Primeira mulher de Senna lamenta não aparecer em filme sobre piloto

Primeira mulher de Senna lamenta não aparecer em filme sobre piloto

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:02

A primeira e única mulher que foi casada oficialmente no papel e na igreja com Ayrton Senna se emocionou e chorou recentemente ao ver o filme sobre a vida pessoal e a carreira profissional do maior e melhor piloto brasileiro de todos os tempos. Mas também lamentou, no entanto, não ter sido mostrada ou sequer ter seu nome citado no documentário que estreou no Brasil em 12 de novembro.

“Me incomodou. Vou dizer que me incomodou bastante”, diz a ex-esposa oficial do ídolo, Lilian de Vasconcellos Souza, sobre sua ausência no filme “Senna”. “Que pelo menos citassem o meu nome, me procurassem para saber se eu queria que citassem meu nome”.

saiba mais 'O inimigo de Ayrton não era o Prost, era o sistema da F1', diz Viviane Senna Documentário 'Senna' participa da competição no Festival de Sundance A produção inglesa faz uma homenagem ao tricampeão mundial de Fórmula 1, que completaria 50 anos em 2010 se estivesse vivo. A convite do G1 , Lilian assistiu com a reportagem ao documentário no mês passado no Shopping Market Place, na Zona Sul de São Paulo. Os ingressos foram cedidos pela assessoria de imprensa do Cinemark, que também autorizou fotos dentro do cinema.

A designer, atualmente com 51 anos, chegou a assinar Lilian Senna da Silva em 10 de fevereiro de 1981, quando se casou com o amigo de infância do bairro do Tremembé, na Zona Norte. O então desconhecido corredor de kart Ayrton Senna da Silva, promissor piloto da Fórmula 3 inglesa e futuro ídolo na F-1, foi o primeiro amor dela.

“Eu acho que eu fui uma pessoa importante. Eu acho que eu o incentivei na carreira”, afirma Lilian sobre o fato de ter ido morar com Senna em Norwich, na Inglaterra, depois do casamento em São Paulo. Enquanto o piloto disputava provas da F-3, ela cuidava da casa do casal e administrava o dinheiro que ele recebia.

Durante a sessão, ela chegou a enxugar as lágrimas ao rever imagens de quando Senna começou a pilotar. “Eu estive nas vitórias dele na F-3, me lembro, mas não apareço nelas aqui no documentário”, lamenta.

Reprodução da certidão de casamento original

(Foto: Rau Zito / G1)   Dinheiro contado para o xampu

Após a difícil vida na Europa, quando teve problemas financeiros, o então casal Senna retornou ao Brasil, mas se separou pouco mais de um ano depois. “Eu era a segunda paixão dele. A primeira paixão dele era o automobilismo” relembra Lilian.

Ela continuou a entrevista em seu apartamento na capital paulista, onde mora com o filho, nascido em 1984, do segundo casamento.

Naquele mesmo ano em Lilian realizou o seu maior sonho, o de ser mãe, Senna concretizou, segundo ela, seu maior desejo: entrar na F-1. Assim como os fãs do piloto, ela passou a acompanhar a fase famosa e mais glamorosa do esportista pela televisão.

Em 1990, Senna deu uma entrevista à revista Playboy e comentou que o seu casamento, sem citar o nome de Lilian, “foi um erro” porque os dois se casaram muito jovens.

Ex-namoradas

O documentário "Senna" expõe também uma trajetória vitoriosa do ídolo, entrevistas inéditas, imagens dos bastidores, de TV, arquivos de família e vídeos caseiros. O Instituto Ayrton Senna ajudou no lançamento do filme. A história é contada nas vozes de Senna e nos depoimentos dos entrevistados, como o do rival francês Alain Prost.

No filme, aparecem fotos e cenas da apresentadora Xuxa e da então modelo Adriane Galisteu, respectivamente, ex e namorada do esportista em 1994, quando ele morreu precocemente, aos 34 anos, após sofrer um acidente com seu carro durante uma prova no autódromo de Imola, na Itália. Sua Williams não fez a curva e bateu. Uma peça do carro atingiu a cabeça do piloto. Em outras entrevistas, ele havia comentado seu desejo de morrer nas pistas.

Solteira após três casamentos, Lilian se dedica atualmente ao trabalho como designer de interiores e exteriores. “Eu nunca usei o nome do Ayrton para me promover à custa dele”, diz a loira de olhos azuis, 1,65m e 53 quilos, que já recusou convites de revistas masculinas para posar nua. Vaidosa, admite que já colocou próteses de silicone nos seios e não dispensa maquiagem.

