Um dia de R10: o golaço, a dança e a festa, por André Lima

Um dia de R10: o golaço, a dança e a festa, por André Lima

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:22

André não tem dúvidas de que foi um dos jogos

da vida dele (Foto: Bruno Junqueira / TRATO.TXT) Sabe-se lá o tamanho do desespero que invadiria o coração dos gremistas se eles fossem informados, antes do reencontro com Ronaldinho, que chegaria o momento em que um jogador dominaria a bola na altura da intermediária, daria uma janelinha no marcador e em seguida bateria colocado, no canto do goleiro. Só poderia ser coisa do R10. Ou, vá lá, do AL99. Em um dos jogos mais emblemáticos da história recente do Grêmio, André Lima teve uma tarde de Ronaldinho Gaúcho. Foi ele o grande nome da vitória de 4 a 2 sobre o Flamengo.

Um dia depois, em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, o jogador falou sobre a partida, sobre os dois gols marcados por ele. E sobre a dança. Em um dos gols, André Lima fez o “parado na esquina” ( assista ao vídeo no blog Meio de Campo ), como o flamenguista costuma fazer. Provocação? Que nada. O jogador garante que foi uma homenagem à filha mais nova dele, fã do craque rubro-negro.

- Mas entre o Ronaldinho e o pai, ela prefere o pai – sorriu o jogador.

Confira abaixo a íntegra da entrevista com o centroavante, autor de quatro gols nos dois últimos jogos. Ele fala sobre seu momento no clube, a expectativa pela permanência, a relação com uma torcida da qual ele sempre tenta se aproximar e a polêmica do “fala muito” – a declaração dada depois de um gol sobre o América-MG, há duas semanas.

Para a torcida do Grêmio, talvez tenha sido o jogo mais emblemático dos últimos anos. Falava-se só em Ronaldinho. Mas o grande nome do jogo foi você, com dois gols, um deles um golaço. O que representa pra ti isso?

Muita coisa. O Ronaldinho voltar para cá depois de anos, e vestindo outra camisa ainda... A relação entre Ronaldinho e torcida era uma coisa à parte. Querendo ou não, a gente se envolve. Dentro do campo, temos que respeitá-lo. Sabíamos que o time do Flamengo não era só o Ronaldinho. A briga dele com a torcida era uma coisa extra. A gente se preocupou só em jogar. Saímos perdendo de 2 a 0, conseguimos virar do jeito que foi, com um espetáculo da torcida e de todos os jogadores. Foi um dos melhores jogos do campeonato.

Vocês ficaram mais motivados por causa de toda essa rusga? Isso mexeu com vocês?

Quando a torcida comparece, é nosso 12º jogador. Se ela entender que vai nos ajudar sempre que vier ao Olímpico, deixando o estádio do jeito que estava, nos apoiando, vamos dar cada vez mais nosso máximo. Sempre tentamos, mas tem dia que não conseguimos. Tenho certeza de que foi um grande jogo. Todos saímos muito felizes.

O segundo gol, com uma janelinha e um chute colocado, foi um gol de Ronaldinho Gaúcho?

Foi um gol de André Lima (risos). Ronaldinho é Ronaldinho, André é André. Mas foi um dos gols mais bonitos que fiz até hoje. Fico feliz de ter ajudado.

Em um dos gols, você se aproxima da torcida e faz a dança que o Ronaldinho costuma fazer. Foi uma corneta? Foi uma homenagem? Por que aquilo?

Não, não. Na verdade, fiz duas danças. Uma das minhas filhas, a mais velha (Agatha), pediu a primeira. E a outra foi porque minha filha caçula (Lívia, de três anos) gosta muito do Ronaldinho. Fiz para homenageá-la. Acabei juntando uma coisa à outra. Não teve nada de provocativo.

Como foi isso? Tua filha gosta muito do Ronaldinho, e aí vem uma semana em que você o enfrenta. E você vai melhor do que ele. Teve corneta em casa?

Não. Ela é muito nova. Não sabe nada de futebol. É uma criança. Mas entre o Ronaldinho e o pai, ela prefere o pai.

André Lima garante que dança não foi provocação a R10 (Foto: Bruno Junqueira / TRATO.TXT) Nos dois últimos jogos, você fez quatro gols. Nos aproximamos do final do ano. O que você ainda espera de 2011? O que pretende mostrar?

Infelizmente, no futebol, você tem que matar um leão a cada dia. Se eu não for bem no próximo jogo, serei cobrado. Tenho metas a cumprir. Devido à lesão, tive que refazer as metas. O natural é que depois de cinco meses parado, eu venha a crescer. Infelizmente, o campeonato está acabando. Mas temos ambições, tanto eu quanto o Grêmio.

