"Glória será para sempre", diz pai de Medina que está em prisão em prol do título

Charles Rodrigues, que também é treinador do surfista, diz que período de espera no surfe é como prorrogação em final do futebol e espera bateria difícil contra havaiano

Fonte: globo.comAtualizado: sexta-feira, 19 de dezembro de 2014 às 11:09
surfe
surfe

Lidar com a ansiedade é sempre difícil, ainda mais em um esporte que depende totalmente da natureza como o surfe. Perto de conquistar o histórico título mundial para o Brasil, Gabriel Medina entrou no mar apenas uma vez desde a abertura da janela do Pipeline Masters, no dia 8. Estreou com vitória e avançou direto à terceira fase. Esperar que as ondas apareçam faz parte do jogo. Para o padrasto e treinador do surfista, os seguidos adiamentos são como uma prorrogação em uma final no futebol. Preparados para o tempo extra na última e decisiva etapa do WCT, no Havaí, que precisa ser encerrada até sábado, pai e filho estão tranquilos e confiantes. Isolados do mundo, eles têm encontrado a paz de espírito no surfe e nos encontros com a família. A prisão domiciliar, com direito a alguns banhos de sol, são passageiros, enquanto a glória, como mesmo define Charles, será eterna.

Após cinco dias seguidos de adiamentos, a competição será retomada em Banzai Pipeline. A próxima chamada será nesta sexta-feira, às 15h30 (de Brasília). Medina, líder, poderá ser campeão já na terceira fase, dependendo dos resultados dos rivais, o australiano Mick Fanninge o americano Kelly Slater. A organização do WCT irá realizar um sistema com duas baterias simultâneas, para poupar tempo, na terceira, na quarta e na quinta fases, assim como nas quartas de final e semifinais. O GloboEsporte.com acompanha tudo em Tempo Real.

- A gente sabe que pode acontecer isso no surfe, de terminar em três dias ou em 12. Por isso, estamos preparados. É como em uma final no futebol, você tem de estar preparado para jogar os 90 minutos do jogo, mais os 30 da prorrogação. Infelizmente, estamos indo para a prorrogação sem jogar, por causa da natureza, porque não teve onda. Estamos calmos. O Gabriel está do mesmo jeito, blindado em casa, e confiante. O esforço que ele está fazendo é momentâneo, e a glória será para sempre. Tudo isso é válido - disse Charles.

Para não perder o foco, o jovem de 20 anos tem fugido do assédio, que cresceu exponencialmente, acompanhado dos bons resultados do brasileiro na temporada. Campeão das etapas da Gold Coast australiana, de Fiji e do Taiti, Gabriel se manteve na ponta em nove de 10 etapas. A torcida brasileira compareceu em peso ao Havaí, tendo inclusive alguns representantes ilustres, como o jogador de futebol Alexandre Pato. O fato de o jovem ter transformado a praia de Pipeline em um “Maracanã do surfe” é motivo de orgulho para a família Medina.

- Ter pessoas aqui torcendo é um motivo de orgulho, seja o Pato ou todos os brasileiros que estão no Havaí. A gente fala com eles e agradece por estarem aqui. Eles sabem do foco do Gabriel e até pedem se podem conversar só um pouquinho, pois não querem incomodar. Claro que um “oi” e um abraço não vão atrapalhar. Ele continua focado e preso lá em casa. Eu brinco dizendo que ele está na prisão, tem o horário do banho de sol dele, que é quando vai surfar, tem a hora da comida, é mais ou menos assim – contou o técnico, bem humorado.

Quando estão em casa, tendo um pouco mais de paz, sozinhos ou com o resto da família, pai e filho tentam não falar tanto no campeonato. Quando tocam no assunto, é sem cobrança e sempre levando para o lado positivo. Para controlar a ansiedade do menino, que é hiperativo, Charles sabe que o surfe é um santo remédio.

- Não é fácil controlar a ansiedade, você tem de ter calma e esperar, mas o surfe tem um ponto positivo nesse sentido, que é ir para o mar. O surfe tranquiliza, relaxa e traz uma paz de espírito. Ficar dentro da água ajuda a se preparar física e psicologicamente. A gente tenta usar essa estratégia, surfa um pouco e depois fica em casa. É claro que pensamos no campeonato, mas não ficamos falando dele o dia inteiro.

O padrasto e treinador, que prefere que o mar esteja grande e com muitos tubos, assim como o filho, contou que eles fizeram algumas mudanças no treinamentos nos últimos dias. Se as condições eram extremas na última semana, as previsões apontam que as ondas estarão menores nos últimos dias de campeonato, portanto, Gabriel se preparou para as adversidades. 

O próximo desafio será contra um rival complicado, o havaiano Dusty Payne. O surfista local é o líder da Tríplice Coroa Havaiana e vem embalado pelos bons resultados em Haleiwa e Sunset Beach. Ter um oponente forte, no entanto, é visto como positivo para o treinador, afinal, isto fará com que Medina entre ainda mais focado. Foi contra adversários de peso que ele se deu melhor nesta temporada. Na final da Gold Coast australiana, por exemplo, derrotou Joel Parkinson. No Taiti, por sua vez, superou ninguém menos do que Kelly Slater em um mar histórico na mais temida bancada de corais do mundo.   

- Será uma bateria difícil. O Dusty Payne é havaiano, conhece bem o local, está em boa fase, e isso conta muito no esporte. Só que, às vezes, é melhor pegar um adversário difícil, porque entra 100% focado para ganhar dele. Neste ano, quando pegou baterias complicadas, foi quando normalmente o Gabriel apresentou seu melhor surfe. Então estão confiantes, mas sabemos das dificuldades. A terceira fase vai ser decisiva, tanto para o Gabriel, quanto para o Mick e o Kelly. Será difícil para os três - finalizou.

BATERIAS DA TERCEIRA FASE

1.John John Florence (HAV) x Adam Melling (AUS)
2. Owen Wright (AUS) x Fred Patacchia (HAV)
3. Michel Bourez (TAH) x Matt Wilkinson (AUS)
4. Josh Kerr (AUS) x Jadson André (BRA)
5. Miguel Pupo (BRA) x Filipe Toledo (BRA)
6. Gabriel Medina (BRA) x Dusty Payne (HAV) 
7. Kolohe Andino (EUA) x Julian Wilson (AUS)
8. Bede Durbidge (AUS) x Adrian Buchan (AUS)
9. Mick Fanning (AUS) x Jeremy Flores (FRA)
10. Joel Parkinson (AUS) x Sebastien Zietz (HAV)
11. Nat Young (EUA) x Kai Otton (AUS)
12. Kelly Slater (EUA) x Alejo Muniz (BRA)

O QUE MEDINA PRECISA PARA SER CAMPEÃO MUNDIAL

-se for eliminado até a terceira fase => precisa que Kelly Slater não vença a etapa e que Mick Fanning não chegue às semifinais. Se Fanning for eliminado nas quartas, decide o título da temporada numa bateria homem a homem com o brasileiro. 
- se for eliminado na quinta fase => Mick Fanning não pode chegar à final; 
- se for eliminado nas quartas ou nas semifinais => Mick Fanning não pode vencer a etapa; 
- se chegar à final => conquista o título, independentemente da campanha de seus rivais

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições