Serenidade, entusiasmo e decepção: os primeiros 90 minutos de Muricy no Flu

Serenidade, entusiasmo e decepção: os primeiros 90 minutos de Muricy no Flu

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:25

Braços cruzados, mãos para trás, coçada na cabeça e chute no ar. O grito de gol com as mãos para o alto até aconteceu em duas oportunidades, mas as reações que marcaram a estreia de Muricy Ramalho no comando do Fluminense chamaram a atenção pelo tom de lamentação. Lamentação pela irregularidade da equipe, pelos passes errados, pelo individualismo excessivo e, principalmente, pela derrota por 3 a 2 para o Grêmio, quinta-feira, no Maracanã, pelas quartas de final da Copa do Brasil.

Seria exagero afirmar que os primeiros 90 minutos do treinador no comando do Tricolor carioca foram de irritação. Entretanto, a preocupação foi evidente. Após um primeiro tempo de gestos comedidos e apenas uma bronca em Marquinho, a postura na segunda etapa foi mais expansiva, com destaque para as reclamações diante dos erros do argentino Equi Gonzalez.

No primeiro tempo, o pensador Muricy

Cercado por jornalistas, Muricy Ramalho não teve já em seu primeiro passo no gramado do Maracanã com o uniforme do Fluminense uma experiência das mais agradáveis. No lugar das entrevistas sobre a expectativa pela estreia, justificativas para um desfalque de última hora: Fred, que sofreu crise aguda de apendicite.

- Não podemos dizer que não (faz falta) .É um jogador diferenciado, mas quem entrar vai dar conta do recado – disse.

Não demorou muito até o primeiro gesto de carinho das arquibancadas. Assim que a bola rolou, o comandante foi saudado com gritos de “Muricy” e respondeu acenando com as mãos.

Sempre com os braços cruzados ou para trás, os primeiros minutos foram observação, até o gol de André Lima, aos 12. O treinador correu em direção ao banco com os braços abertos e foi abraçado por todos os reservas e membros da comissão técnica. Apesar de as ausências de Conca e Fred afetarem diretamente a parte ofensiva, Muricy demonstrava maior preocupação em orientar a defesa.

O primeiro movimento mais brusco, por sinal, foi aos 17, quando cobrou de Marquinho atenção na marcação. As orientações não deram muito certo, e dois minutos depois o Grêmio igualou o placar com Douglas. O balançar da cabeça negativamente e o chute no ar deram o tom de reprovação. O lamento foi menor aos 31, quando Jonas colocou os gaúchos na frente e o treinador apenas coçou a cabeça.

A essa altura, os movimentos ainda eram leves e a paciência mantida com o mascar do chiclete. Ainda assim, o desconforto com a fragilidade do setor defensivo e a individualidade de Wellington Silva eram flagrantes.

No último minuto do primeiro tempo, um alento. Com a expulsão do gremista Rodrigo, a reação foi imediata: Muricy virou-se para o banco e mandou Equi Gonzalez se aquecer. Em seguida, pediu que a equipe tocasse a bola, ouviu o apito final e desceu, sem falar com a imprensa, para o vestiário.

No segundo tempo, o verdadeiro Muricy

Com Equi Gonzalez no lugar de Digão, Muricy Ramalho voltou para o segundo tempo mais elétrico. Fora da área técnica, ignorou a forte chuva e mandou o time para o ataque. Bastaram três minutos em campo para que o argentino, sua aposta, gerasse o primeiro gesto de irritação do comandante após um passe errado.

Aos sete, novo erro de Equi e uma reclamação ainda mais forte. Com a bola dominada, o meia tentou passe por trás da zaga, quando o técnico desejava uma simples abertura de jogada pela direita. A chuva apertou e as cobranças sobre o argentino também, aos 10, depois de mais uma posse de bola desperdiçada.

Muricy, inclusive, admitiu ao término da partida que a atuação de Equi Gonzalez, apesar do gol marcado, ficou abaixo das expectativas.

- A experiência era para o passe melhorar. Ele ainda errou alguns. Pela qualidade mostrada nos treinamentos, esperávamos um pouco mais nesse sentido. Um meia na posição que ele joga tem que se aproximar um pouco mais da área. Mas com os treinamentos o jogador melhora.

Ele reclamou também da falta de coletividade em alguns momentos. Muito disso pelas arrancadas de Wellington Silva. Aos 11, o jovem de 17 anos foi desarmado na ponta direita e recebeu o conselho para que soltasse a bola mais rapidamente. Pressão tricolor e, aos 14, sobrou mais uma vez para quem? Equi Gonzalez.

O jogador chutou nas alturas uma falta quase na linha da grande área. Muricy, já de capuz, fez um olhar de reprovação para o banco e passou a caminhar de um lado para o outro. Até que, aos 20, convocou Adeílson e Willians para mudar o panorama do jogo. Gesticulando com os braços, pediu mais toque de bola, mas ganhou em troca o terceiro gol do Grêmio, novamente Douglas.

Da tribuna de imprensa, radialistas gaúchos zombavam da estreia do comandante:

- Deu pra ti, Muricy. Está decretado que vai para Porto Alegre apenas passear e rever os amigos – diziam nos microfones.

Porém, nem tudo estava perdido. Aos 32, o tão criticado Equi aproveitou bola escorada para trás e colocou o 3 a 2 no placar. Muricy Ramalho pouco comemorou, pediu calma ao time, tirou o agasalho e o jogou no chão.

Impaciente, lamentou chances desperdiçadas por Adeílson, André Lima e Willians, caminhou de um lado para o outro, acelerou um gandula em uma reposição de bola, mas não conseguiu evitar a estreia decepcionante.

Ao apito final do árbitro alagoano Francisco Carlos Nascimento, resignação. Muricy virou as costas e desceu o túnel dos vestiários sem falar com ninguém. Talvez já pensando no que fazer para aproveitar a segunda chance, quinta-feira, às 21h50m (de Brasília), no Olímpico, contra o próprio Grêmio. Afinal, não há tempo para perder, e “seu nome é trabalho”.

Por: Cahê Mota

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