Sorridente e simpática, mostrou com carinho a certidão de casamento com Senna e algumas fotos que tirou com ele. Algumas ganhou da ex-sogra, que visitou após o velório, do qual não participou porque preferiu se preservar.

E após muita insistência da reportagem revelou o que guarda dentro de uma caixinha, que evita mostrar as visitas. “O único presente que ganhei dele e que ficou comigo até hoje: essa pulseirinha de ouro”, diz. “Para mim, morreu uma pessoa que fez parte do meu coração.”

Outro lado

Procurada para comentar como foram feitas as escolhas das pessoas que apareceram no filme “Senna”, Viviane, irmã do piloto e presidente do Instituto Ayrton Senna informou por e-mail, enviado por sua assessoria de imprensa, que a família do piloto não decidiu “quem entrava ou não entrava na narração da história.”

Leia abaixo íntegra da nota de Viviane Senna:

“ O documentário retrata de uma forma muito transparente e real quem era meu irmão. A história começa quando Ayrton vai para a Europa para disputar o campeonato mundial de kart – o mesmo tema que encerra o documentário. Todo o restante é focado no que ele viveu, dentro e fora das pistas, na F1. O quanto ele valorizava sua família, seus amigos e seu País, especialmente naquela fase. O quanto ele se dedicava à carreira, enfrentando os bastidores da F1, onde a competição ia além de vencer nas pistas. Tudo está muito bem retratado em 90 minutos. Acompanhamos a produção do filme e cedemos imagens do arquivo pessoal. Não decidimos quem entrava ou não entrava na narração da história. O roteirista e o diretor, em cima daquilo que captaram nas diversas fontes, é que fizeram essa brilhante montagem de fatos reais da vida de meu Ayrton. Tudo seguindo a pertinência necessária ao roteiro para garantir emoção, bom humor, suspense, realismo... ingredientes que trouxeram um resultado bem diferente do que estamos acostumados a ver em documentários. É imperdível. ”

O G1 também procurou a Paramount, distribuidora do filme no Brasil, para falar sobre o documentário. A reportagem enviou um e-mail para a assessoria de imprensa, mas não teve retorno até o fechamento desta matéria.

Leia abaixo trechos da entrevista que Lilian concedeu ao G1:

Senna beija Lilian em 1981 (Foto: Reprodução/

Arquivo Pessoal)   G1- Gostou do documentário ‘Senna’?

Lilian de Vasconcellos Souza – Eu achei um filme muito bem feito. Com características impressionantes dele [Senna], sabe? Que eu realmente via quando fui casada com ele. É um filme maravilhoso. Retrata bem a personalidade, a maneira como ele lidava com a vida, a vontade de viver, a vontade de passar tudo aquilo que ele passou. Eu acho que ficou bem claro para mim o amor que ele tinha por aquilo. Senti muita emoção.

G1 – Você foi casada com Senna, mas não aparece no filme sobre ele. Isso te incomodou?

Lilian – Me incomodou. Vou dizer que me incomodou bastante. Eu acho também que eu deveria ter sido consultada, tá? Não tirando a importância de ninguém que esteve no filme. Pelo contrário, acho que Adriane Galisteu [apresentadora] teve muita importância, a Xuxa [apresentadora] também, mas a única pessoa com quem ele se casou foi comigo, que fui Lilian Senna da Silva. Eu acho que eu fui uma pessoa importante. Que pelo menos citassem o meu nome, me procurassem para saber se eu queria que citassem meu nome. Eu sei que não é um filme para falar da parte sentimental de um ídolo mundial, mas se falaram das outras, se colocaram até fotos de pessoas que eu não reconheço em barco. Por que não a mim?

G1 – Você questiona a família de Senna ou os produtores do documentário?

Lilian – Eu não questiono os produtores porque eu acho que a Viviane [Senna, irmã de Ayrton e presidente do Instituto Ayrton Senna], eu não sei por qual motivo, ela não quis me colocar [no filme]. Pode ser até que ela quis me proteger. Eu até acredito nisso. Prefiro acreditar nisso, que ela quis me poupar. Mas eu acho que eu poderia ter sido consultada, ta? Ou então não pusesse ninguém. Porque acho o seguinte, que fui uma pessoa que começou com ele. Eu impulsionei a coisa. Eu acho que o incentivei na carreira.

G1 –Então como você acha que deveria ser retratada no filme sobre Senna?

