Ricardinho não descarta nepotismo e dispara: "não conheço Bernardinho"

Ricardinho não descarta nepotismo e dispara: "não conheço Bernardinho"

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:08

Ricardinho é considerado um dos melhores levantadores do mundo, mas está fora da seleção brasileira de vôlei desde julho de 2007. O motivo? Ele garante não saber. A possibilidade de nepotismo não é descartada pelo jogador, que voltou a sonhar com o time nacional no início do ano após reaproximação com a comissão técnica. Em vão. O desejo de retornar não se concretizou e, agora, o atleta de 34 anos colocou um ponto final em sua história na equipe verde-amarela e disparou: "não conheço Bernardinho".

De volta ao Brasil após seis temporadas no exterior, Ricardinho recebeu o UOL Esporte na loja do Vôlei Futuro, clube de Araçatuba (SP) que firmou contrato com ele por dois anos. Receptivo e feliz, o levantador falou sobre o corte da seleção brasileira em 2007 com naturalidade. Não descartou a possibilidade de nepotismo, já que foi afastado e Bruninho, filho do técnico Bernardinho, herdou a vaga. Negou que motivos financeiros tenham motivado a dispensa e deu mais detalhes da reaproximação com o técnico.

Ao ficar de fora da campanha no Campeonato Mundial da Itália, Ricardinho decidiu que não volta mais para a seleção brasileira. Justificou como decisão particular e familiar para encerrar uma história que inclui títulos de Ligas Mundiais, um ouro olímpico (2004) e o bicampeonato mundial (2002 e 2006). E o levantador tem o extenso currículo no time verde-amarelo diretamente ligado a Bernardinho, que assumiu o comando em 2001. Em 2003, Ricardinho virou titular e um ano depois ganhou a braçadeira de capitão. Mesmo com tanto tempo de convivência, o jogador afirma não conhecer tão bem o treinador.

UOL Esporte - O Vôlei Futuro não tinha um time tão competitivo. Você acha que a sua presença atraiu outros jogadores para o projeto?

Ricardinho: Eu escutei isso em entrevistas do Lucão e do Leandro [Vissotto]. Que eles realmente vieram para cá porque sabiam da minha presença. Eu fico super feliz em saber que, apesar do velhinho aqui estar fora da seleção brasileira, os jogadores mais novos têm essa vontade de jogar pelo menos um ou dois anos do meu lado e receber as bolas que eu levanto.

UOL Esporte – As pessoas ainda falam muito do corte de 2007. É por curiosidade ou porque não ficou esclarecido?

Ricardinho: Ficou no ar. Por isso que eu falo sempre e ninguém acredita que eu não posso responder. Não fui eu. Foi o Bernardinho que me cortou e até hoje ele não me falou o que foi e o que não foi. Por isso que fica no ar. Não sei o que passou na cabeça dele para ter me cortado naquele momento. É até um pouco estranho. Porque foi dois dias depois do título de melhor do mundo e parece que foi uma coisa muito séria. Mas, sinceramente falando, não foi nada sério que eu tenha feito ali dentro. Mas a única pessoa que pode responder sobre o corte é ele. Eu levantei, fui embora para casa e nunca mais nos falamos. Voltamos a nos falar agora, está tudo certo. Mas sobre o caso, acho que nem ele quer comentar porque passou tanto tempo, que acho que não tem mais nada a ver. Até hoje ninguém sabe o motivo real ou se foram vários motivos, ele não falou nada. No começo, no primeiro ano, eu não queria mesmo falar. Mas agora não tem problema nenhum. Até porque se passaram três anos e eu não volto mais para a seleção brasileira. Estou convencido disso.

UOL Esporte – O seu nome é frequentemente lembrado e sempre tem perguntas relacionadas a você na seleção. O que acha disso?

Ricardinho: É legal. É uma roda, que gira, gira, gira e para sempre volta para o mesmo lugar. Por isso que eu costumo falar em fantasma Ricardinho. Porque está sempre rondando. Eu não procuro nada disso. Nem soltar nada na mídia, não tenho nem assessor de imprensa. É o público que pergunta. Às vezes, sites fazem algumas coisas e sobe o número de perguntas quando tem meu nome envolvido e eu fico muito feliz. É sinal de que o povo tem muita saudade de ver o Ricardo na seleção brasileira e sente que agora acabou.

UOL Esporte – Em entrevista recente ao UOL, os internautas perguntaram para o Murilo sobre o corte e alguns até falaram da questão financeira. Teve isso?

Ricardinho: Isso é invenção, polêmica. O grande lance é que eu discuti o prêmio normal, como capitão. Falaram esse negócio. O dinheiro nem cai na minha conta. Não tem nada a ver, o negócio é distribuído pela CBV [Confederação Brasileira de Voleibol].

UOL Esporte – Você não tinha autonomia para falar sobre premiação?

Ricardinho: Eu era só o capitão. Eu dou risada dessas coisas. Parte financeira, imagina. Eu discuti premiação, como ia ser dividido, como não ia ser. E cada um dava a sua opinião. Eu dei a minha e parece que só pegaram a minha e falaram que eu ia pegar o dinheiro e dividir. Não tem cabimento isso.

UOL Esporte - Ficou algum sentimento ruim da seleção brasileira, de mágoa ou frustração?

