O Bar do Salomão existe há mais de 70 anos, no bairro da Serra, zona sul de Belo Horizonte. Ao longo dos anos foi se tornando reduto da torcida atleticana. Tudo porque o dono, Salomão Jorge, era torcedor fanático do Galo. A paixão de Salomão passou para filhos e netos, e o bar virou referência e point dos torcedores da equipe na capital mineira.
Salomão faleceu em 2002, e, desde então, o bar é administrado pela família. Salomão Jorge Filho é quem cuida do local, ao lado das irmãs Flávia e Carla. No próximo domingo, mais de 500 pessoas são esperadas no bar para o segundo jogo da decisão do Campeonato Mineiro, entre Atlético-MG e Cruzeiro. Salomão Filho diz que o jogo é diferenciado e que a preparação e a expectativa para o clássico são diferentes.
Salomão Jorge Filho, proprietário do Bar do Salomão (Foto: Marco Antônio Astoni / Globoesporte.com)
- Atlético-MG e Cruzeiro é uma coisa totalmente diferente, especial. A cerveja é triplicada. A gente procura aumentar a segurança, falando com o policiamento do bairro. Esperamos umas 500 pessoas para este jogo. As ruas no entorno do bar são fechadas. Para tudo aqui. É um ponto de atleticanos, todo mundo já sabe e vem comemorar aqui.
Como o mando de campo do jogo é do Cruzeiro e a Arena do Jacaré, local da partida, só recebe uma torcida em clássicos, os atleticanos da capital devem ir em massa ao bar para acompanhar o jogo. Otimista, Salomão Filho acredita que o Galo fica com o título e vence novamente o Cruzeiro, assim como na primeira partida.
- Domingo vai ser 2 a 0 pro Galo e a festa vai ser até terminar a cerveja!
Tradição A fama do Bar do Salomão atrai atleticanos de todas as classes sociais e idades. O neurocirurgião Peter Joviano Coutinho, frequentador do bar há quatro anos, diz que vai ao local comemorar o título domingo, mesmo esperando um jogo muito complicado para o Galo. - Em dia de clássico, geralmente eu vejo o primeiro tempo em casa e depois venho pra festa. Neste domingo, espero repetir. Vai ser um jogo difícil, tanto pro Atlético-MG quanto para o Cruzeiro. Meu palpite é 1 a 1, o que vale o título para o Galo.
Peter Joviano explica os motivos de gostar tanto do bar, que segundo ele, é uma confraria atleticana.
- Eu venho aqui primeiro porque é um bar de grife, é um bar do Atlético-MG e do atleticano. Depois porque a comida é muito bem feita, a cerveja está sempre gelada e o atendimento é sempre personalizado. Tem muita gente que vem, e você acaba fazendo uma confraria de atleticanos. Tem muito cruzeirense que vêm também, os que são loucos pra se tornarem atleticanos provoca.
Rivalidade saudável
Ricardo Luiz Santos Lima, vizinho do bar, é irmão de um dos médicos do Atlético-MG, o Dr. Marcus Vinícius, no clube há mais de 30 anos. Assíduo no bar desde criança, Ricardo diz que lá também tem muitos cruzeirenses, mas que no espaço não há lugar para violência.
- Eu frequento desde criança. Nasci aqui. Gosto daqui por causa da amizade, da turma. O Atlético-MG está sempre presente. Tem alguns cruzeirenses que vem aqui, mas a amizade predomina. Aqui não tem espaço para briga. Apesar de a grande maioria ser atleticana, o cruzeirense entra, toma cerveja numa boa, sem problema nenhum.
O servidor público Giovanni Mendes Miranda é um exemplo claro disso. Cruzeirense, é casado com Carla, filha de Salomão Jorge, e marca presença no bar diariamente. Giovanni diz que gosta da convivência com os rivais e fala sobre sua rotina.
- As diferenças aproximam as pessoas. A maioria dos meus amigos é de atleticanos. Jogo bola num time de atleticanos, que me receberam muito bem. O mundo está precisando aprender a conviver com as diferenças. Hoje tenho muitos amigos atleticanos, gosto de frequentar o bar de atleticanos, e sou cruzeirense. As pessoas precisam se respeitar mais, isso que é o bonito do esporte.
Cada macaco no seu galho
Giovanni e Ricardo: amizade fica de lado na hora do clássico (Foto: Marco Astoni / Globoesporte.com)
Amigos, amigos, clássico à parte. Mesmo pregando o respeito e paz entre as torcidas, os amigos Ricardo e Giovanni vão torcer por seus times na grande final de domingo. O jogo entre Atlético-MG e Cruzeiro é tão especial para a torcida mineira, que cada um tem sua rotina nos dias que antecedem a partida, como conta Ricardo Luiz.
- Dia de clássico começa na semana anterior. Você já está preparado, falando do jogo, pensando no dia e frequentando o bar. Porque aí você vai encontrando os atleticanos e vai conversando sobre o clássico até o dia do jogo. Aí, na hora do jogo, para na frente da TV e vê o que vai dar. Meu palpite pra domingo é Galo campeão, 2 a 1 de novo, gols do Magnata e do Mancini.
Giovanni aposta na vitória do seu Cruzeiro e brinca ao contar como vai ser a comemoração após o possível título do time azul.
- Quando o Cruzeiro ganha eu durmo na sala para não ter problema (risos). Se o Galo ganha é tudo normal, eu vou estar aqui tomando cerveja do mesmo jeito. Isso é só futebol e não pode transcender o respeito e a amizade. É esporte, é alegria, terminou o jogo, a gente vive a vida normalmente. O atleticano continua torcendo pro Atlético-MG, o cruzeirense pro Cruzeiro e o americano pro América-MG. Isso é que é bonito. Meu palpite é Cruzeiro 2 a 0 no domingo.
O Bar do Salomão é, certamente, um reduto atleticano. Mas antes de tudo, é um espaço democrático, que abriga todas as torcidas mineiras, como diz o dono Salomão Filho.
- Não tem briga. Todo mundo é bem recebido aqui, seja atleticano, cruzeirense ou americano.
Resta aguardar o apito final do árbitro Wilson Luiz Seneme no domingo para saber como vai ser a festa do título do Campeonato Mineiro de 2011. Se na Arena do Jacaré, com os cruzeirenses, ou no Bar do Salomão, com a torcida atleticana.
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