Que metas são essas?

Isso eu só digo dia 4 de dezembro, depois do Gre-Nal.

Você tem a convicção de que será jogador do Grêmio no ano que vem?

Contrato eu tenho. Vai até 2013. Se vou continuar ou não, é uma pergunta que tem que ser feita ao presidente, ao Celso. A vontade eu tenho. Se vai ter algum tipo de proposta, se o Grêmio vai me mandar embora, não sei. Tenho contrato.

Você está satisfeito com teu desempenho? Depois de cinco meses parado, eu me sinto muito bem. Acho que estou muito bem. Estou num crescente muito grande. É claro que tenho que melhorar algumas coisas, algumas partes que não vou citar. Em função da lesão, meu joelho incha um pouco. São coisas normais. O médico disse para eu ficar tranquilo. Espero continuar crescendo, ajudando como venho ajudando.

Você sabe melhor do que qualquer pessoa que convive com críticas. A impressão que eu tenho é de que isso te incomoda. Está certa minha impressão?

Não, cara. Não me incomoda. Só me motiva mais a mostrar às pessoas que elas estão erradas. De vez em quando, o silêncio é a melhor resposta. Uma coisa é escutar de uma pessoa que jogou bola, que entende... Eu evito ler jornal, ver televisão, comentários, jornalistas, porque você escuta coisas de que não gosta. O silêncio é a solução de tudo. Tenho trabalhado em silêncio, dando resultado dentro de campo. Não tenho que agradar jornalista. Tenho que agradar quem me paga, que é o Grêmio, meu treinador, o Celso, minha torcida. Na hora em que tiver que ser criticado, vou ser criticado, vou baixar a cabeça, vou seguir meu trabalho, para que no próximo jogo eu possa mostrar que também sou merecedor de elogios.

André Lima comemora gols em jogo histórico para a torcida do Grêmio (Foto: Ag. Estado) Depois de um gol contra o América-MG, você soltou aquele “fala muito”. Muito se disse de que foi para a imprensa, até para o Borges. Para quem foi?

Quem tem boca, fala o que quer. Depois do jogo, o Bruno (Junqueira, assessor de imprensa do jogador) me ligou desesperado, perguntando se era para a imprensa. Não tem nada. Era para um familiar meu, que estava me enchendo o saco, e eu disse que falaria se fizesse o gol. Depois disso, eu já pensei: “Meu Deus do céu, vão começar a falar um monte de besteira”. E foi o que aconteceu. Falaram que foi para a torcida, para o presidente, para isso, para aquilo. Mas é como disse: o silêncio é o melhor remédio. Não era para ninguém específico. Era para um familiar meu. Nem vou dizer quem é. Já dei muita moral para ele. Já está saindo coisa dele. Não posso dar mais moral para ele.

Você parece querer estabelecer uma relação muito forte com a torcida do Grêmio. Contra o Flamengo, até pegou uma bandeira do Rio Grande do Sul. Sempre vibra muito perto dos torcedores. Por que isso?

É meu jeito. Gosto de conviver com isso. Fui torcedor. Sei o quanto é importante um jogador se identificar com a torcida. Nunca escondi que sou botafoguense. Minha família toda é botafoguense. Já fui ao estádio torcer para o Botafogo. Acho muito importante isso. Se todo jogador tivesse noção de como é importante para a torcida, ainda mais aqui no Sul, com o Gre-Nal, com dois clubes... Essa paixão é muito importante. Penso que com a torcida nos ajudando, a gente a ajuda. Minha identificação com a torcida é muito grande. Desde que coloquei os pés aqui no Olímpico, a torcida me ajudou. Dentro de campo, pude mostrar meu jeito de ser, guerreiro, de nunca desistir. Não é por acaso que a torcida vem me ovacionando, me aplaudindo, me apoiando. É claro que dentro dos jogos eu tento fazer o máximo por ela, que é o gol.

O que te pareceu a reação da torcida com o Ronaldinho? Achou justa? Exagerada? Normal?

Cara, acho que é normal. Depois de tantos anos, ele voltar do jeito que voltou... Houve a expectativa de ele retornar, depois de tantos anos, e acabou não se concretizando. Acho que foi uma manifestação bem tranquila. Não passou dos limites dos protestos, das faixas. Dentro de campo, a gente só se preocupou em jogar bola, respeitando o Ronaldo e todos os jogadores do Flamengo. Foi o espetáculo que todo mundo viu. Nas arquibancas foi um espetáculo também.

Daqui a uns anos, quando você lembrar desse jogo, vai lembrar do quê?

Dos gols. Vou lembrar do momento, do jeito que foi. É um jogo que vai ficar marcado na minha vida.        

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