço de tudo. Gosto de teatro, cinema, restaurante, e ninguém fala. Mas quando tomo um chope, complica.

E que tipo de peça e filmes você gosta?

No teatro, gosto muito de comédia, dou muita risada. Mas também vou muito com minha filha, assim como no cinema. Vejo muitas peças infantis, filmes. De 15 em 15 dias ela está no Rio, e se eu não levar para ver “Cinderela”, “Rei Leão”, estou morto. Gostei muito da “Era do Gelo”. Levei um grupo de cinco crianças. Foi uma risadaria só.

Voltando ao assunto balada, noite. Você é um cara visto como galã por parte da torcida do Fluminense, que para muitos é a mais bonita do Rio. Como lida com a questão do assédio?

O assédio é tranquilo. Que a torcida tricolor é uma das mais bonitas, não há dúvidas. Tem amigo meu que pede ingresso só para ficar dando tirinho na arquibancada (risos). Para ver se arruma uma namorada de tanta mulher bonita que dá. Mas eu sou tranquilo. Sou de boa, sossegado, e nunca tive problema com fã. Sempre administrei bem.

Mas você evita ficar com torcedora ou não tem isso?

Não. Se gostar, se for tranquilo, não tem problema, não.

E você é um cara vaidoso?

Sou sim. Uso creme para o cabelo, para o corpo. E só. Não tem muita coisa, não. Me depilo por achar que fico mais limpo. E com esse meu cabelo, se não passar muito creme...(risos). Tenho que cuidar, mas dentro do limite. Não tenho muita frescura, não.

Você fez o caminho inverso da Europa para o Brasil como Ronaldo, Adriano, Roberto Carlos e agora Ronaldinho. Mas por outro lado não teve tanto sucesso por lá como eles. Há algum desejo de voltar e triunfar, deixar sua marca?

Sinceramente, não. Conquistei muitos títulos pelo Lyon. Todo jogador quer conquistar a Champions League, mas disputei quatro vezes e me senti realizado. Tive uma grande experiência lá. Mas por tudo que conquistei no Fluminense é difícil alguma coisa me seduzir. Só se fosse um time muito de ponta, mas ainda assim colocaria na balança para ver se vale a pena. É difícil encontrar um ambiente como o que tenho aqui, e no Brasil perto da minha família e amigos. A chance de voltar para lá é quase zero.

Você é mineiro e imagino que, quando criança, tivesse o sonho de jogar em Atlético-MG, Cruzeiro... Mas acabou que chegou no Fluminense e teve essa identificação tão rápida, virou ídolo.

Quando que você sentiu que essa história tinha mesmo começado? Eu estava com vontade de voltar para o Brasil e o desejo era o Cruzeiro. Pois já era ídolo e tinha muita identificação. Só que o Alexandre Faria (ex-coordenador de futebol do Flu) veio com a proposta que saiu na imprensa. Eu tinha um site de relacionamento na internet e a galera do Flu invadiu. Eu acho que estava meio carente na França e isso mexeu bastante comigo. Mandaram muitas mensagens me chamando, montagem, e isso marcou. Depois o Cruzeiro esfriou, pintaram muitos times, mas resolvi optar pelo Fluminense. Na chegada já tive uma recepção fantástica, depois dificuldade, a arrancada, o título. Estou bem realizado aqui. Encontrei tudo que eu precisava. Renovei meu contrato, me deram conforto, tranquilidade. Fechou o casamento legal.

E sua identificação com o Rio? Costumava ir na cidade antes de morar?

Nada. Só quando criança, mas nem lembro bem. O Rio é muito tranquilo de se adaptar. Moro em um lugar sossegado (Ipanema), onde dá para andar, fazer o que quero, tem bastante tricolor. A cidade é mesmo maravilhosa. Já tenho muitos amigos no Rio.

Como surgiu essa escolha por Ipanema? O boleiro em geral quando chega ao Rio sempre pensa na Barra.

Procurei um lugar mais sossegado, onde pudesse fazer tudo rápido, onde pudesse aproveitar depois do treino, ir na praia, num barzinho, jantar. Além de um lugar bonito. Fiquei três meses em um hotel, comecei a rodar, vi coisas na Barra, mas optei por Ipanema. Foi mais minha cara.

Quando você chegou, sempre falava de Seleção, Copa de 2010, era quase que uma obsessão. Agora, é algo que você parece encarar com mais naturalidade. Como lida com esse desejo de voltar à Seleção?

Eu só tenho que jogar, cara. Tenho que jogar. Não vinha mantendo uma sequência. Evito falar muito, deixo a galera falar e pedir. Torcedor, imprensa... Mas é preciso jogar. Acho que se entrar em campo, desenvolver um bom futebol, ser importante para o Fluminense, pode pintar.  

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