Lorena: 'Na Itália gostam do meu jeito, mas não é igual a Montes Claros'

Lorena: 'Na Itália gostam do meu jeito, mas não é igual a Montes Claros'

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:55

Quando chegou a Montes Claros, depois de cinco temporadas fora do Brasil, Lorena não passava de um jogador de um esporte pouco conhecido por lá e com "nome" de mulher. Estava esquecidão, como costumava dizer, e ainda sem saber se o projeto daria certo. Os dois decolaram. O time chegou à final da Superliga 2009/2010 com o Florianópolis e não havia quem não o conhecesse na cidade. O título não veio, e a dor ficou ainda maior quando o oposto anunciou que não renovaria seu contrato.

Lorena tomou o caminho da Itália. Passou a defender a camisa do Perugia e a carregar o Dias nas costas. A mudança de identidade era só a primeira de muitas que estavam por vir. Lorena queria manter o nome que lhe trouxe sorte e brincou com Andrea Sartoretti, dono de duas pratas e um bronze olímpicos e agora diretor esportivo da equipe, que, se começasse a jogar mal, trocaria. Não precisou até o momento.

- Sartoretti foi um jogador que ganhou tudo, é canhoto também e me dá muitos conselhos. Por isso, estou conseguindo fazer melhor do que estava fazendo no Brasil. Mudei meu estilo de jogo. Antes fazia muitos pontos, mas depois errava saques e ataques. Agora estou mais regular. E meu técnico brigava muito comigo por causa disso. Estou aprendendo mais ainda. Até agora está sendo legal, o grupo é unido. Dei sorte de novo. A equipe mudou de nome (passou a ser RPA San Giustino) devido às dificuldades financeiras que teve. Foi montada com o objetivo de não cair para a A2. O treinador é meio maluco, mas é só ter paciência. Se fosse há cinco anos, eu teria dificuldade de lidar com ele, teríamos discutido feio, mas nós nos entendemos. Graças à maluquice dele melhorei muito - disse Lorena ao GLOBOESPORTE.COM.

O treinador é Emanuele Zanini. Ele não queria saber se Lorena tinha sido o melhor jogador do campeonato brasileiro antes de se apresentar. Só via um atleta com alguns pontos a serem aprimorados.

- Ele não dava muito valor. Pegava no meu pé porque sabia tudo o que eu podia melhorar. Até que chegou uma hora que resolvi fazer o que ele queria. Assim como eu, ele tem sangue meio quente. Sempre tive o sonho de jogar na A1 da Itália contra jogadores que não são normais. E jogar de igual para igual com eles dá muita segurança e a sensação de não dever nada para ninguém. Aqui se tem uma expectativa muito grande sobre o oposto, pressão mesmo. Mas agora tudo está no lugar certo. E por onde passo deixo a minha marquinha. Tocam música do Brasil no fundo sempre quando vou sacar. Gostam do meu jeito. Mas não é igual a Montes Claros. Aquilo não existe em nenhum lugar!

Lá, Lorena era o homem dos pontos, aquele com quem todos queriam uma foto. E o que também deixou saudade. Apesar dos apelos da torcida, ele resolveu voltar para a Europa. Só lamenta que a saída não tenha sido entendida.

- Foi um pouco difícil deixar a cidade depois de tudo. Eu não queria deixar o Brasil, ainda mais depois do que fizemos. Mas foi mal entendida a minha vinda para fora. Falavam que minha mulher não gostava de lá. E não tinha isso. Ela estava com dois avós doentes e que faleceram depois. Estávamos com esse problema e queríamos voltar para ficar mais perto deles. Eu ia para o Japão, mas acabou não dando certo e a Itália passou a ser melhor profissionalmente e pessoalmente. É um dos campeonatos mais fortes do mundo. E vira e mexe a minha mulher vai para a França, o país dela.

A possibilidade de voltar a defender uma equipe brasileira na próxima temporada não é descartada. O contrato foi fechado por apenas um ano.

- Lógico que vejo possibilidade de isso acontecer. Ainda mais com a Superliga do jeito que está ficando. Sempre faço um caminho mais diferente. Está todo mundo voltando para o Brasil e eu fui embora (risos). Mas tudo tem um aprendizado. Se continuasse no Brasil ia ser bom, mas sei que quando voltar vou estar melhor ainda.

O jogo vai evoluir, mas outra questão parece estacionada. Dono do melhor saque e do recorde de pontos da história da Superliga, com 699 pontos, Lorena sonhava com uma chance na seleção. Queria estar na lista "do homem", como chama Bernardinho, mas o máximo que conseguiu foi estar na pré-lista da Liga Mundial.

- Fiquei meio chateado. O grupo está montado, eles ganham tudo. Sempre vou torcer muito por eles e ter respeito pelo professor, que é um fenômeno. Mas acho que nem penso mais em seleção. Fiz quase 700 pontos no campeonato.  Tenho 31 anos, estou na melhor fase fisicamente e ninguém vai te convocar para te conhecer nessa idade. Ficou uma marquinha pela maneira como as coisas foram feitas. Acho que, por tudo que mostrei, merecia treinar com o grupo e ser cortado depois, se fosse o caso.

Ao contrário de outros tempos, o oposto não teme ser esquecido. Acredita que a passagem pelo norte de Minas ficou muito marcada. Para ele, o que vale é a lembrança daqueles dias, daquele grupo que ficaram guardados na memória.

- Quando cheguei na cidade não acreditava, não tinha um ginásio, nada. Pensava: "O que eu estou fazendo aqui?". E acabou sendo muito legal. Aquele grupo vai ficar marcado para o resto da minha vida profissional. Mas na vida tudo é muito rápido.

Aquela final acabou. Até quem é campeão olímpico, depois de um tempo, as pessoas não lembram. Não tenho medo de ficar esquecidão. O que gosto é de jogar vôlei. Fiz parte de um projeto que hoje é grande e acompanho os jogos pela internet. Foi difícil deixar tudo para trás, pelo amor e carinho. Só tenho que agradecer a todos da cidade. Sempre que falo com o Rodriguinho (levantador) e com outros do time, eles me dizem que se um dia aparecer em Montes Claros as pessoas não vão me deixar sair mais - ri.

Nesta segunda-feira, às 18h45m, o Montes Claros recebe o Campinas, pela nona rodada do returno da Superliga. O Sportv trasmitirá a partida ao vivo.    

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