Ricardinho: Fiquei chateado porque nunca conquistei um Pan-Americano que é um título que eu queria ter no meu currículo. Agora teve mais um Mundial e eu não fui. Mas não é mágoa de ninguém. Você fica chateado. Ainda mais na fase que eu estou, porque você sabe que vai passando um pouco o tempo e vai dificultando um pouco mais. E eu sei que estou em fase excelente tanto fisicamente quanto dentro de quadra, de cabeça. Fico triste porque foram duas Ligas Mundiais que eu poderia participar, uma Olimpíada. Analisando friamente, que é como eu analiso agora, eu coloco mais pelos campeonatos que eu fiquei de fora, sabendo que tinha condições de estar lá. Não que eu estando lá ia ganhar aquela ou outra competição. Não tem nada a ver, não tem relação uma coisa com a outra. A mágoa fica por esses campeonatos que podia ter participado e ter vencido.

UOL Esporte – No começo do ano teve uma reaproximação e ficou a expectativa de você voltar para a seleção brasileira. Mas você ficou de fora. O que aconteceu?

Ricardinho: Eles vieram atrás. E foi com isso que eu fiquei um pouco chateado. Fiquei praticamente dois anos e meio sem contato com a seleção. Já estava super alinhado, sabia das coisas. Tinha pensado e repensado em tudo o que tinha acontecido e estava desencanado de seleção brasileira. Fiquei meio sem entender. Nós conversamos que eu voltaria para a Liga Mundial. E eu pedi para não ir porque estava muito em cima, eu estava resolvendo as minhas coisas, voltando para o país. Preferi não participar da Liga Mundial e começar o trabalho para o Mundial. Ele [Bernardinho] ficou de me ligar assim que terminasse a Liga Mundial e não ocorreu mais.

UOL Esporte – Mas conhecendo o Bernardinho e a forma de trabalho dele, você não pensou que um pedido de dispensa poderia atrapalhar a convocação para o Mundial?

Ricardinho: Agora te digo que não conheço o Bernardinho. Não posso dizer que eu conheço. Eu achava que conhecia. Porque ficou de me ligar e não ligou mais. Mas nem pensei nisso, porque se fosse o caso ele deveria falar: "Ricardo, acho melhor você voltar agora para começar o trabalho para chegar com ritmo no Mundial". Depois eu vi declaração dele que não ia ter tempo hábil para eu voltar e jogar o Mundial e que não era uma convocação, era uma pré-lista. Ficou um pouco no ar. Então, eu não conheço tão bem o Bernardo como eu pensava que conhecia.

UOL Esporte – E seleção brasileira acabou mesmo para você?

Ricardinho: Já que ele não decide o que quer, eu decidi. Como eu tenho essa personalidade eu tinha que decidir pela minha família. Não posso mais ficar neste vai não vai, vem não vem. E minha mulher fica um pouco nervosa, minha filha mais velha ouve: "e aí, seu pai vai voltar?". Ela vai fazer 13 anos agora, não é mais uma menina. As pessoas chegam e falam com ela. E eu, como pai, decidi. Como profissional quem não gostaria de voltar para a seleção brasileira? Ainda mais bem fisicamente, tranquilo de cabeça, seria o momento ideal.

UOL Esporte – Você sente um certo alívio por ter tomado essa decisão?

Ricardinho: Alívio muito grande, porque agora não tem mais essa de chamar. O Bernardinho não chama mais, com certeza, porque eu decidi que eu não volto mais para a seleção brasileira. E ponto, acabou. Vou me dedicar ao Vôlei Futuro.

UOL Esporte – Nem se mudar o técnico da seleção você volta?

Ricardinho: Não. A minha decisão está certa. Independente de comissão técnica, de jogadores, de qualquer coisa. Eu não volto mais. Decidi dessa forma, independente do que possa acontecer, do que possa surgir. Sei que tem Olimpíada aí. Mas meu foco está no Vôlei Futuro, em Araçatuba, Maringá e, às vezes, São Paulo por causa dos meus pais. Minha cabeça está girando em torno disso. E eu prefiro. Porque eu passei um ano e meio mal com o corte, mais um ano e meio bem e agora estou muito bem. O que me deixou pê da vida foi este negócio de vai não vai. A possibilidade de ir para o Mundial me empolgou muito. E o que eu senti depois de não ter ido foi uma coisa que me deu uma baqueada legal. De saber que você poderia estar ali novamente e não está mais, me deixou um pouco chateado e eu decidi de uma vez por todas que o Ricardinho não volta mais.

UOL Esporte – Desta vez você superou bem mais rápido. A maturidade pesa?

Ricardinho: Bastante. Mas foram coisas completamente diferentes. Uma foi o corte. Esta agora eu estava dois anos e meio fora da seleção, teve a procura, eu achei legal e depois não veio o telefonema. Você fica chateado só. Mexer com o sentimento das pessoas é complicado. Parece que não, que é um lado profissional. Mas teoricamente tem que pensar que mexe com a estrutura familiar, com o psicológico de um jogador. Tenho certeza que se fosse um jogador de cabeça mais fraca, o cara poderia ficar meio perdido por um ano, uma temporada. Porque é um baque que você leva muito grande. Ainda bem que tenho os pés no chão, uma família estruturada. Tanto meus pais, quanto a minha esposa, quanto a minha sogra e meu irmão, principalmente, porque já jogou vôlei. Então ele tem noção e vive neste mundo das cobras que ficam rodeando você. Tive apoio de muita gente.

UOL Esporte – Você está perto de completar 35 anos. Quando pretende parar?

Ricardinho: Com 50. Eu sinceramente não penso em parar. Amo jogar voleibol, criar as jogadas, gosto da sensação de deixar o central maluco e batendo as pernas de um lado para o outro. Agora, quero estar bem fisicamente, porque sei que o voleibol, o toque em si, o treinamento são detalhes que tenho que melhorar a cada ano. E eu estando bem fisicamente com certeza vou durar bastante.

Por: Renato Cury e Roberta Nomura

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