Lilian – Uma pessoa que era uma namorada de infância, que fazia parte do contexto familiar. E que de uma forma ou de outra se casou com ele e o amava pelo que ele era. Não pelo que ele se tornou. Eu amava o Ayrton pela pessoa que era. Eu nunca imaginei ele se tornar um ídolo mundial. Para mim, ele era o meu ídolo naquele momento.

G1 – Quando conheceu Senna? Quando começaram a namorar?

Lilian – Tínhamos dois anos de idade e brincávamos juntos no prédio onde a prima dele morava na Zona Norte. Minha mãe era muito amiga da mãe dele, a dona Neyde [Senna], a Zaza. Antes do Ayrton, namorei uma pessoa, mas resolvi desmanchar. Depois, o Beco [apelido de Senna] me pediu em namoro. Ele disse que gostava de mim e falou do kart, da vontade de ir a Europa. Em dois meses nos casamos. Eu tinha de 19 para 20 anos. Nossas famílias soltaram rojão. Adoraram porque minha mãe sempre quis e a dona Neyde também. Nos casamos e no dia seguinte fomos a Europa porque ele foi disputar provas de kart e a Fórmula 3. Moramos em Norwich, na Inglaterra. Casados, vivendo juntos, acho que ficamos um ano. Mas até a separação foram quase dois anos. Fui moldada para casar e ter filhos. Colocava minhas forças no amor, no casamento, no lar e num filho. Então foi muito grande minha frustração quando não deu certo com o Ayrton.

Casamento de Lilian e Senna em 1981 em SP

(Reprodução/Arquivo Pessoal)   G1 – Como foi sua vida de casada na Inglaterra?

Lilian – Eu fui extremamente apaixonada. E extremamente serviçal. Não tinha vida própria, eu tinha a vida dele. Fui para viver a vida dele. Então me dediquei 24 horas. Eu cronometrava, respirava e dormia automobilismo. Eu lavava, passava. Quando ele ia às corridas, eu ia junto. Quando ele ia fazer treino também. O dinheiro que ele recebia do kart nós gastávamos na Fórmula 3, na Van Diemen, que era a escuderia que ele corria, e na casa. O caixa era eu porque ele me dava todo o dinheiro. Ali, eu administrava. Eu dava dinheiro até para ele tomar café. Porque ele não gostava de administrar isso. E eu tinha medo às vezes de comprar até o xampu, medo que não tivéssemos dinheiro para comer depois. Então foi uma vida extremamente difícil.

G1 – Você chegou a se sentir trocada pelas pistas?

Lilian – Não. Trocada não. Eu era a segunda etapa, não a primeira. Eu era a segunda paixão dele. A primeira paixão dele era o automobilismo. Quer dizer, eu aceitei me casar sabendo disso. Eu fui convicta disso. Isso com certeza absoluta. E isso não foi só no meu momento. Vendo esse filme [Senna] eu também vejo isso nitidamente. Ele foi predestinado. Nas entrelinhas, o automobilismo era muito mais forte do que a morte. O cérebro dele era o automobilismo. Não tinha nada mais importante no mundo para ele, nem família, nem mulher, nem nada.

G1 – Vocês conversavam sobre ter filhos? Ele queria ser pai?

Lilian – Então, aí foi o grande problema da nossa relação. Foi aí que nós desmanchamos. Acabou nosso casamento por esse motivo. Hoje tenho consciência disso. Engravidei dele sem querer. Fiz um teste de farmácia na Europa, e deu positivo. Fiquei com muito medo de falar porque ele ficava muito tenso antes da corrida. Inclusive nós dormíamos em camas separadas antes das provas. Ele me pedia. Quando foi na volta dessa corrida, deitei no colo dele, estávamos num carro vermelho, um Alfa Romeo que era nosso, chovia para caramba, ele dirigindo, e falei: ‘Beco, tenho que te falar uma coisa: fiz um exame de farmácia e acho que estou grávida porque esse exame deu positivo’. Nessa hora, ele pôs a mão na minha cabeça, levantei, ele olhou para mim e falou: ‘Só vou te dizer uma coisa: se você estiver grávida, esquece. Você vai criar nosso filho no Brasil e eu vou continuar minha carreira aqui’. Eu tinha 20 anos [se emociona].

G1 – Ele propôs uma separação?

