Fabiana Murer é a maior aposta do Brasil para chegar ao pódio na principal competição de atletismo do ano. E, para que essa esperança não se transforme em decepção, como em 2008 ou 2009, ela e seu técnico, Élson Miranda, adotaram uma série de jeitinhos.
Na hora de viajar, já têm a lista das empresas aéreas "amigas dos saltadores". Antes de competir, checam todas as varas e, principalmente, onde e como serão armazenadas. E, pouco antes do salto em si, checam o colchão, apontado como o grande vilão do Mundial de Berlin, do ano passado.
"A gente já está escolado. O salto com vara é uma prova muito técnica, em que cada detalhe pode acabar com uma competição. Por isso, já temos algumas medidas que sempre adotamos, para que os problemas não apareçam", diz Fabiana.
A primeira vez em que o Brasil viu Fabiana em uma situação difícil foi nas Olimpíadas de Pequim. Na final, ela era favorita para uma medalha, mas, ao ir para sua primeira tentativa, descobriu que a vara que usaria tinha sumido. A concentração foi embora e as chances de pódio também. O equipamento só apareceu dias depois.
Na segunda vez, a história foi diferente. No Mundial de Berlim, no ano passado, ela foi apenas a quinta colocada, com um salto de 4,55m. Na mesma temporada, tinha saltado 4,82m, marca que daria a medalha de ouro. Ninguém entendeu, na hora, o que tinha acontecido. A Fabiana olhava para mim, tentando entender. E eu só tinha uma resposta: 'Vai lá e salta'", lembra Elson.
O motivo da dificuldade só foi revelado semanas depois: a organização levantou em 20 centímetros o colchão em que as atletas caem, para colocar uma câmera no local, para filmar o encaixe da vara com o chão. A mudança pode parecer insignificante, mas afetou Murer e Yelena Isinbayeva, recordista mundial da prova, que não conseguiu nenhum salto válido. "O ângulo em que a vara encaixa acabou mudando com essa alteração do colchão. E só percebemos isso depois. Com a Yelena, o problema foi o mesmo".
Pode parecer desculpa, mas o técnico apresenta um detalhe que corrobora com sua teoria: duas semanas depois, Fabiana saltou 4,71m em uma competição na Suíça. Isinbayeva, na mesma prova, quebrou o recorde mundial. "Problema de prepração, não era. Porque a abordagem de prova dela era perfeita".
Por causa disso, além da checagem das varas, passaram a conferir também os colchões antes do início da competição. "Abrimos o colchão, olhamos se ele está no chão. Porque em Berlim, o que eles fizeram desrespeitou as regras. Agora, isso não passa mais", avisa o treinador.
A perda da vara e o colchão alto, porém, não foram os primeiros problemas que Fabiana já enfrentou. Varas perdidas em vôos internacionais são dificuldades corriqueiras. Ela até mesmo já foi impedida de viajar. "Chegamos ao balcão e a empresa aérea simplesmente se recusou a embarcar as varas. Tive de comprar uma nova passagem, em outra companhia, para ir no mesmo avião que o equipamento", conta a saltadora.
Incidentes como esse fizeram com que ela e Élson elaborassem uma lista de empresas que aceitam os equipamentos. "São tubos pesados, de quase cinco metros. Não é todo mundo que leva. Aí, chega na hora de embarcar, algumas empresas simplesmente não colocam no avião. E você chega ao destino e tem de esperar, para saber se vai chegar ou não", diz Élson.
Depois de tantos percalços, Fabiana tem certeza: será necessário um problema dos grandes para surpreendê-la. "Eu já passei por tanta coisa que já sei como me comportar em quase todas as situações. Se a vara desaparecer de novo, é só pegar outra. Não vai mais ter problema", diz, sorrindo.
A principal competição da saltadora na temporada é o Mundial Indoor de Doha, entre 12 e 14 de março, no Qatar. Antes disso, ela vai competir na Alemanha (Stuttgart, no dia 6 de fevereiro), na Polônia (Bydgoszcz, no dia 10), na Inglaterra (Birmingham, no dia 20) e Ucrânia (Donetsk, no dia 6 de março).
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