Lilian – Não. Ele propôs continuarmos casados, mas que eu criasse o filho aqui [no Brasil] e ele lá [na Europa]. Aí ele me chocou demais naquele momento. Não é o que eu queria, eu não queria engravidar. Eu chorei muito. Para mim foi uma morte interna porque ficou muito claro na minha cabeça o quanto eu não era importante. Ali sim, falei que tinha ido com a convicção de que eu estava em segundo lugar, mas não tanto num plano tão longe. Que eu era apenas uma coadjuvante para aquele cenário. Depois de três dias, tive um aborto espontâneo. Então naquele momento, algo foi cortado dentro de mim porque o objetivo dele era entrar na Fórmula 1 e o meu era ter um marido que eu amasse e constituir uma família. Não queria só um filho, queria uma família.

Lilian acompanha premiação de Senna em vitória

na Europa (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)   G1 – Como foi a separação entre vocês?

Lilian – Bem traumática. Nós viemos para o Brasil para ele montar um negócio com o pai com material de construção. Ele tinha desistido da Europa porque se decepcionou com alguns contratos na Fórmula 3. Alugamos um apartamento na Serra da Cantareira e quando estava pronto para nos mudarmos, ele olhou para mim e para a janela e falou: ‘Lilian, eu não vou aguentar. Eu não quero isso para mim, preciso correr’. Aí, outro choro, outra decepção porque ali eu pensei que não iria brincar de casinha mesmo. Ele falou: ‘eu vou embora para a Europa sozinho. Depois volto ou te mando a passagem e você vai para lá. Se não for possível, este ano você vive aqui e eu lá.’ Foi uma catástrofe para mim. Voltei para a casa dos meus pais, e depois de algum tempo, ele me ligou da Inglaterra falando que achava que eu era uma pessoa que não devia ficar presa a ele dessa forma, e que ele tinha de tocar a carreira, se dedicar muito para chegar a Fórmula 1, que era o objetivo dele. Aí eu concordei prontamente. Desligamos e eu tive uma depressão muito grande, fiquei um ano de penhoar. Não tinha vontade de pôr roupa, não tinha vontade de nada porque foi uma falência. Porque o objetivo dele, ele ia seguir. O meu foi interrompido de uma forma que não escolhi. Que foi ele quem escolheu. Então, por grandes momentos de minha vida, me achei usada. Achei que fui uma peça de um quebra cabeça para que fosse montado, mas que foi jogada fora quando não mais tinha utilidade. Então isso era um sentimento de rejeição muito grande que tive.

G1 – Quando vocês voltaram a se falar novamente após esse telefonema?

Lilian – Fui falar na hora da nossa separação legal, no nosso divórcio, quase um ano depois. E foi muito sofrido. Ele me chamou para falarmos da separação legal e fomos fazer um lanche na Zona Norte, e de lá, fomos para o cartório. Quando eu o vi, eu me emocionei e ele foi muito firme e ele me deu a mão e falou assim: ‘vá procurar sua turma que a minha eu já encontrei’ [chora].

G1 – Você gostaria de reatar com Senna naquele momento?

Lilian – Eu acho que sim [soluça e enxuga as lágrimas]. No divórcio, eu não pedi absolutamente nada. Entrei com zero e saí com zero. Ele entrou zero e saiu com zero. Foi totalmente amigável. Depois superei essa separação. Eu conheci meu segundo marido em 83, me apaixonei e em seis meses nós casamos. Aí sim constituí uma família. E realizei em 84 o meu sonho de me casar com quem eu amava muito e ter um filho. E no mesmo ano, o Ayrton conseguiu o dele que foi entrar na Fórmula 1. A melhor coisa do mundo para mim foi meu filho. O melhor papel que eu fiz na vida foi ser mãe.

G1 – Quando foi a última vez que você e Senna conversaram após o divórcio?

Lilian – Eu liguei e ele atendeu prontamente. Ele falou ‘alô’, e eu falei ‘alô!’. Perguntei se ele estava bem e ele falou que estava bem. E não saía disso. E ficaram os dois mudos no telefone. Liguei com o intuito de um sentimento que tive no passado, que eu não tenho vergonha de ter sentido. Eu não tenho vergonha de amar. Eu amei. Liguei por amizade. Eu queria ser amiga naquele momento, e nada além de uma grande amizade. Eu já tinha me separado do pai do meu filho. Eu acho que se você amou uma pessoa é impossível você odiá-la. Se eu amei uma pessoa, não posso odiá-la no outro dia. Eu acho que tem coisas que marcam. Da mágoa, vem a ternura, a compreensão. A maturidade te traz a compreensão.

G1 – Vocês chegaram a se ver depois do divórcio?

Lilian – Foram alguns meses antes do falecimento dele [Senna morreu na Itália em 1º de maio de 1994], quando nós cruzamos com nossos carros a Avenida Pacaembu [em São Paulo]. Eu estava de um lado da avenida e ele estava do outro. Ele só olhou e cumprimentou. Eu achava que ele [Senna] estava em outro mundo já. Era muito difícil eu retomar esse mundo. Eu me comovo muito pela mágoa que senti naquele momento, mas hoje compreendo o por que ele fez tudo aquilo. E cada dia mais que eu envelheço, consigo entender mais que cada um tem seus objetivos. Continuo com os mesmos objetivos. A minha índole é a mesma, acho que casamento é uma coisa bacana. Casamento não é falido, mas é muito difícil hoje as pessoas se integrarem. Como hoje e ontem, sempre foi difícil.

Imagem do documentário 'Senna', sobre a vida do

piloto de Fórmula 1 brasileiro. (Foto: Divulgação)   G1 – Seus ex-maridos tinham ciúmes de Senna? Como fazia para ver as corridas na TV?

Lilian – Sempre há, né? Não há como não ter, né? Principalmente por ele [Senna] ter conseguido tudo o que conseguiu. Assistia. Assistia assim, sempre me movimentando. Nunca muito direcionada. Quando conheci meu segundo marido, ele sabia que eu havia sido casada com o Ayrton. Eu acho que ele administrou muito bem isso. E meu marido na época sabia que eu o amava, que encarei o casamento com ele com amor, com dedicação. Só o respeitava, não tocava no assunto, não falava no Ayrton.

G1 – Onde você estava quando teve a notícia de que Senna havia morrido após um acidente numa etapa da Fórmula 1 na Itália?

Lilian – Eu estava em minha casa, num terceiro casamento. Eu passei e vi [pela TV] e na mesma hora me sentei no sofá e eu falei ‘tá morto’, sem avisarem nada ainda. Só estava aparecendo o acidente. Pressenti, veio uma coisa em mim. Aí eu senti que ele estava morto. E foi muito triste, logicamente, porque morreu o Ayrton que brincava comigo de carrinho, o Ayrton que brincava comigo na piscina do clube, o Ayrton que fazia parte das minhas tardes andando com o cachorro. Enfim, não morreu o ídolo nacional para mim. Isso era muito distinto. Para mim, morreu uma pessoa que fez parte do meu coração.

G1 – Como é hoje a sua relação com a família de Senna?

Lilian – Minha mãe é amiga de dona Neyde até hoje. Eu fui visitar dona Neide no falecimento [de Senna]. Eu só não fui ao velório e ao enterro, mas fui visitar Dona Neyde. E ela foi muito legal comigo.

G1 – Por que você não foi ao velório e ao enterro de Senna?

Lilian – Para não ser mais uma concorrente [risada]. E para respeitar também a pessoa com quem eu estava no momento porque eu acho que ela não ia ficar feliz. Meus pais foram [ao velório], e eu depois fui [para a casa de Senna em São Paulo e ao cemitério onde ele foi enterrado]. Dona Neyde foi muito legal comigo, me deixou entrar no quarto dele. Me deixou sozinha, sabe? Foi muito bacana porque ela sabia de todo o sentimento que eu tinha. Isso foi depois da minha terceira separação.

Lilian mostra sua foto preferida de Senna (Foto: Rau Zito / G1)   G1 – Ayrton foi o grande amor de sua vida?

Lilian – Foi um grande amor. Eu tive dois grandes amores na minha vida, cada um na sua proporção. O Ayrton foi o príncipe, né? O Ayrton teve essa característica. Porque uma mulher, da minha época, se casar... dificilmente se separaria. Eu pensei que ia ficar casada. Aí vem o pai do meu filho, aí eu brinquei de casinha mesmo. Eu vivi a realidade de um lar. Nós [Lilian fala dela e de Senna] nos encontramos numa época errada. Talvez se tivéssemos nos encontrado mais tarde, a coisa poderia ter sido diferente.

G1 – Qual foi o maior aprendizado que você teve com Senna?

Lilian – Calma porque essa pergunta é difícil [chora]. Determinação! [enxuga as lágrimas]. E que a sua vida pertence só a você. Que você não pode dá-la a ninguém. Que seus objetivos têm de ser cumpridos. Que não importa a quem você magoe. Que a vida que você tem é só essa. Então não importa pai, não importa mãe. Ninguém pode te tirar o que você quer fazer de sua vida.     Kleber Tomaz Do G1 SP

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições